A advogada Adriana Mariano é diretora de Relações Institucionais e Governamentais da Fundação Pio XII, responsável pelo relacionamento político da Fundação e Captação de Recursos nas esferas Federal, Estadual e Municipal das Unidades de Tratamento, Prevenção, Reabilitação, Ensino, Pesquisa e Inovação de todo o Brasil do Hospital de Amor, além da Santa Casa de Barretos e Hospital Regional de Bebedouro que também pertencem a Pio XII.
Sua formação profissional iniciou-se na Brahma e Skol em Jales e em seguida na Santa Casa de Jales, onde esteve à frente da Captação de Recursos por mais 8 anos, quando foi convidada em 2014 a trabalhar na Captação de Recursos do Hospital de Amor Jales e em 2015 recebeu a nova missão de assumir a área governamental. Fez graduação em Direito e Gestão Pública, e é advogada o que facilita muito a compreensão das normativas para captação de recursos, tem Especialização em Direito Material e Processual Penal e MBA em Economia e Relações Governamentais pela FGV.
A Tribuna: O que você faz exatamente e onde, em São Paulo e em Brasília?
Adriana Mariano: Até o final de 2019 eu, somente, captava os recursos com parlamentares do Governo Federal (Brasília) e Estadual (São Paulo) e outras áreas executavam os projetos. Há 3 anos sou responsável pela captação de todos os recursos que envolvam políticos e a execução de todos os projetos até que o dinheiro caia na conta do hospital, que segue então com a área administrativa na matriz em Barretos. Além de responder pela área de Relgov, ainda estou na execução de toda captação de Brasília. Desde 2020 temos uma equipe de Relgov que trabalha para todo o Brasil e ficam sediados em Jales, na nossa unidade. Mayara Colombo cuida da captação das emendas estaduais, Dener Bolonha da Comunicação de Relgov e Jessica Donini de todos os projetos para execução dos recursos captados. Todos nós trabalhamos para todas as unidades do país com Legislativo, Executivo e Judiciário. Por exemplo, se houver um TAC – Termo de Ajuste de Conduta, e alguma multa for direcionada para entidades, é a nossa área que entra em ação.
A Tribuna: Imagino que deve haver muita gente “entregando ofício”, mas a maioria com pouco resultado prático porque promessa de político nem sempre se concretiza. Como você convence essas pessoas a destinar verbas para o hospital? Qualquer é o diferencial da equipe do Hospital de Amor?
Adriana Mariano: Desde 2015 com o orçamento impositivo (obrigatoriedade de o Poder Executivo pagar as emendas destinadas pelo Poder Legislativo, salvo impedimentos técnicos) o poder de captação de estados, municípios e entidades foi abrangente e, em se falando na área da saúde, temos vantagens em relação às demais, vez que a lei obrigada que 50% de todos os recursos indicados por parlamentares sejam exclusivamente para a área da saúde. Por exemplo: se um deputado tiver R$ 20 milhões para indicar, R$ 10 milhões terão que ser indicados para a saúde. O não concretizar a captação tem mais a ver com a falta de acompanhamento dessa solicitação e não estar “presente” no Congresso Nacional ou Alesp, constantemente. Eles recebem muitas solicitações diariamente e quem não é visto, não é lembrado. Nosso diferencial é estudar muito todas as possibilidades de captação de recursos, sermos vistos e principalmente, acompanhar toda a execução dando retornos constantes aos gabinetes, além de termos uma marca que preza pelo atendimento de excelência com humanização.
A Tribuna: Qual o resultado prático desse trabalho? Quero dizer, rende quanto em dividendos financeiros para o hospital e quanto isso representa na liquidação das despesas anuais?
Adriana Mariano: Nosso resultado prático abrange desde o abatimento do déficit operacional da Fundação Pio XII captando recursos para custeio, quanto para investimentos em equipamentos trocando nosso parque tecnológico das unidades ou mesmo para investimentos em ensino, pesquisa e inovação.
Para terem uma noção, no ano de 2021 as nossas unidades tiveram um custo de R$ 824.155 milhões, receita do SUS de R$ 287.990 milhões e trabalhamos com um déficit operacional anual de R$ 536.165 milhões, ou seja, aproximadamente R$ 44 milhões/mês.
