A RUMO, concessionária da linha férrea que cruza a região noroeste paulista, informou ao jornal A Tribuna que pretende iniciar as obras de construção dos viadutos sobre os trilhos do trem e ampliação do pátio da antiga estação ferroviária ainda neste semestre. A conclusão está prevista para o final de 2023.
A informação foi dada através de nota enviada pela Assessoria de Imprensa da companhia em resposta a um pedido de informações feito pela nossa reportagem.
A primeira obra vai substituir a passagem em nível sobre a linha na Rua Maranhão, no Jardim Paulista 2, e vai ligar as ruas Goiás e Minas Gerais. O ponto é um dos mais críticos da região e onde já aconteceram inúmeros acidentes, inclusive descarrilamento de uma composição, atropelamentos e choque com veículos. O viaduto deve evitar que os trens bloqueiem a passagem.
A obra deve ser feita em duas etapas. Na primeira, a RUMO construirá apenas o pontilhão ligando as ruas Goiás, no Jardim Estados Unidos, e Minas Gerais, no Jardim Paulista. Essa fase é considerada mais rápida.
Nesse caso, o acesso ao pontilhão, que passará sobre a linha férrea, ficaria semelhante ao início do pontilhão Antônio Amaro, na Avenida Francisco Jalles, e o acesso seria regulado por meio de sinalização semafórica simples.
A segunda fase não tem data estimada e pode demorar muito mais tempo para ser concluída. Nessa etapa, a RUMO deve construir uma espécie de rotatória ou alça de acesso na Rua Goiás.
A RUMO confirmou a construção de um segundo viaduto ligando a Rua Osvaldo Cruz à Avenida Jânio Quadros. Além da ampliação do pátio de manobras na antiga estação ferroviária, que, a grosso modo, vai dobrar o espaço de parada das composições. Atualmente, existe apenas uma única linha ativa, o que impede que uma composição se desloque, desimpedindo a passagem de outra.
Em 2020, ocasião em que também era secretário de Obras, o engenheiro Manoel Andreo de Aro disse ao jornal A Tribuna que a construção do pontilhão é necessária para atender a ampliação da capacidade de cargas das composições da companhia. “A composições virão maiores e com mais vagões, então o pátio da estação vai aumentar e as futuras composições, quando estiverem paradas, vão fechar a passagem da Rua Maranhão, que existe atualmente. Mesmo que os trens parem aqui na estação, a traseira dele vai bloquear a Rua Maranhão. Então só será possível atravessar a linha pelo pontilhão, por isso será necessário criar uma passagem sobre a linha”.
A situação deve piorar já que a capacidade das composições está aumentando e a expectativa da companhia é crescer pelo menos 10% neste ano. Atualmente, a RUMO atua com locomotivas AC44 fabricadas pela multinacional Wabtec Corporation com capacidade para trens de 120 vagões. Os vagões são do tipo hopper HPT que medem pouco mais de 13 metros cada um, portanto uma composição de 120 vagões mede quase 1,6 quilômetros, sem contar a locomotiva. São essas composições que percorrem as chamadas Operação Norte e Operação Central, que ligam respectivamente Rondonópolis-MT e Porto Nacional-TO ao Porto de Santos, exatamente o trajeto que passa pelo noroeste paulista.
O problema é antigo e não é a primeira vez que a empresa promete o início das obras. Apesar de terem sido anunciados várias vezes nas últimas décadas, com grande alarde, muitas fotos, entrevistas e muita propaganda, por prefeitos que queriam engrossar as suas campanhas à reeleição, e por deputados que queriam se apresentar como o “pai da criança”, até agora nenhuma atitude concreta foi tomada.
Muitas pessoas continuam tendo o seu direito de locomoção tolhidos autoritariamente. Muitas outras perdendo a vida. Há cerca de duas semanas, um acidente com um veículo em Urânia paralisou a composição por horas e dezenas de motoristas e pedestres foram impedidos de atravessar a linha para chegar aos seus destinos. Tanto a passagem da Avenida Minas Gerais para a Rua Goiás, entre o Roque Viola e o São Gabriel, quanto na Rua Hermínia Pêgolo, no Jardim Pêgolo II, e a Rua Madri, na Vila Nossa Senhora Aparecida da Boa Vista, ficaram bloqueadas pelo trem.
Em Jales, a morte mais recente aconteceu em um sábado, 11 de dezembro de 2021, na altura da Travessa João Balbino, bem perto do conjunto habitacional da Rua Professor Rubião Meira, conhecido como “Predinhos do Jardim Paraíso”. A vítima foi José Quintino dos Anjos Júnior, de 53 anos. “Zezinho” teria cometido suicídio,
A ampliação do pátio de manobras e os viadutos sobre a linha férrea que cruza as várias cidades paulistas por onde passa a linha explorada pela Rumo fazem parte de um compromisso da companhia com o ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para renovação antecipada da concessão da malha paulista, assinada em 27 de maio de 2019.
A empresa detinha a concessão para o uso da malha ferroviária paulista até 2028 e negociou a renovação do contrato, antecipadamente, até 31 de dezembro de 2058. Para isso, aceitou promover intervenções para resolver conflitos urbanos (impactos gerados sobre o trânsito ou sobre a circulação de pessoas) nas cidades que atravessa. Uma dessas intervenções é exatamente a construção do pontilhão em Jales. Mas não apenas Jales. A malha ferroviária paulista atravessa outras 70 cidades que também devem ser beneficiadas. Esses investimentos são estimados em R$ 2,6 bilhões.
Caso não cumpra o acordo para resolver os conflitos urbanos, a concessionária poderá ter o contrato encerrado por determinação da ANTT ou ter que reduzir proporcionalmente o prazo final da concessão.
DESAPROPRIAÇÃO
No ano passado, a Agência autorizou a desapropriação de duas áreas no município de Jales para construção de um dos viadutos anunciados. A concessionária da linha férrea foi autorizada a invocar o caráter de urgência no processo de desapropriação.
A Deliberação nº 153 foi publicada no Diário Oficial de União em 28 de abril e declara de Utilidade Pública para efeito de desapropriação e afetação para fins ferroviários duas áreas (de 2.167,89 m² e 1.893,99 m²) referentes ao viaduto ferroviário do quilômetro 373+035. O jornal apurou que a localização se refere à travessia do ponto que liga a Rua Dois (entroncamento com Avenida Jânio Quadros) e o Jardim Estados Unidos, nas proximidades da Rua Osvaldo Cruz.
Nota à Tribuna
A concessionária informa que o projeto de engenharia para a ampliação do pátio ferroviário no município de Jales (SP) está em andamento, e que nele está contemplado um viaduto para ligar as ruas Goiás e Minas Gerais. A previsão é que as obras tenham início neste primeiro semestre e sejam concluídas até o final de 2023. Também está em andamento um projeto para a construção de um segundo viaduto, este ligando a Rua Osvaldo Cruz à Avenida Jânio Quadros. O detalhamento e cronograma dessa obra ainda serão definidos pela Companhia.
Assessoria Imprensa Rumo