Segundo os dados do IBGE, em 2021, o salário médio mensal do trabalhador jalesense era de 2,2 salários mínimos. A proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 29,33% e considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, tinha 28,2% da população nessas condições. Esse é um cenário regional, com poucas oscilações de uma cidade para outra. Por outro lado, temos dezenas, às vezes 80, oportunidades de emprego disponíveis no PAT de Jales,que passam semanas sem serem preenchidas ou de grande rotatividade, onde o trabalhador é admitido, mas desligado pouco tempo depois. O problema tem apenas uma causa? O culpado é o empregador, que exigiria demais do trabalhador e não cumpriria a legislação trabalhista, ou do trabalhador que estaria preferindo receber os benefícios dos programas sociais e viver de trabalhos esporádicos a se submeter às regras de um emprego formal.
Conversamos com o professor Vitor Boldrin, coordenador do curso de Gestão Empresarial da Fatec Jales para tentar descobrir algumas respostas a essas e outras questões.
A Tribuna: Com desatar esse nó, professor?
Professor Vitor Boldrin: Foi publicado por você no final de semana que nós tivemos um saldo positivo no emprego gerado, apesar de ser janeiro, nós tivemos mais contratações que demissões. Há um quadro preocupante com relação ao salário e nós podemos observar que é uma média que é praticado em todo o país que encontra-se na casa dos R$ 3.100,00 mais ou menos o que equivale a aproximadamente dois dois salários mínimos. Temos esse percentual da população com um valor salarial de meio salário mínimo, inclusive até este valor aí é de 2010 e em 2021 ele não atualizou esse valor em específico, embora eu acredito que não esteja muito superior a isso porque ele acaba considerando aí a população como um todo.
A Tribuna: Mas fazendo uma conta rapidinho nós temos apenas 29% da população empregada e, dos empregados, 28,2% vivendo com meio salário mínimo, a gente vê que é muita pobreza.
Professor Vitor Boldrin: Na verdade nós precisamos buscar mecanismos para mudar isso é aí que a gente começa a visualizar o poder público, de uma maneira desde a esfera Municipal, Estadual, Federal em busca de incentivos para a geração de emprego, mas nós temos também a população ficando velha é nós temos alguns estudos que mostram que as gerações que estão chegando começam a valorizar mais tempo com a família, começam a valorizar mais tempo de lazer e não atividades muito estressantes. Eu sou coordenador do Curso de Gestão Empresarial e na Fatec nós formamos gestores tomadores de decisões. O mercado precisa e muito desse profissional em todos os seus momentos e nós estamos com falta desse profissional então assim, ao mesmo tempo que nós estamos vendo aqui alguns números sobre o nível salarial nós temos o outro lado da moeda que nem sempre é ressaltado que é a vaga de emrpego que não é preenchida. Nós temos uma demanda muito grande por estagiários com bolsas de auxílio de R$1.200, R$1.500 e até R$ 2.000 que são vagas de estágio. O aluno ainda está estudando. O horário é reduzido, de 6 horas diárias 30 horas semanais e nem sempre nós conseguimos atender a todos os empresários. A carência é grande e os bons profissionais estão trabalhando, não ficam desempregados.
Temos dois cursos voltados para gestão e o curso de TI e em todos os nossos cursos temos uma demanda muito grande por profissionais. Em relação à média salarial, nós temos N situações que interferem com relação à média salarial. Um aspecto muito importante é o aspecto “capacitação”. Os nossos profissionais estão capacitados? Vamos imaginar esse público nessa população que está enquadrada neste valor, nesse salário baixo. Qual a qualificação profissional? Qual o índice de pessoas hoje que estão no ensino superior. Nós melhoramos muito. Temos instituições de ensino público tanto de ensino superior como de ensino técnico e tecnológico de qualidade gratuito. Somente no Estado de São Paulo as Fatec são 77 unidades são mais de 100 mil estudantes no ensino superior e no ensino técnico que cabe às Etecs que são 232 unidades. Olha o número de profissionais que nós colocamos no mercado e com certeza os bons são disputados. Agora, e o percentual de pessoas que estão aí aguardando uma oportunidade de trabalho, querem que o amanhã seja diferente, mas não fazem nada hoje para mudar isso? Esse é o ponto de reflexão que a gente começa a deixar aqui. Não que toda a situação econômica esteja resolvida, que realmente todos os empregos estão com salários justos. Mas o que cabe a você que está procurando emprego que procura uma oportunidade no mercado de trabalho? É preciso estar pronto.
