O prefeito de Jales, Flávio Prandi Franco (DEM), o Flá, confirmou na manhã de quinta-feira, 2 de fevereiro, que a prefeitura não vai realizar a 47ª Facip (Feira Agrícola, Comercial, Industrial e Pecuária) este ano. A decisão levou em conta a impossibilidade de aplicar recursos financeiros na festa, sem desfalcar outras demandas da cidade. “Governar é definir prioridades e a prioridade é recuperar a cidade. Executar a feira [com dinheiro da prefeitura] é tirar dinheiro da educação, da assistência social, da saúde e principalmente das obras de recape”.
O anúncio foi feito no gabinete do chefe do Poder Executivo, com a presença do vice-prefeito, José Devanir Rodrigues, o Garça, do ex-prefeito, Pedro Manoel Callado Moraes; de todo o secretariado, vários vereadores, assessores de outros escalões e repórteres de quase todos os veículos de comunicação de Jales. A aprovação à medida era unânime.
Não está descartado que algum empresário do ramo realize, sem a participação da prefeitura, um evento semelhante na semana do aniversário da cidade, mas o prefeito reconhece que essa hipótese é extremamente remota.
O principal empecilho financeiro são as reformas no recinto de exposições (orçadas em R$ 300 mil), principalmente nos camarotes, que correm o risco de desabar. “O recinto de exposições está deteriorado e exige reformas urgentes. Como vamos dizer para a sociedade que vamos gastar R$ 300 mil no recinto, se em todas as ruas da cidade há buracos?”.
Flá reconheceu que as chances de festa ser realizada diminuíram bastante depois de uma reunião com os vereadores, na manhã de segunda-feira. Eles deixaram claro que não aprovariam o remanejamento de verbas para as reformas do recinto, tirando dinheiro de outros setores mais necessitados. Sem apoio da Câmara para financiar o evento com dinheiro da prefeitura, Flá não teve outra alternativa, se não, a de cancelar a festa.
“O Orçamento Municipal de 2017 reserva R$ 100 mil para a festa. Onde nós vamos conseguir os outros R$ 200 mil? Sem contar o que precisaria para contratação de shows, rodeio e o restante”, disse.
Inicialmente, a ideia era a Prefeitura Municipal assumir a organização da feira, utilizando o dinheiro da venda de mesas e camarotes para pagar os shows, com arquibancadas gratuitas para a população, mas a necessidade de reformas surpreendeu a administração, que já tinha até nomeado uma comissão organizadora e sondado atrações musicais.
No dia anterior ao anúncio, Flá ainda tentou uma última alternativa. Consultou empresários do ramo de eventos, na cidade e região, mas eles não se mostraram interessados em assumir a festa, sem a participação da prefeitura. Nessa hipótese, os empresários negociariam o uso do recinto diretamente com a Unimed, proprietária do imóvel.
“Nós vamos devolver o recinto para a Unimed o mais rápido possível e, se um empresário quiser realizar a festa, nós não podemos impedir. Mas hoje a cidade está dizendo que não dá para a prefeitura fazer a FACIP”.
O editor chefe de A Tribuna, Douglas Zílio, postou a notícia do cancelamento em seu Facebook, explicando os argumentos do prefeito Flá. Em poucas horas, mais de 500 pessoas se manifestaram, a grande maioria delas parabenizando a atitude e coragem do prefeito. Nesta página, você leitor, pode conferir a opinião de alguns representantes de entidades de classe sobre o assunto.
João José Ramos – Ex-presidente da APAE
A solução encontrada pelo prefeito Flá foi a melhor possível nesse momento em que temos outras situações emergenciais, como asfalto e saúde, que precisam de atenção urgente. Há mais de 40 anos faço parte da Facip, já vendi terrenos em prol do evento, fiz parte de comissões organizadoras e também participei das barracas do Lions e da APAE. Sei da importância do evento para Jales, mas nas condições em que a cidade se encontra, não dá nem para pensar em tirar dinheiro de setores que são prioritários no momento para aplicar na festa. Uma atitude que poderia ser considerada, é procurar empresários da iniciativa privada que promovam a Facip sem custos para o município.
Júnior Ferreira – Provedor da Santa Casa
É uma decisão inteligente e exige coragem para um chefe do Poder Executivo cancelar a 47ª Facip. Em uma festa desse porte, todos os focos se voltam ao evento durante meses. Além da administração municipal, que precisa concentrar seus esforços no evento, o comércio e as frentes de trabalho se voltam para a Facip, prejudicando o andamento da administração da cidade, que nesse momento precisa priorizar outros setores. Imagino que para as entidades assistenciais e filantrópicas envolvidas é lamentável, pois sabemos que os recursos agregam nas despesas, porém não podemos pensar individualmente, e sim no coletivo. E nesse momento que Jales vive, não é hora para gastarmos recursos com a Facip.
Ailton Chiderolli – Presidente do Rotary Club de Jales Grandes Lagos
Quero primeiramente deixar claro que é minha opinião pessoal e não do clube que presido. Acredito que o prefeito Flá agiu de maneira correta, ele está certo em cancelar a Facip em 2017. Não temos recursos para melhorar diversos setores da cidade, alguns até que são prioritários. Não é correto tirar dinheiro que seria empregado em saúde, asfalto que está em estado de calamidade, para investir em uma festa. Cidades do Brasil inteiro estão em crise, não há como fazer festa usando dinheiro da Prefeitura. Precisamos dar um tempo, colocar a casa em ordem e, só depois, pensarmos em festa. Temos problemas da cidade que se estendem por mais de 20 anos, não são dessa administração ou da passada. Precisamos solucionar tudo isso primeiro.
Toninho Cruz – Vice-presidente da ACIJ
Pensando em um aspecto macro e olhando para Jales, sabemos que deixar de realizar uma festa como a Facip é o mesmo que deixar de destacar o nome da cidade em toda a região e até a nível estadual. Porém, no momento em que vivemos e analisando os problemas de Jales, vemos que a atitude do prefeito Flá foi acertada. Não existe nem a possibilidade de utilizar recursos para manutenção do recinto de exposições e depois para a promoção da Facip, deixando de aplicar esses valores em obras de infraestrutura que vão garantir melhorias para a população e desenvolvimento para toda a cidade. A tendência de grandes gestores é de cortar gastos, economizar e priorizar o que realmente é importante. Com o cancelamento da festa, alguns comerciantes podem até deixar de fomentar as vendas, entidade deixam de captar recursos, mas o fundamental agora e resolver os grandes problemas enfrentados pelo município.