Quinta-feira, Janeiro 23, 2025

PERSONAGEM DA SEMANA – Rafael Carnaz Prado, administrador da Santa Casa de Jales

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Por traz da elogiada condição financeira da Santa Casa de Misericórdia de Jales estão certamente os bons provedores que passaram pelo hospital nos últimos 17 anos, mas não só isso. Boa parte do bom desempenho se deve ao jovem administrador Rafael Carnaz Prado, de apenas 40 anos, dos quais 15 atuando na área da Saúde. Natural de Barretos, já tinha trabalhado na Santa Casa daquele município quando assumiu a administração da Santa Casa de Jales, onde está há sete anos. Com sólida formação acadêmica e jeito de bom moço, Rafael é graduado em sistemas da informação e pós-graduado em administração hospitalar pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e em Gestão em Saúde pela Universidade São Camilo. Foi dele a função de comandar o hospital durante a complicada pandemia do novo coronavirus e é dele a função de executar a ampliação e reforma de alguns dos mais importantes setores do hospital. Uma de suas frases preferidas é: “Custo é igual unha. Se não cortar, vai continura crescendo”. Rafael Carnaz Prado é o nosso Personagem da Semana.

A Tribuna: A Santa Casa está fazendo uma reforma importante.

Rafael: A gente tem previsão de que em setembro consiga entregar as duas últimas reformas deste exercício que é a ampliação da emergência e os seis leitos de isolamento. A gente teve dificuldade tanto no projeto quanto na prestação do serviço. Para se ter ideia, faz apenas dois meses que a gente conseguiu contratar o piso. É uma empresa especializada. Ficamos um ano e meio buscando essa empresa e eles instalaram o piso em seis horas. É algo muito moroso. A gente também tem recursos limitados porque estamos fazendo com recursos próprios e tomando todo o cuidado para não ter nenhum estouro grande.  

A Tribuna: Esse tipo de piso tem especificações especiais, né? Não é como um piso comum.

Rafael: Sim, ele tem que ter alguns padrões autorizados pela Vigilância Sanitária ainda mais lá que a gente teve que subir um pouco o piso por causa da pressão negativa e subiu um pouco por causa do esgoto. Era delicado por questão de peso e tamanho, mas quando vieram instalar tivemos uma surpresa tão satisfatória que eu pedi pra ver se podemos instalar também no centro cirúrgico, que também tem uma manutenção delicada e que leva em média uma semana. Com esse, leva apenas um dia. 

A Tribuna: Tem equipamentos novos também?

Rafael: Temos o equipamento de endoscopia e colonoscopia e ecocardiograma que queremos entregar. A parte de estrutura física já está pronta porque fizemos com recursos próprios. Finalizamos o certame para a compra e estamos aguardando recursos das concorrentes. Aí precisamos mandar para a comissão da Prefeitura analisar e dar o OK. Aí em 30 dias os equipamentos estarão funcionando.

A Tribuna: Deixa eu ver se entendi: Vocês fizeram a licitação aqui com a supervisão deles?

Rafael: Toda a parceria público privada tem que ser montada uma comissão para supervisionar o projeto. É um pré-requisito do Tribunal de Contas. Se manda recursos públicos tem que ter uma supervisão para ver se foram alcançadas as metas e se atende os princípios da administração pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência)

A Tribuna: Mas nem todas as compras que vocês fazem precisa ser através de licitação?

Rafael: Não, mas sempre fazemos com três orçamentos. Mesmo sendo recursos privados, temos que gerir atendendo os requisitos mínimos de qualidade, prazo e preço.

A Tribuna: Isso é iniciativa própria?

Rafael: Sim, iniciativa nossa. Desde quando eu entrei aqui, decidimos que tudo temos que fazer com base em três orçamentos.

A Tribuna: E o valor dessas obras?

Rafael: Em torno de R$ 700 mil na Emergência, incluindo os equipamentos. No isolamento foram R$ 650 mil, incluindo os leitos e os equipamentos. Cada cama custa quase R$ 9 mil porque tem seis movimentos independentes cada uma. O isolamento e a ampliação com recursos próprios. Os equipamentos de colonoscopia e exames de eco estão estimados em R$ 570 mil, entre recursos próprios e da Câmara. Somente da Câmara são R$ 453 mil, se não me engano.

A Tribuna: Então os recursos destinados pela Câmara Municipal através das emendas impositivas estão sendo uma grande ajuda?

Rafael: Extraordinária! No primeiro ano recebemos R$ 259 mil. Foram sete vereadores que nos auxiliaram, com isso fizemos uma adequação do serviço de osmose, manutenção dos serviços de informática, central de esterilização, instalamos um sistema de prevenção que dispara um alarme em caso de qualquer problema técnico. Compramos televisores para o painel informativo, máquina de solda, carrinho de medicação, máquina de lavar piso, biombos, maca etc. Tudo isso custou R$ 259 mil e devolvemos o que restou.

A Tribuna: Neste ano, todos os dez vereadores destinaram emendas?

Rafael: Sim, todos os dez. Mas neste ano provavelmente não haverá devolução porque os equipamentos custarão mais do que os R$ 430 mil que recebemos. Esse dinheiro já está em conta e o processo de licitação finalizado. Só falta a comissão da Prefeitura dar o OK que a gente já vai efetivar a compra.  

A Tribuna: O dinheiro que vem de emenda parlamentar estadual e federal também precisa de licitação?

Rafael: Sim, precisa. Aqui dentro nós chamamos de Comissão de Análise de Recursos Públicos, que faz edital e tem participação da área técnica. Tem alguns casos em que só os três orçamentos bastariam, mas a gente sempre faz um processo um pouco mais amplo para garantir a melhor compra.     