Em relação ao déficit anual, a área de relações governamentais foi responsável por captar 52,83% desses recursos e o restante ficou com as áreas de sociedade civil e parcerias corporativas. (somos 3 áreas de captação no Brasil)
A Tribuna: O foco é “apenas” econômico ou você também reivindica a realização de projetos, como doação de imóveis para implantação de novas filiais, credenciamento no SUS etc?
Adriana Mariano: Tudo o que envolva qualquer assunto relacionado a Fundação Pio XII trabalhamos, porém, neste último caso sendo apoio das áreas de interesse. Por exemplo: temos a área de parceria corporativa que capta recursos através da dedução do Imposto de Renda para projetos do hospital. Até 30 dias havia o risco de projetos do Pronon – Programa Nacional de Apoio a Atenção Oncológica e Pronas – Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência não existirem, por conta de um veto do governo. Realizamos trabalho político, informando aos parlamentares o impacto positivo na vida dos pacientes desses projetos e solicitamos a derrubada do veto. Se for necessário ir a Ministérios, Palácio do Planalto, Secretarias de Estado, Anvisa e qualquer outro órgão, estaremos lá para defender os interesses do Hospital de Amor e muitas vezes até de outras entidades.
A Tribuna: Na sua opinião, há muitos recursos disponíveis no governo e eles são devidamente explorados? Você recomenda que todos os entes federativos, hospitais, ONGs e entidades assistenciais mantenham pessoal para captação desses recursos?
Adriana Mariano: Pela minha experiência nesta área há 17 anos, vejo que até a pandemia tinha um número relativamente pequeno de hospitais e entidades visitando constantemente o Congresso Nacional e Assembleias. O mundo olhou para nossa área da saúde e vejo a crescente de hospitais e entidades contratando profissionais dessa área para representarem seus interesses perante o Poder Executivo e Legislativo. É de extrema importância ter profissionais sérios, dedicados e que estejam ligados diretamente a Presidência ou Diretoria do hospital. Como exemplo, somente no Governo Federal, cada deputado teve para indicação em 2023 R$ 32.103 milhões (50% saúde) e cada senador R$ 59.028 milhões (50% saúde), sem contar com as indicações de recursos em “RP2” da Portaria 544, de 03/05/23 que estão sendo indicadas via Ministérios, com previsão inicial de liberação de R$ 3 bilhões. São valores que todos podem captar, basta estarem presentes nos gabinetes.
A Tribuna: Vocês estão focados em algum projeto vultoso neste ano? Qual é a meta do Hospital de Amor em 2023?
Adriana Mariano: Temos 5 unidades de tratamento em funcionamento, sendo três em Barretos, uma em Jales e uma em Porto Velho/RO. Nossa meta é captar recursos para terminar as nossas unidades de tratamento de Palmas/TO e Lagarto/SE, além de iniciar as obras da Unidade de Prevenção e Diagnóstico na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará e finalizarmos o DREAM – Diretório de Reabilitação Moderna que está sendo construído em Barretos e será o maior da América Latina, atendendo pacientes que necessitam de reabilitação física, intelectual, visual e auditiva em todo o Brasil.
A Tribuna: Você foi convidada a participar de um livro que trata exatamente sobre a captação de recursos por entidades da saúde e municípios. Nesses anos todos você já desenvolveu um método? O que você ensina nesse livro (sem spoiler, claro)?
Adriana Mariano: O livro “Manual de Captação de Recursos em Saúde, com selo da USP – Universidade de São Paulo, é voltado para municípios e entidades que querem entender o universo desse segmento e angariar recursos para custeio, investimentos, ensino, pesquisa e outras fontes. Consegui criar um método intuitivo de trabalho que se antecipa a algumas situações e nos diferenciar dentro do nosso nicho. Eu ensino basicamente como identificar e captar recursos para entidades e o manual de forma geral, orientar o perfil ideal para um captador de recursos, como e onde captar para entidades e municípios, visão de um parlamentar na tomada de decisão por A ou B, visão do Ministério da Saúde, e visão da CMB – Confederação das Misericórdias do Brasil. Ele será lançado no dia 28 de julho em Florianópolis e estarei lá levando o nome de Jales.