A Tribuna: Mas me parece que tem um nós aí entre as duas partes. Os trabalhadores que estão desempregados nem sempre gostam da vaga, a jornada é extenuante, o salário é baixo e os patrões não encontram o funcionário que desejam, mas tem um monte de gente procurando emprego. Por que que não dá essa liga?Imagino que não seja pela falta de preparação, mas talvez um trabalhador exigindo demais ou o patrão exigindo demais e aí não dá liga. Você não enxerga dessa forma também?
Professor Vitor Boldrin: Dentro do nosso ensino nós refletimos juntos dos nossos alunos sempre com o olhar dos dois lados da mesa.Por exemplo, de um lado nós temos um empresário que busca um profissional ele vai buscar alguém que venha a trazer contribuições significativas para a empresa. Ele não vai contratar alguém por um caráter social. Por mais que a empresa possa desenvolver programas sociais. De outro lado da mesa nós temos o suposto empregado, o trabalhador que também não está ali cumprindo um caráter social porque é bonzinho e quer fazer o patrão ficar rico. Ele está ali porque ele busca uma oportunidade de mostrar aquilo que ele sabe fazer e deixar a contribuição para a empresa e também para que ele tenha os seu retorno. O que nós devemos buscar é uma equalização desses dois lados. É aí que devemos ter que buscar programas do setor público do setor privado fazendo com que se tenha um equilíbrio entre as duas partes. E esse equilíbrio só vai existir cada vez mais a partir do momento em que temos pessoas qualificados dos dois lados. Um empresário que é mente aberta, que entende muito bem do seu negócio e que está investindo no crescimento e a partir do momento que você tenha também um colaborador que está ali proativo, não é aquele colaborador que está ali somente fazendo o que se manda, mas está buscando oportunidade para estar fazendo com que a empresa cresça. Dessa maneira os dois crescem e aí nós temos empresas crescendo e o profissional ganhando o seu salário e também participação dos resultados da empresa. E são vários programas que podem ser desenvolvidos com base nisso. Nós não podemos ter uma média salarial baseada no funcionalismo público porque nós sabemos que é um percentual baixo, menor. Nós precisamos sim criar mecanismo para desenvolver a economia local e ela vai ser desenvolvida a partir do momento em que os dois lados da mesa tiverem ganhos.
A Tribuna: Você acha melhor que tenhamos muitas micro e pequenas empresas, que geram muitos empregos, ou poucas empresas grandes que geram o mesmo número de empregos? O que você acha que uma cidade deveria procurar atrair?
Professor Vitor Boldrin: Eu não tenho as informações técnicas, mas fazendo uma análise informal, entendo que nos podemos ter uma política mais ampla. Não podemos abrir mão do pequeno e micro empresário. Afinal de contas, a nossa região depende basicamente disso. Se formos falar, por exemplo, em Jales de empresas que geram muitos empregos, nós temos uma quantidade bacana de empresas que realmente dedicam-se ao seu estabelecimento, mas quantos empreendedores individuais nós temos? Quantos estão na informalidade buscando uma maneira de estar mais dentro do negócio. Então entendo que deve ser uma busca dupla. Nós teremos a possibilidade de investir nesses microempreendedores, mas precisamos de pessoas qualificadas. E por outro lado, por que não desenvolver programas de incentivo para trazer grandes empresas. Obviamente que eu não tenho neste momento aqui é questões técnicas levantadas de quais são os recursos necessários. Não é simplesmente cedendo um espaço ou um concedendo isenção tributária,mas tem que ser feito um estudo por uma equipe, não somente por uma pessoa. Certamente a cidade tem sim condições de trazer empresas de grande porte que possam trazer aí um volume financeiro.