Segunda-feira, Novembro 25, 2024

Para atingir Flá, PT elege DEM para presidente da Câmara

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Nivaldo Batista de Oliveira, o Tiquinho (DEM) foi reeleito presidente da Câmara Municipal de Jales e comandará o processo legislativo em 2016, ano eleitoral. É a primeira vez, na história recente da cidade, que o fato acontece. Acompanharão Tiquinho, o vice-presidente Tiago Abra (SDD), a 1ª secretária Pérola Cardoso (PT) e o 2º secretário Fagner Amado Pelarini (PRB), o Nenê do Pet Shop.

O resultado surpreendeu até quem acompanha o cotidiano da Casa de Leis e conhece os meios obscuros de negociação dos vereadores. Mas a hipótese de que os petistas poderiam romper o acordo já havia sido antecipada pelo jornal A Tribuna na edição que circulou um dia antes da eleição. 

Dito e feito! A Mesa Diretora foi eleita graças aos votos dos dois petistas, Pérola e Luís Fernando Rosalino, que até então mantinham um acordo com o DEM e o PSB para se alternar na presidência da Câmara durante os quatro anos da atual legislatura. O PT, porém, roeu a corda. 

O pacto começou a dar sinais de que se desfazia durante a votação das contas do ex-prefeito Humberto Parini (PT) e do vice, Clóvis Viola (PV). Os Democratas Gilberto Alexandre de Moraes e Jesus Martins Batista votaram pela rejeição das contas, o que tornaria Clóvis inelegível e o tiraria da disputa da vaga para prefeito no ano que vem.

Ao final da votação, Rosalino acusou o possível candidato, Flávio Prandi Franco, o Flá (DEM), de ter intercedido junto aos seus correligionários para reprovar as contas com o objetivo de tirar Clóvis da disputa. “Pra mim isso tem dedo do Flá. Possivelmente, o Clóvis seja candidato a vice de algum adversário do Flá, mas se as contas fossem rejeitadas, ele não poderia se candidatar. Não é a primeira vez que o Flá fez isso com o Clóvis. Eles já têm um problema”. 

Mesmo sem citar nominalmente o vereador Gilberto, Rosalino afirmou que apenas um dos três vereadores teria aceitado a indicação de Flá. Do grupo ligado a Flá, apenas Júnior Rodrigues (que precisava dos votos do PT para se eleger presidente) e Nivaldo Batista (que era signatário do acordo de alternância de poder) votaram pela aprovação das contas do governo petista. 

Gilberto respondeu em entrevista radiofônica que as declarações do jovem vereador poderiam lhe render uma representação no conselho de Ética da Câmara. E repreendeu o colega: “O Rosalino, infelizmente, vai mal nas suas colocações. Ele não deve falar certas coisas. É uma falta de respeito ele falar isso e não é a primeira vez”.

Informações de bastidores dão conta de que Flá esperaria apenas o resultado da eleição para fazer a representação, sem colocar em risco a candidatura de Júnior Rodrigues. 

A troca de acusações foi citada por Rosalino no momento da votação. “Cumprimos rigorosamente o nosso acordo até a presente data, quando eu fui deliberadamente ameaçado na rádio pelo DEM e não tem cabimento, depois de ameaça, o cumprimento de acordo. Não existe acordo sob ameaça”. 

Informações de bastidores dão conta de que os petistas decidiram não votar em Júnior Rodrigues porque ficaram sabendo de reuniões onde o G6, sob a liderança do Gilberto, teria decidido excluir o PT da Mesa. O motivo: Pérola e Rosalino se recusavam a votar em Jesus para vice presidente porque Jesus votou pela rejeição das contas do governo Parini/Viola. O PT queria o Claudir Aranda (PDT) na vice-presidência.

Na tarde de segunda, poucas horas antes da eleição, o presidente do PT, Luiz Especiato, ainda conversou com Júnior Rodrigues, por volta das 16 horas, e este confirmou que não votaria na Pérola. Especiato diz que avisou, então, que os dois vereadores do PT não votariam nele. 

Outra versão garante que o PT pretendia romper a parceria com o DEM para ganhar independência nas eleições municipais, nas quais devem ser adversários. Há chances de Flá e Pedro Callado concorrem juntos e em chapa adversária ao PT. Tudo indica que os ânimos estarão se acirrando a partir de agora. 

Rasteira e “velha política” 

Principais derrotados na eleição, Gilberto e Júnior Rodrigues criticaram a postura da política tradicional, já tão criticada pela população. “Rasteira é pensamento de político de 1940. Nós políticos novos precisamos aproveitar e fazer uma política séria. Os políticos novos precisam pensar diferente. Se não, o que a população pensa hoje do governo estadual e federal, vai continuar pensando. Se no município não muda a mente dos vereadores… porque questionar que um ou outro é corrupto, se na hora que temos a oportunidade de fazer algo diferente, a gente não faz? Virar a mesa na hora da sessão não existe mais”, disse Júnior Rodrigues.

Em tom de ironia, o candidato derrotado criticou os dois partidos envolvidos na pendenga. “É uma briga política entre o DEM e o PT, o PSB saiu perdendo. Você quer lógica perfeita: são todos honestos. Dois partidos brigam e um terceiro sai perdendo. Então, nós não podemos reclamar dos políticos que aprontam em instancias estaduais e federais, temos que olhar para o próprio umbigo”.   

Gilberto afirmou que “é por isso que a política é suja”. “O povo não acredita, tem dúvida de tudo o que acontece na política. A política acaba sendo desacreditada por esses atos. Você faz um compromisso, não é obrigado a fazer, mas faz, e não cumpriram. No país vem acontecendo tantas coisas erradas e aqui também acontece uma situação dessa”, criticou.  

Acertaram o alvo errado 

A reportagem ouviu Flávio Prandi Franco, um dos envolvidos na controvérsia. Presidente do DEM na cidade, Flá foi citado pelo vereador Rosalino (PT) como “eminência parda” do DEM na votação das contas do ex-prefeito Humberto Parini (PT). 

Ele negou veementemente que tenha tentado influenciar os votos dos democratas na ocasião e afirmou não ter entendido a intenção dos petistas. “Eu sinceramente, não entendi. Eles poderiam brigar com o DEM, mas com o Júnior Rodrigues não tem nada a ver. Eles erraram com o Júnior, não com a gente. Até acho que eles pensaram em me atingir, mas atingiram errado porque tinham combinado com o Júnior”.     

 

Cópia do acordo mostra assinaturas de petistas

 

Uma cópia do acordo assinado pelos integrantes do G6 para alternância na Presidência da Câmara durante a legislatura 2013/2016 foi distribuída à imprensa durante a sessão de eleição da Mesa Diretora. No documento, com data de 1º de janeiro de 2013, é possível ver o que seriam as assinaturas dos presidentes do PT, DEM, e PSB, além dos vereadores Gilberto, Jesus e Tiquinho (DEM); Júnior Rodrigues (PSB); Pérola e Luis Fernando Rosalino (PT). 

A cópia, se autêntica, confirma o acordo para eleger Júnior Rodrigues como presidente em 2016, mas não fala em composição da Mesa Diretora, um dos argumentos que teriam sido usados pelo PT para se recusar a votar nele.

Também não há menção a votação de proposituras, como a que derrubou o parecer do TCE que reprovava as contas do governo petista, outro suposto motivo para a desavença.  

O documento não tem validade jurídica, mas provaria, com assinaturas, o compromisso firmado em 2013 para formar o chamado G6, grupo composto por PT, DEM e PSB para dominar a Câmara durante toda a legislatura. 

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