São-francisquense de nascença, mas cidadã jalesense desde os 14 anos de idade, a personagem desta semana ocupa há mais de quatro anos, um dos cargos de gestão mais difíceis da cidade. Ela é Eleandra Maschio, gerente da Jales Park, empresa que detém os direitos de administração das vagas de estacionamento no centro da cidade. Sob a sua batuta, uma equipe de 15 funcionários, quase todas mulheres, que monitoram a rotatividade dos carros estacionados e também são monitoradas por um sofisticado sistema eletrônico. Na sua sala ficam ligados pelo menos seis monitores de computador que mostram em tempo real toda a movimentação das “meninas” e dos cerca de 2.500 veículos que usam as vagas diariamente. Por contrato, cada monitora pode fiscalizar até 80 vagas.
Sem revelar números, Eleandra elogia a capacidade de atração que Jales exerce, não só sobre cidades menores, mas também algumas maiores. “O comércio de Jales é muito forte mesmo e os nossos números comprovam isso. Registramos veículos de Fernandópolis, Votuporanga e todas as outras cidades próximas e distantes, como Aparecida do Taboado-MS e aos sábados, a nossa arrecadação é maior do que a da nossa matriz em Araçatuba”, diz.
A Tribuna: O que uma monitora pode fazer e o que não pode? As pessoas confundem um pouco a função de monitora com a de guarda de trânsito e acham que elas podem multar uma moto que estacionou fora do bolsão ou uma caminhonete que está ocupando duas vagas.
Eleandra Maschio: A gente não tem autonomia para fazer esse tipo de autuação. Cabe até uma orientação para a PM não autuar depois. As monitoras fazem a venda dos tickets, a fiscalização dos veículos, podem baixar o aplicativo e orientar como usar, vender o nosso cartão pré-pago recarregável de estacionamento e explicam como funciona a zona azul.
O cartão pré-pago funciona como cartão telefônico. A pessoa compra o cartão e pode recarregar, pagando em dinheiro, nos pontos de venda, com cartão de débito ou crédito, aqui na central e com as monitoras. Quem colocar uma carga de R$ 10,00 no primeiro cartão, não paga o cartão. Depois disso, o condutor pode colocar até R$ 0,50 de carga.
A Tribuna: Com as monitoras é possível adquirir o ticket e pagar com cartão?
Eleandra Maschio: Sim. Com as monitoras e aqui na central, é possível adquirir o ticket de estacionamento da área verde, que é R$ 1,00, pagando com cartão de crédito, inclusive por aproximação.
A Tribuna: Se uma pessoa que vem de outra cidade e não conhece o sistema, ele pode ser orientado pela monitora?
Eleandra Maschio: A monitora dá todo o suporte sobre como adquirir o ticket e usar a vaga, o tempo de uso, valores etc.
A Tribuna: Se eu estacionar na área azul, eu posso ir para a área verde com o mesmo ticket?
Eleandra Maschio: Na verdade, são áreas independentes, mas o Código de Defesa do Consumidor diz que se eu paguei por um serviço valor maior, no caso a Área Azul (R$ 1,50), eu posso usar o de valor menor, que é a Área Verde (R$ 1,00). Mas o contrário, não vale. A pessoa teria que pagar a diferença, mas como não existe essa opção, ela tem que comprar um novo ticket.
A Tribuna: Muita gente reivindica que poderia haver cobrança de tempo fracionado. Se eu estacionei por meia-hora, por que eu não posso pagar somente meia-hora?
Eleandra Maschio: É uma questão jurídica porque é uma lei, uma licitação que foi disputada e vencida pela empresa, então não cabe à empresa, mas pelo aplicativo, é possível receber de volta parte do crédito que não foi usado a partir do valor mínimo de R$ 1,00.
A Tribuna: Há pontos de venda suficientes?
Eleandra Maschio: Sim, temos um ponto de venda para 25 vagas, conforme prevê o contrato. Mas temos estrutura e total interesse de ampliar muito mais o número de pontos de venda. Eles são como monitoras fixas e o condutor não precisa ficar procurando uma monitora. Basta ir até um ponto de venda com o número da placa e adquirir o ticket.
A Tribuna: O que o comerciante ganha sendo um ponto de venda?
Eleandra Maschio: Ele vai atrair mais visitantes para o seu estabelecimento, recebe em dinheiro, à vista, ganha uma comissão das vendas, e paga a gente com prazo e no boleto e não precisa fazer nenhum investimento porque todo o equipamento é nosso. Quem tiver interesse é só entrar em contato, pode mandar recado pelas monitoras, vir aqui na central.
Eleandra ressalva que o aplicativo é a forma mais confortável de adquirir o ticket de estacionamento. Através dele, o condutor pode monitorar o tempo usado e ser alertado para a proximidade do fim do prazo, pode colocar o ticket sem sair do carro, pode cadastrar vários veículos e vários usuários no mesmo aplicativo e não precisa acionar as monitoras ou ir até um ponto de venda.
