Falar de sonhos é acreditar, sempre, no que podemos fazer, afinal, “sonhar é a legítima defesa do espírito”. Em nossa trajetória de vida, elementos vão se aglomerando, e reunidos, quase sempre designam uma história. Na minha, por exemplo, esta semana à lembrança presente é que na minha época de adolescente em muitas cidades o calor humano era mais intenso do que hoje, e eram muito criativas na área da educação, da musica, da cultura, etc. As melhores escolas eram as do estado. O aluno tinha que fazer: Primário, Admissão, Ginásio e o Científico, depois Colegial, ele tinha aulas de manhã e a tarde. Produção, vontade, criatividade, sempre foram nosso lema naquela época. Cada novo dia, novas ideias surgiam. Mas, também tínhamos outras preocupações além dos os estudos, os cabelos compridos, conseguir descolar uma calça Lee ou Levi’s (do Eurico/Paraguai) – porque elas eram as únicas que desbotavam – e saber onde seria o bailinho do próximo final de semana, porque neles muitos namoros começavam. O “barato” nesses bailinhos era dançar de rosto colado. O rapaz segurava a mão direita da garota colada ao peito dele, corpos juntinhos, era o famoso mela, mela, porque para dançar quase não se saía do lugar. Bem baixinho eram ditas as primeiras palavras no ouvido dela e, se o papo dele fosse bom, quem sabe ela aceitasse um convite pra tomar uma Cuba Libre ou Campari e, para os mais durangos, só restava oferecer uma simples Coca-Cola. Tudo na vida deles dois poderia começar a mudar depois disso.
A música estava na vida de todos os adolescentes daquela época, alias à boa musica, pois tínhamos aulas de música nas escolas. Em Jales, nosso grande animador cultural/musical foi o Prof. Ariovaldo, nosso querido Tatinha, que ensinou para muita gente o caminho das pedras nesta área, desde Mozart, Bach, Beethoven, Chopin passando por Noel Rosa até Chico Buarque.
Lembro-me que primeiro festival de musica estudantil em Jales foi realizado, sob sua batuta, no Cine Jales. Saudades… E, por falar em festival, é obvio que tivemos outras influências musicas, como os Beatles, o melhor da Jovem Guarda, Bossa Nova, festivais da TV Record e também o festival de Woodstock. Mas, como as informações do mundo chegavam atrasadas por aqui, nós só vivemos a influência disso tudo nos anos 70, com o Paz e Amor – Hippie, camisa estampada com flores, bolsa tiracolo e chinelos em couro cru entre outros. Enquanto isso, por conflitos de egos, Paul MacCartney queria o fim dos Beatles.
Musica é vida, é tudo. A música e o silêncio caminham juntos. Um grande pensador Jalesense, meu guru da época, precocemente falecido, dizia: “o silêncio só consegue superar a beleza de música, porque ele é a própria música em descanso”.
Desde 2011, queridos leitores, partituras musicais e instrumentos já podem fazer parte da lista de material escolar do seu filho. E não estranhe se ele estiver praticando percussão e argumentar que é lição de casa. O ensino de música, tão importante para o estímulo e formação cultural, tornou-se novamente obrigatório nas escolas.
Como muitos dos leitores talvez não saibam, há uma lei (já sancionada) da obrigatoriedade de inclusão de aulas de música nas escolas. Mas que tipo de música? Minha preocupação é saber o que vai ser ensinado por aqui? Um bom exemplo já foi dado no Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Ricardo Cravo Albin será levado para as salas de aula o projeto MPB nas Escolas, com a proposta de ensinar a origem da música popular, seus compositores e como eles influenciaram na formação da identidade cultural dos brasileiros. “A proposta de ensinar a história da MPB nas unidades da rede estadual irá enriquecer a cultura musical dos nossos jovens, além de relacionar o que é dito nas letras com conteúdos de disciplinas como história, língua portuguesa e literatura”. E o que ensinar sem antes, preferencial e estrategicamente, formar/informar os alunos sobre uma história de sedução, a da MPB? A bela história de nossa música que foi absorvida com precisão pela miscigenação, sinalizadora preferencial da própria nacionalidade. Os estudantes terão a oportunidade de descobrir artistas de papel fundamental na MPB, dos mais diferentes gêneros. As aulas também vão resgatar as manifestações folclóricas, com suas músicas, coreografias e danças, destacando sua importância na preservação de valores e tradições. Musica… É isso!
*Marco Antonio Poletto é Gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural