Você acha que as pessoas hoje estão mais infantilizadas? Demorando mais para assumirem suas próprias vidas?
Há 30 anos atrás o sonho de consumo dos adolescentes era trabalhar, ser independente, morar sozinho, ser dono do próprio nariz (expressão da época).
Na minha época a juventude mais informada rebelava-se praticamente em todo o mundo com roupas, silêncio, passeatas contra regimes autoritários, intolerância política, comportamento, etc. Procurava romper com tudo que tivesse caráter “imposto e oficial”: os dogmas familiares, a universidade, alguns famigerados partidos políticos, a arte em geral, etc.
Em muitas de nossas reivindicações, éramos apoiados por intelectuais, artistas, políticos progressistas e setores do clero, mas em geral éramos criticados pelo conservadorismo inquisitório e, em muitas ocasiões, principalmente no Brasil, violentamente reprimidos pelo sistema ditatorial imposto.
Hoje, quem acompanha, como eu, as investigações sobre os humores e as perspectivas dos jovens brasileiros, sabe o que eles acham sobre política, musica, felicidade, poder, etc.
Muitos acham que política é sinônimo de desonestidade e que quase todos os políticos são malandros. Apostam muito mais em meios individuais para prosperar, do que em projeto de Nação. Olham ao redor e veem a pobreza, a violência, as drogas e a destruição da natureza como sinais de fracasso da ação pública. Quando nasceram, a ditadura já estava encerrada. Não participaram, portanto, como eu e muitos outros, da cumplicidade da conquista da democracia.
Os jovens de hoje valorizam obsessivamente a busca pelo sucesso e do dinheiro, o que se traduz em investir nos estudos, no trabalho e na estética. Seria injusto dizer que essa é uma geração sem sonhos. Os jovens identificam-se nas ações voluntárias, geridas pelo chamado terceiro setor: – querem fazer a diferença com as próprias mãos, sem intermediários.
É, em essência, uma geração mais pragmática, absorvida pelo tempo real. Tomada pela era do conhecimento, com seus novos padrões de comunicação, marcados pela interatividade e pela abundância de informações que, diga-se de passagem, não significa, necessariamente, qualidade de informações, o que, em tese é terrível, pois a grande maioria de nossos jovens não tem o hábito da leitura qualitativa diária:- jornais, livros ente outras.
Para eles, o discurso dos candidatos é velho, jurássico e cheio de chavões. Promete a felicidade por meio da ação do poder público:- mas os jovens não confiam no poder público. Ao lado dessa despolitização, misturada com o ceticismo crônico dos jovens brasileiros diante dos políticos de plantão, existe também a simples ignorância. Muita gente não entende o que os candidatos dizem, como diria Gilberto Dimenstein:- “consequência do analfabetismo funcional, ou seja, o individuo lê, mas não entende” .
Na musica, relembrando Luiz Carlos Maciel, não existe uma contracultura explicita, mas sim, uma passividade inercial, que nos leva a uma profunda reflexão sobre o “aceitar” a musica estritamente comercial e imposta, de uma maneira assustadora. As tevês do Brasil que tem nas rádios FMs o seu braço direito, através do áudio, estabelecem determinados tipos de comportamento, principalmente musical, impondo um sistema de consumo imediatista e sem regras culturais estabelecidas. Cotidianamente nossos jovens ingerem o que há de pior em dissonância musical e, o que é ainda pior, passivamente e sem nenhuma contestação. Ei gente!!! Cadê o racionalismo?
O que é felicidade para os jovens?
Há quem imagine ser feliz através da beleza. E desde cedo faz de tudo para ter beleza por fora. Um rosto feio, segundo os padrões estéticos vigentes, seria uma tragédia total para quem busca nele o caminho da felicidade. Hoje há uma cultura crescente de malhação, plástica, silicone, etc… Exatamente porque se acredita atingir a felicidade através de um corpo bonito e perfeito.
Também encontramos uma parcela significativa de jovens buscando fama, porque entendem que o anonimato é fonte de fracasso e tristeza. A felicidade, para eles, é ser famoso na televisão, no rádio, teatro, em qualquer festa que faça seu nome ser lembrado como pessoa importante. O numero de mães que tentam montar “books” de seus filhos, sonhando encaminhá-los à fama é assustador. No conjunto, os conceitos obrigatoriamente são:- felicidade é estar no palco; ficar na plateia é estar deslocado e infeliz.
É isso.