A Tribuna: Como vocês resolvem essa problemática financeira? Quer dizer, a Santa Casa vive em de déficit orçamentário. Como conseguem fazer obras e investimento?

Rafael: As contas do exercício de 2022 estão fechadas e auditadas. Às vezes as pessoas confundem um pouco isso. O déficit operacional é a razão de ser do hospital, ele tinha quer ser autossustentável com o a venda do serviço dele, que é o faturamento com serviço hospitalar e a gente não é. A gente precisa cobrir o déficit, o que não consegue pagar com a venda dos serviços. Em 2022 ficou faltando R$ 14.774.781,02, que equivale a R$ 1.231.148,42 em média por mês. E como isso é coberto? Com emendas parlamentares, com alguns programas do Governo do Estado que aumenta aí uns 30% ou 40% da tabela do SUS, a rede cegonha, o Mais Santas Casas, a Redes de Urgência e Emergência e alguns incrementos que o governo nos dá que ajuda a cobrir esse déficit.   

A Tribuna: O Governo do Estado lançou ontem o que chamaram de nova tabela do SUS paulista. Vocês estão a par disso?

Rafael: Sim, mas precisamos ver como vai ser a lei que vai regular isso, determinar de onde vem esses recursos anunciados. Pelo valor que a gente teve acesso, resolve muita coisa do déficit da tabela SUS. Por exemplo um parto normal que o SUS paga hoje R$ 443,40 passaria a pagar R$ 2.217,00, então se equipara muito à rede privada. Só que a nossa dúvida é se com essa nova tabela o governo vai cortar os outros convênios que têm atualmente.

A Tribuna: Em outras palavras, isso tem que ser além do que se paga atualmente porque se trocar um pelo outro não vai adiantar.

Rafael: Não vai mudar muita coisa.

A Tribuna: Sobre este processo de descentralização do atendimento, regionalização da Saúde, como está esse processo, envolve a Santa Casa?

Rafael: Isso tem duas frentes: a regionalização, que o Governo do Estado tem trabalhado bem para que isso seja uma realidade, só que não é baseada na CIR nem na Regional de Saúde. É na RAS (Redes de Atenção à Saúde) que inclui Rio Preto e Araçatuba. Na primeira reunião sobre a regionalização, o governo mostrou que a nossa região é uma das mais eficientes do Estado. Então em termos de regionalização, a nossa já é um caso de sucesso. Acho que esse processo vai ser mais sentido em outras regiões. Outro ponto é o sistema que é utilizado. A Secretaria Estadual de Saúde faz a contratação dos serviços e define as pactuações, como vai funcionar o fluxo dentro daquela região. Ela precisava de alguém para monitorar esses contratos, então ela contratou a CROS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde), que controla os contratos através de um sistema, o Siresp. Algumas coisas já estão mais rápidas, como atendimento de ortopedia.

A Tribuna: Alguma novidade sobre o Piso da Enfermagem?

Rafael: Nós da Santa Casa, enquanto prestador, não temos nenhum tipo de informação de como vai funcionar. O Ministério da Saúde tem explicado de maneira geral como foi feito o cálculo do piso. Tem o valor base mais alguns incrementos que fazem a remuneração daquele profissional e foi com base nessa remuneração que foi feito o cálculo do valor. Eles tem o CPF de cada pessoa e o valor que ele tem direito de receber. Vai vir o total dos meses de maio, junho, julho e agosto. Só que o dinheiro vai para o Governo do Estado que tem 30 dias para repassar para a Santa Casa que tem mais 30 dias para repassar para o colaborador. Se tudo correr dentro do previsto, provavelmente em novembro faremos o pagamento. Mas o valor depende de quanto o Ministério definir.

A Tribuna: Falando sobre um assunto que está em voga. Como funcionam os transplantes? Vocês fazem a captação dos órgãos com base em encomenda ou do que dispõem?

Rafael: Nós estamos vinculados a Rio Preto. Uma situação que gerou muita dúvida foi o caso do Faustão, se ele furou ou não a fila. O primeiro ponto que está errado é o conceito de fila. Não é fila, mas lista, que é bem diferente. Dentro da lista tem os casos de emergência que são os pacientes que podem vir a óbito a qualquer momento, os de urgência que precisam resolver, mas ainda não corre risco de morte, e tem os não urgentes. Dentre esses cenários ainda tem que ver se eles são compatíveis com o tipo sanguíneo, peso, altura, se o receptor está em boas condições de receber o órgão. Parece que o Faustão era o segundo, mas o primeiro não estava em condições de receber o órgão. A Santa Casa de Jales é um dos maiores captadores de alguns tipos de órgãos, principalmente córneas. Quando o paciente entre em morte encefálica, a equipe procura a família para ver se eles autorizam a doação. A partir dessa doação, a gente faz análise de todos os órgãos possíveis de captar. Ai vem as equipes de fora.  

A Tribuna: Então essa polêmica do Faustão é uma falsa polêmica? Rafael: Acredito que sim. A gente tem que confiar no SUS. Vem do SUS a captação e doação que tem um sistema sensacional. Se tiver algum erro, que a pessoa que errou pague, mas se não tiver erro, acho injusto questionar a pessoa que faz o serviço correto. O que o Faustão tem de vantagem é fazer o pós-operatório no Hospital Albert Einstein, mas em termos de colocação na fila eu acredito que não tenha acontecido. A venda de órgãos é um crime federal e moral e, para quem é cristão, é um pecado grande de se pagar.

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