A Tribuna: Você poderia explicar o que são os R$ 14,00 que consta no aviso que as monitoras deixam no carro da pessoa que não pagou o ticket ou não renovou?
Eleandra Maschio: O que é deixado no veículo é uma notificação, o Aviso de Cobrança de Tarifa (ACT), informando que o condutor precisa regularizar a situação perante a Zona Azul. A empresa não tem autonomia para aplicar multa, porém o equipamento que a gente usa é convalidado pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito) então esses avisos são válidos para efeito de convalidação da multa. Perante a lei do estacionamento rotativo, é como pré e pós-pago. O pré-pago da Área Azul é R$ 1,50 e o pós-pago é R$ 15,00. O pré-pago da Área Verde é R$ 1,00 e o pós-pago é R$ 10,00. Isso dá 48 horas úteis para ser regularizado, antes de ser comunicado à Prefeitura que é quem pode convalidar a multa.
A Tribuna: Durante a pandemia, muita gente reclamou que não viu a notificação no seu carro e não recebeu pelo Correio o aviso da multa e só descobriram quando foi fazer o licenciamento. O que aconteceu?
Eleandra Maschio: Sobre o recebimento da correspondência, não cabe a empresa. Isso quem faz são os órgãos de trânsito. Sobre a notificação (ACT), a empresa tem todos os registros de georreferenciamento, fotos etc e, vale ressaltar, que não interessa para a empresa que o motorista recebera a multa porque não vai para a empresa. Ela perde receita com a multa. Os valores dos tickets e da regularização do ACT vão para a empresa, mas o das multas a gente não tem nenhuma participação.
A Tribuna: Não adianta reclamar em redes sociais, não é mesmo?
Eleandra Maschio: Redes sociais é uma coisa bacana, mas a melhor forma é procurar a empresa. É aqui que estão os registros e onde será possível esclarecer qualquer dúvida e prestar toda as orientações. Aqui, nós damos orientações sobre como recorrer na Prefeitura e até ajudar a preencher o formulário de recurso. A nossa intenção é ajudar.
A Tribuna: Nesta semana, tivemos um caso polêmico, no qual uma condutora partiu para as vias de fato contra uma monitora. As monitoras são orientadas a tomar que tipo de atitude nessas ocasiões?
Eleandra Maschio: A gente passa por várias situações, inclusive aqui dentro, mesmo com câmeras. São situações que fogem ao nosso controle. Não tem como a gente controlar a reação das pessoas. Eu não vou fazer julgamentos de nenhuma das partes, mas a orientação que a gente dá é para, quando perceber que o condutor está alterado, para tomar um distanciamento, entrar num estabelecimento para se proteger. Estamos prestando toda a assistência para a menina porque ela é uma ótima funcionária e ótima pessoa e a gente quer muito que ela volte. Demos uma semana para ela descansar e estamos torcendo para que ela volte.
É importante lembrar que as monitoras são seres humanos que deixam suas casas e famílias para trabalhar, muitas vezes no sol quente e merecem ser tratadas com respeito, sem ofensas e agressões. Assim como orientamos para que tratem os condutores.
A Tribuna: Você acha que o costume de pedir para as monitoras fazer vista grossa é resultado do “jeitinho brasileiro”, que está acostumado a burlar as leis, ou do antigo sistema administrado pela Casa da Criança, onde as pessoas desacatavam os meninos e não colocavam o ticket de estacionamento?
Eleandra Maschio: Eu acho que as duas coisas. Essa questão de pedir uma carência não é só da zona azul, mas gratuidade não existe e pisca-alerta ligado só nas vagas de parada rápida. Porém, o bom censo das duas partes é sempre aconselhável.
A Tribuna: No ano passado, imagino que houve uma queda significativa de arrecadação. Este ano já voltou ao normal? Como está o movimento de veículos em Jales?
Eleandra Maschio: A gente começou no dia 1º de outubro de 2018, e em 2019 tivemos um ano excelente, com comércio superaquecido e o fluxo de veículos bem alto. Em 2020 e 2021 caiu bastante e agora estamos recuperando, o movimento é de aproximadamente 2.500 a 3.000 veículos por dia na zona azul.
A Tribuna: É um número bom?
Eleandra Maschio: É um número excelente, pela frota de veículos e o porte da cidade. É que temos muitas cidades da região que frequentam Jales. Em torno de 53% dos veículos fiscalizados em Jales são de outros municípios. Desde Fernandópolis, Votuporanga, Aparecida do Taboado. O comércio aqui é muito bom. A nossa matriz é em Araçatuba, e quando as nossas diretoras vem a Jales, elas deixam para comprar aqui porque dizem que é melhor do que lá. Aos sábados, a nossa arrecadação é maior que a de lá. Além das pessoas que vem para tratamento de saúde.