A polêmica rotatória instalada no cruzamento da Rua Dez com Avenida Francisco Jalles está com os dias contados. A decisão foi tomada pelo Conselho Municipal de Trânsito (Comutran) na manhã de quarta-feira, 3 de junho, por sugestão do engenheiro e professor universitário Nilton Suetugo, que também é membro do Conselho de Transito e técnico em engenharia de tráfego que orienta as decisões do Conselho Municipal. Além de remover a rotatória, o Conselho decidiu proibir o retorno de veículos no local. Outras rotatórias não devem sofrer alterações.
Niltinho, com é conhecido, tem experiência no assunto. Foi secretário de Planejamento Desenvolvimento Econômico e Trânsito na gestão Guisso/Capparoz/Hilário, na primeira metade da década de 2000. Além de ser um dos poucos profissionais com curso de trânsito na cidade.
Ele foi contratado pela Prefeitura de Jales com o objetivo de atender a um Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público, que exigia, entre outras coisas, que o trânsito deixasse de ser administrado por curiosos e passasse para as mãos de um especialista com formação no assunto.
“O Conselho acatou a nossa sugestão e a Prefeitura deve remover a rotatória e interromper o retorno da avenida com as ruas. O cruzamento continua, mas a preferencial é a avenida. O motorista não poderá mais fazer o retorno como é atualmente”.
Segundo ele, a sugestão levou em consideração um estudo que encontrou nada menos que 32 pontos de conflito no cruzamento. Boa parte deles causados pela disputa entre pedestres e veículos que tentam fazer o contorno dentro da própria avenida. “De 32 conflitos, o risco cai para 18, então facilita o tráfego e reduz os riscos de acidentes, que já são baixos no local”.
O engenheiro reconhece que a medida não é a ideal, mas sim a que as possibilidades financeiras da prefeitura permitem neste momento. Para ele, somente um semáforo inteligente, interligado com os outros da avenida poderia regularizar o tráfego naquele trecho.
O sistema criaria o chamado “corredor verde”, no qual os semáforos de uma mesma via funcionam em sincronia, evitando paradas excessivas que podem tolher a fluência do tráfego.
Do contrário, substituir a rotatória por uma nova parada, sem um sistema inteligente, seria o mesmo que acrescentar mais uma parada às que já existem nos cruzamentos da Avenida João Amadeu, Rua Doze e Rua Oito.
“Eu não vejo aquela rotatória como uma boa solução. A solução mais adequada seria um sistema de semáforos sincronizados, fazendo com que o fluxo de veículos fosse mais organizado e mais claro para os usuários que estão no local. Infelizmente, as dificuldades financeiras do município são muitas e o custo desses semáforos é elevado. Não é esse sistema mecânico que temos. É um sistema digital. Então fica inviabilizado nesse momento”, disse em entrevista à rádio Moriah FM.
O engenheiro ressalta que qualquer alteração no trânsito deve ser exaustivamente estudada e levar em consideração também o costume da população. “Acho complicado ficar mudando a toda hora porque transito também é questão de usos e costumes, então as mudanças têm que ser as essenciais”.
As outras duas rotatórias instaladas no governo da ex-prefeita Nice Mistilides, na Avenida João Amadeu próximo ao supermercado Proença e no acesso à Rua Quinze, não devem sofrer grandes mudanças. A única mudança pode ser adotada na primeira para aumentar ainda mais a segurança no local. A segunda permanece inalterada.
“Lá temos uma situação bastante adequada por causa das dimensões. O que temos verificado lá é um problema no contorno de quem vem do Jardim Estados Unidos e entra na Avenida João Amadeu. O ideal seria transferir o retorno para a rotatória que foi executada. Podemos fechar o transito de quem vem da João Amadeu para o Jardim Estados Unidos. É uma sugestão que deve ser discutida pelo Conselho”.
Decisão põe fim a uma polêmica que marcou o governo Nice
Na prática, o tráfego no cruzamento deve voltar a funcionar da mesma forma que era antes das polêmicas mudanças adotadas pelo então secretário de Planejamento e Trânsito, Aldo José Nunes de Sá.
No começo do segundo ano do governo Nice Mistilides, mais precisamente em 21 de janeiro de 2014, a Prefeitura, orientada pelo Conselho Municipal de Trânsito com a liderança da Polícia Militar, resolveu promover profundas mudanças no trânsito da cidade.
Entretanto, tais mudanças não foram implantadas de uma única vez e o processo levou meses até a instalação de rotatórias. A primeira medida foi a colocação de enormes tubos de cimento (normalmente usados para instalação de encanamento em ruas e avenidas) para bloquear o tráfego nesses locais. O cruzamento da Rua Dez com Avenida Francisco Jalles foi um desses pontos.
A insatisfação da população ficou evidente e sete dias depois, um homem destruiu parte dos tubos, que já tinham sido pintados de um amarelo bastante chamativo. Na ocasião, a polícia suspeitou que comerciantes da Rua Dez pagaram para ele fazer a manifestação. Eles estariam insatisfeitos com a queda no número de clientes. O homem foi preso por dano ao patrimônio público e nada ficou provado contra os comerciantes.
Dois outros ataques foram promovidos nos dias 29 e 3 de março, mas ninguém foi identificado. Porém, a pressão popular foi mais forte que a teimosia da prefeitura e, em 22 de julho, a Secretaria de Trânsito instalou uma surpreendente rotatória, que agora, um ano depois, será retirada.
A confusão foi tanta que, em meados de agosto do ano passado, a Prefeitura foi obrigada a promover uma campanha de esclarecimento para tentar “ensinar” os motoristas a usar o equipamento. A campanha incluía distribuição de panfletos, anúncios em jornal e rádio e, obviamente, seu custo saiu dos cofres municipais.