A Tribuna: A famosa polarização que domina os meios políticos paulista e brasileiro afetam o seu trabalho de alguma forma? E como fica o reconhecimento dos beneméritos sem melindrar os concorrentes?
Adriana Mariano: Não nos afetam, pois temos uma posição clara que o nosso partido é sempre o “HA”, Hospital de Amor. Já vivemos situações que parlamentares completamente de posições partidárias opostas se juntaram para defender a nossa causa. Todos os parlamentares que ajudam o Hospital de Amor recebem anualmente um certificado e um vídeo do presidente do Hospital, Henrique Prata agradecendo pelo valor destinado para as nossas obras.
A Tribuna: Sabemos que alguns municípios, como Jales, enfrentam dificuldades em dar continuidade ou até mesmo concretizar os convênios assinados durante os governos anteriores. Quando os novos governantes iniciam as suas gestões, as verbas quase sempre ficam paradas nos gabinetes. Vocês enfrentam dificuldades semelhantes nas mudanças de um governo para o outro?
Adriana Mariano: Toda troca de governo e de parlamentares é trabalho novo. Relação Governamental, como o próprio nome diz é “relacionar-se” e temos que conquistar a confiança de pessoas, acima de tudo. O ideal é que os municípios tenham sempre profissionais que conheçam a realidade de cada convênio e entendam se esses recursos são advindos, basicamente, de emendas impositivas (obrigatórias) ou de programas (não obrigatórias). Se a prefeitura tem um convênio em andamento e esse recurso é de programa, por exemplo, e há o risco de haver troca de governo (como aconteceu em 2023), tem que finalizá-lo para pagamento em 2022, senão não recebem mais.
A Tribuna: No seu dia-a-dia você se encontra com as mais conhecidas personalidades do país, desde o presidente da República, ministros, senadores, governadores até artistas famosíssimos. Imaginamos que nem tudo são flores. Há alguma dessas personalidades que você destacaria pela simpatia e bom tratamento? E por outro lado, já passou alguma dificuldade grande para ser atendida, tipo um chá de cadeira?
Adriana Mariano: O Hospital de Amor me proporcionou conhecer essas personalidades do país e sou grata por isso. Destaco a educação e extrema gentileza que o ex-presidente, Michel Temer sempre dispensou a mim e ao nosso presidente, Henrique Prata no Palácio do Planalto. E uma situação que foi uma dificuldade e acabou se tornando cômica, foi há alguns anos quando eu e Henrique ficamos 6 horas sentados aguardando um secretário no Ministério da Saúde nos atender e já por volta da noite, tocou um alerta de incêndio e tivemos que descer correndo 9 andares de escada.
A Tribuna: Este ano teremos um show com Matogrosso e Mathias em prol do Hospital de Amor, em Jales, depois de um cruel intervalo imposto pela pandemia. Foi difícil retomar os shows? Vocês têm projetos de voltar a fazer, pelo menos, um grande evento por ano?
Adriana Mariano: Lembro que no primeiro mês da pandemia o Hospital teve uma queda na arrecadação da sociedade civil (doações voluntárias, shows) de R$ 11 milhões. As lives ajudaram, mas não era a mesma proporção que os eventos nos trazem. Retomamos no ano passado com o show com Fábio Jr e esse ano com o Boteco com Matogrosso e Matias que acontecerá no dia 23 de novembro, com renda totalmente revertida para os pacientes da Unidade de Jales e com certeza, todos os anos teremos eventos neste formato.
A Tribuna: Como você recebeu a notícia da homenagem que a Câmara de Jales rendeu a você (Medalha 15 de Abril, a mais importante honraria concedida a um cidadão jalesense)?
Adriana Mariano: Soube da indicação pelo vereador Hilton Marques no mesmo dia em que ela seria votada e fiquei muito feliz com a surpresa, pois levo o nome de Jales por todos os lugares que passo e sempre que posso, tento ajudar em situações da cidade. Sou grata a todos os vereadores da Câmara Municipal de Jales que concederam essa honraria e dedico ela aos ensinamentos que meu saudoso irmão, Roberto Mariano me deixou.