“Eu sei que eu peguei pesado, mas eu tenho a humildade de dizer na frente de todos: ‘o senhor me perdoa, viu doutor”. Foi com essa demonstração pública de humildade do presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Jales e Região que começou a derradeira reunião de quinta-feira entre a categoria, vereadores e prefeitura. A reunião resultou no acordo coletivo que estipulou o reajuste salarial de 2015. Callado, por sua vez, pediu desculpas por não ter conseguido se fazer entender na segunda-feira e pediu que os servidores o “tolerassem”.
Logo depois das escusas de ambas as partes, os servidores aceitaram por unanimidade a proposta oferecida pelo prefeito e afastaram qualquer ameaça de greve. Ficou acertado que a categoria receberá reajuste de 7,14% retroativos à folha de janeiro, mas pagos em março, além de reajuste de R$ 30,00 na cesta básica, que era de R$ 130,00 e extensão da cesta básica a todos os aposentados que recebem até R$ 1.200,00. O prefeito se comprometeu a enviar imediatamente para a Câmara um Projeto de Lei determinando que nenhum servidor receba abaixo de um salário mínimo nacional.
Três dias antes, José Luis Francisco havia extrapolado os limites do diálogo e encerrado a assembleia dos servidores aos gritos e tapas na mesa, praticamente expulsando o prefeito Pedro Manoel Callado Moraes da assembleia. (leia texto nesta página). Ele entendeu que o prefeito não cumpriu a promessa que teria sido feita numa reunião na sexta-feira anterior.
A postura, entretanto, era totalmente diferente na assembleia de quinta-feira. “Eu também peço as minhas desculpas a vocês servidores, só que é com essa luta que o salário de vocês é o que é hoje. Lógico que às vezes a gente extrapola, mas eu peguei pesado com os outros prefeitos e se vocês tiveram os reajustes que tiveram é porque nós demos a cara aqui”, disse o presidente.
Segundo José Luis, o “exame de consciência” começou a ser feito na noite de quarta-feira e logo na manhã seguinte, ele enviou uma mensagem via WhatsApp, retomando o diálogo, que resultou no acordo. “Eu conheço do Dr. Pedro e tenho ele como um ídolo, então eu pensei : tem alguma coisa errada aí. Isso não pode ficar assim. Então nos desculpamos e o importante é que através do diálogo conseguimos resolver. Ele demonstrou o ser humano que é. Agora não temos mais um lado de lá. Estamos todos do mesmo lado. Servidores, câmara e prefeito”.
Os vereadores Gilberto Alexandre de Morais (DEM), Jesus Martins Batista (DEM) e Luiz Fernando Rosalino (PT) participaram da reunião. Os três elogiaram a disposição das partes em deixar as desavenças de lado e selar a paz em prol de um acordo coletivo.
Primeira assembleia terminou em gritaria
Antes do acordo fechado nesta quinta-feira, a primeira assembleia realizada entre servidores e o prefeito terminou mal. O presidente do Sindicato da categoria não gostou da proposta apresentada pelo prefeito Pedro Callado. Exaltado, José Luís Francisco acusou o prefeito de tê-lo enganado. “O senhor está achando que nós somos trouxas, nós não somos”.
O desentendimento foi motivado por um suposto recuo do prefeito sobre a proposta definida em reunião preliminar na sexta-feira anterior e a que foi apresentada à categoria quatro dias depois.
Segundo José Luís, o índice inicial era composto por reposição de 7,14% retroativos a janeiro (data base da categoria) e 0,86% em agosto. Pedro Callado nega. Diz que houve apenas uma conversa preliminar e que os números precisariam ser submetidos à Procuradoria Jurídica e à Secretaria de Finanças, antes de ser ratificado na assembleia. A assessoria financeira teria aprovado o percentual, mas a assessoria jurídica teria vetado, sob alegação de que o índice poderia fazer a Folha de Pagamento ultrapassar os limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Também havia discordância sobre o período cuja inflação deveria ser reposta. Enquanto o Sindicato contava os 12 meses anteriores à data-base, a administração acreditava que a reposição deveria abranger o ano fiscal anterior, ou seja, de janeiro a dezembro, cuja inflação foi de 6,41%. Além desse percentual, a Prefeitura também oferecia reajuste de 15% na cesta básica, que subiria de R$ 140,00 para R$ 160,00.
Sem conseguir convencer os sindicalistas e os servidores de que a sua proposta era mais vantajosa, Callado foi praticamente expulso da reunião. Minutos depois, em entrevista coletiva concedida no seu gabinete, o prefeito disse que a culpa pode ter sido sua, por “não se fazer entender”. Mas demonstrou chateação. “Temos sempre que privilegiar o diálogo. Quando um começa a gritar e bater na mesa, o outro tem que se retirar, se não a negociação termina alí”.