A Romaria Diocesana não se encerra com a procissão que aconteceu na tarde do último domingo, 20 de agosto. Depois do evento principal, o tema “Com Maria nos Livramos de Novas Escravidões”, deve ser debatido pela igreja em seus 45 municípios, mais de 50 paróquias e 230 comunidades na zona urbana e rural. Bem como os clamores apresentados pelos fiéis em forma de cartões que foram depositados na base do cruzeiro da primeira igreja de Jales que está localizado dentro da Catedral Diocesana. “Agora vamos trabalhar essa temática porque temos o tempo pós-romaria. Temos que olhar todos esses clamores, esses problemas apresentados. Cada comunidade, cada grupo, cada pastoral e movimento deve ser encontrar e analisar mais profundamente a problemática aqui apresentada para que possamos realizar ações pessoais e coletivas para a construção de relações muito mais justas e fraternas em nossa sociedade”, explicou o bispo diocesano Dom Reginaldo Andrietta.
A 33ª Romaria Diocesana marcou os 57 anos da instalação da Diocese de Jales, celebrando também o Ano Mariano e os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba do Sul, como também o encerramento do Ano Vocacional Diocesano.
Contagem feita pela Diocese estima que aproximadamente 18 mil pessoas participaram da caminhada, que começou pouco depois das 14 horas, com uma rápida celebração na Avenida Salustiano Pupim, em frente ao Lar Transitório São Francisco de Assis, e se encerrou na Praça da Catedral. Pela primeira vez, choveu durante a concentração na praça, mas ainda assim, a água não afastou os fiéis. “É água benta que veio para abençoar a nossa Romaria”, disse o bispo emérito, Dom Demétrio Valentini.
A temática da Romaria vinha sendo discutida em textos publicados pelo bispo ao longo das últimas semanas, no qual o religioso faz uma comparação com a humilhação sofrida pela mãe de Jesus e uma alusão ao tempo da escravidão africana do Brasil, durante o qual foi encontrada a imagem negra de Maria, em 12 de outubro de 1717.
“Por meio da figura negra de Maria, Deus manifestou sua solidariedade ao povo oprimido, ouviu o seu clamor e desceu para libertá-lo, assim como fez no tempo da escravidão dos hebreus no Egito. A Igreja, guiada pelo Espírito Santo, dá continuidade à essa missão”, escreveu.
“Hoje estamos submetidos a novas escravidões causadas sobretudo pelo atual sistema econômico, cujo centro é o dinheiro, não a pessoa humana. Enquanto os organismos financeiros lucram altamente, a miséria assola grande parte da população. Ladrões que fazem suas tocas em nossos governos, defendem interesses de conglomerados econômicos e retiram direitos da classe trabalhadora”, sublinhou.
Para o líder da Igreja Católica na região, a Romaria não é apenas uma expressão de fé, mas também um clamor do povo em favor de dias melhores. “Além dos nossos clamores a Deus, que devem se espalhar por todos os cantos, também assumimos os compromissos de ação”.
Esses compromissos foram lidos em coro ao final da Romaria. De forma geral, eles convocam os fiéis a assumir a sua responsabilidade e a promover ações organizadas, exigindo que os governantes, deem atenção às reivindicações do povo da região e que administrem com honestidade o estado e a nação. “Lutaremos por condições dignas de trabalho e pela justa aposentadoria, exigindo nossos direitos de participação e cidadania,
Agiremos de modo organizado para acabar com a carestia, exigindo uma grande mudança nos rumos da nossa economia. transformando nossas cidades e campos com os princípios da ecologia, defendendo com coragem a nossa democracia”. (Com informações de Edivaldo Mella Janasco e Vitor Inácio).
