Em julgamento realizado na terça-feira, 5 de setembro, a 8ª Câmara Criminal Extraordinária do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negou provimento às apelações das defesas dos dois homens acusados do assassinato do caminhoneiro Marcos Adriano Longo, o “Curió”, e, ao mesmo tempo, deram provimento ao recurso do Ministério Público que pedia a condenação de um dos réus – Reginaldo dos Santos Montoro – pelo crime de latrocínio e o consequente aumento da pena aplicada a ele em novembro de 2015 pelo então juiz da 2ª Vara de Jales, Marcos Takaoka.
Enquanto o outro acusado – Cláudio Valentim Zuim – tinha sido condenado a 24 anos e 04 meses de reclusão, a condenação de Reginaldo, em Jales, foi de 11 anos, 05 meses e 10 dias, pelos crimes de roubo, corrupção de menor e ocultação de cadáver. No entanto, o Ministério Público de Jales, através do promotor Anderson Geovam Scandelai, apelou ao TJ-SP e obteve a condenação de Reginaldo também pelo crime de latrocínio – roubo seguido de morte. Com o provimento do apelo feito pelo MP, a pena de Reginaldo subiu para 24 anos e 04 meses de reclusão, a mesma do outro acusado. Participaram do julgamento os desembargadores Euvaldo Chaib (relator), Camilo Lélis (revisor) e Edison Brandão.
O Caso
O assassinato do caminhoneiro Marcos Adriano Longo, o “Curió”, ocorreu no dia 25 de janeiro de 2015, mas seu corpo só foi localizado cinco dias depois, em 30 de janeiro, após investigações da polícia que levaram à prisão de três suspeitos e a apreensão de um menor. Um dos suspeitos – Reginaldo dos Santos Montoro, à época com 24 anos – foi quem levou a polícia até o local em que “Curió” foi enterrado, à beira de um córrego, no bairro rural Açoita-Cavalos. Foi Reginaldo quem apontou, também, o local onde estava escondido o caminhão da vítima.
Segundo as investigações e a acusação do Ministério Público, na tarde de 25 de janeiro, Cláudio teria ligado para Reginaldo, convidando o amigo para participar de um roubo de gado em um sítio vizinho e prometendo R$ 6 mil como pagamento. De seu lado, Reginaldo convidou um menor de idade – R.M.B. – para ajudar na execução do roubo. A vítima – que não sabia dos planos dos três comparsas – foi contactada por volta das 17:20 horas para fazer um frete e, vinte minutos depois, após abastecer o caminhão, seguiu para o local combinado.
Em meio ao caminho – uma estrada de terra – ele avistou o menor, a quem não conhecia, parado ao lado de um carro, supostamente quebrado. Sem desconfiar que se tratava de uma emboscada, “Curió” parou para oferecer ajuda e, nesse momento, surgiram Cláudio e Reginaldo com os rostos cobertos, anunciando o assalto. Segundo os relatos, Reginaldo teria amarrado as pernas e os braços da vítima e, depois disso, ligou o caminhão e partiu rumo a Vitória Brasil, deixando os comparsas para trás, com a incumbência de amarrar “Curió” a um poste no meio de um canavial.
No entanto, depois da partida de Reginaldo, Cláudio teria decidido matar “Curió”, provavelmente porque a vítima o havia reconhecido. Ele desferiu, então, duas pauladas fatais na cabeça do caminhoneiro. Mais tarde, os três comparsas se reencontraram e, munidos de uma pá e um enxadão, voltaram ao local do crime para enterrar o corpo da vítima. Depois disso, eles combinaram de se reencontrar por volta das 23:30 horas para executar o roubo do gado. Eles roubaram 12 cabeças de gado, que foram descarregadas no sítio de uma quarta pessoa, acusada de receptação. Em princípio, Reginaldo e o menor confessaram à polícia terem sido os autores do assassinato, mas a polícia desconfiou da versão e eles acabaram apontando Cláudio como autor das pauladas que mataram “Curió”.
Caminhoneiro desconfiou
Por muito pouco, a vítima dos três comparsas poderia ter sido outro caminhoneiro. Depois de combinar o roubo, o acusado Reginaldo, identificando-se como “Guilherme”, ligou para o caminhoneiro Martins Flores, com o aparente objetivo de contratá-lo para fazer o transporte do gado. O experiente caminhoneiro desconfiou, no entanto, do serviço oferecido a ele e pediu para que o interlocutor ligasse um pouco mais tarde. Minutos depois, Reginaldo fez novas ligações, mas Martins Flores não atendeu.
Depois disso, Reginaldo resolveu ligar para “Curió”. Um dos motivos que levaram Martins Flores a desconfiar da empreitada oferecida por “Guilherme”, foi o fato de a ligação ter sido feita de forma restrita. As ligações de Reginaldo foram importantes para elucidação dos fatos. Ele foi preso preventivamente, depois de a polícia constatar – através da quebra do sigilo telefônico pela Justiça – as ligações de seu celular para Martins Flores e “Curió”.