Sábado, Novembro 23, 2024

Polícia investiga denúncia de racismo entre vereadores de Jales

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Devem ser ouvidos na semana que se inicia os envolvidos numa denúncia de racismo que teria acontecido dentro da Câmara Municipal de Jales. Mais precisamente, dentro da copa-cozinha do prédio do Legislativo. Um inquérito policial já foi aberto na Polícia Civil e deve ser tratado no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. 


O caso foi tornado público durante a Sessão Ordinária da última segunda-feira, 6 de fevereiro, pelo vereador Deley Vieira (União Brasil) que, segundo ele, foi a vítima da ofensa racial.

 
Segundo ele, a ofensa foi relatada pela zeladora da Câmara, Gina Cláudia Zacarias da Silva, mas chegou a ele através de outros colegas. A servidora confirmou a história ao diretor administrativo, Marcos Zampieri, durante depoimento informal. 


Segundo o relato, em dezembro do ano passado, logo depois da eleição para a composição da Mesa Diretora, Gina teria perguntado a vereadora Carol Amador (MDB) sobre o resultado da disputa, que foi tumultuada e está sendo discutida na justiça.

 
Carol então teria respondido em referência a Deley Vieira; “Ainda bem que aquele gorila não será presidente”. 


Estarrecida, Gina teria contado o caso para o vereador. “Ela foi dizer isso logo pra mim que somos irmãos em Cristo e irmãos de cor”, disse. “Se ela disse que você é gorila, imagina eu que sou mais escura que você”, ressaltou. 


Na tribuna da Câmara e em suas redes sociais, Deley lamentou o fato, mas não citou o nome da vereadora que teria feito a ofensa, se referindo apenas como “uma pessoa que tem autoridade” dentro do Legislativo. 


Visivelmente emocionado, Deley ressaltou que tem meia idade, é pai de família e não tem o seu nome envolvido em escândalos ou casos policiais e que àquela altura da vida, no segundo mandato como vereador, não imaginava ser vítima de ofensa racial. 


“Dia 1º, quarta-feira eu recebi uma ligação informando que tinha havido um ato de racismo nesta casa. Eu não acreditei, mas vim na Câmara, me informei com um funcionário que confirmou ter ouvido a história. Chamei o diretor e pedi para que ele ouvisse a funcionária (que ouviu a ofensa). Para a minha triste surpresa, ela reafirmou que ela tinha perguntado para a autoridade legislativa (Carol Amador) e ela respondeu que eu não tinha ganhado porque eu não tinha estudo e disse ‘ai se aquele gorila ganhasse. Eu sempre respeitei todo mundo. Acho que não precisa partir para ofensa, dizendo que um vereador se parece com um gorila”, relatou.


NÃO SOU MACACO DE NINGUÉM
Segundo Deley, a funcionária teria garantido que vai manter o relato, caso seja convocada para depor na polícia e em juízo. “Eu até perguntei se poderia abrir um inquérito e ela disse: pode tocar pra frente. Então isso foi feito. Eu vou esperar a justiça porque a gente não pode julgar ninguém antes de os fatos serem concluídos, antes de ter certeza. A pessoa que falou tem direto de se defender e vamos respeitar. Tomara que o inquérito policial conclua que não é verdade porque quem votou em mim, não votou em gorila. Eu não sou macaco de ninguém e estou muito abalado com isso porque eu trabalho desde pequeno. Mas a funcionária confirmou perante outros vereadores”.


“APENAS” OGRO
Carol Amador usou a tribuna logo a seguir e tentou inverter os papéis, desacreditando a acusação e atribuindo a queixa a um suposto inconformismo com a derrota nas eleições para a composição da Mesa Diretora. Elder Mansueli e Bruno de Paula foram na mesma direção. 


Apesar de não ter sido citada, Carol Amador argumentou que não usou a palavra “gorila”, mas se referiu a Deley “apenas” como ogro. A funcionária da Câmara discorda e mantém a palavra. “Na conversa que estava ocorrendo na cozinha eu disse que a eleição estava resolvida e que estava reocupada com o Bismark que absorve muitos problemas e a funcionária concordou. E a conversa foi que o Deley é bem diferente. Enquanto o Bismark pede ‘por favor’, o Deley já grita, e eu disse na brincadeira que ele é bruto, rústico e sistemático e que é o seu jeito ogro de ser. Ogro, no sentido de grandão que fala grosso” defendeu. 


Em tom imperativo, a vereadora praticamente ordenou: “Espero que vocês provem porque da minha boca não saiu a palavra macaco. Se você quiser fazer um boletim de ocorrência, que faça com as palavras certas. Não coloquem palavras na minha boca. Não fui eu que falei de grosseria, a conversa não durou mais de dois minutos”. 


De acordo com o dicionário Caudas Alete, ogro significa “monstro ou homem que come crianças, nas histórias infantis francesas, e que corresponde ao bicho-papão”.


Já a Wikipedia diz que ogro é uma criatura mitológica do folclore europeu. Quase sempre, é retratado como um gigante de aparência grotesca e ameaçadora, que se alimenta de carne humana.
O Dicionário Priberam, acrescenta aos significados anteriores a classificação de “pessoa assustadora”.    


PASSANDO PANO PRA RACISMO
Imediatamente, vereadores aliados de Carol entraram em campo e usando a mesma estratégia, atribuíram o caso à briga política e minimizaram a denúncia da funcionária. 


Sem qualquer isenção, dois vereadores que tinham acabado de ser escolhidos como integrantes do Conselho de Ética e poderão ter que julgar o caso, se apressaram em defender a vereadora e a levantar dúvidas sobre a denúncia. 


“Eu estou impressionado com o que acontece nesta casa. Eu nunca vi uma perseguição tão grande da imprensa (?) contra alguns vereadores. Não sei onde vamos parar desse jeito. Prega-se harmonia para quem? Harmonia nunca existiu porque o vereador fica coagido até de se posicionar, A pressão é tão grande que é vergonhoso. Eu já me acostumei com essa perseguição, mas já tive motivos para fazer tantas coisas contra colegas que estão respondendo crimes na justiça e nunca fiz. Uma vez eu disse por causa de algo que estava acontecendo. Após a justiça decidir, tem que se tornar público, mas enquanto ninguém prova nada, solta tudo pra ficarem deduzindo contra vereador A ou B. É uma exposição sem ter tamanho, sem ter o crime consumado. Daqui a pouco está exposto nos blogues da vida”, disse o vereador Elder Mansueli.


E ameaçou: “Mas é o seguinte: pau que dá em Chico dá em Francisco. Se vocês quiserem fazer exposição, todos vão ter que ser expostos”. 


Mansueli isentou a vereadora de qualquer culpa e se ofereceu para testemunhar a seu favor, mesmo não estando presente no momento da suposta ofensa racial. “Eu conhecendo a Carol, pela educação e profissionalismo que ela tem, não creio que ela disse essas palavras. E se precisar de testemunha eu vou junto com você, Carol”.       

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