Semana passada, mais precisamente no sábado de carnaval, dia 06, nos bares e cafés da vida, estava conversando com meu amigo e mestre Chico Melfi a respeito do ostracismo pós-poder que vivem certos políticos despreparados para vida pública. Aqueles de ocasião.
Durante conversa, comentei a respeito de um fato que ocorreu alguns dias atrás, quando um prefeito do interior do nosso Estado, meu amigo de longa data e confidente político, que por motivos éticos não vou citar o nome, desabafou:
– Amigo, estou em pânico! A eleição de meu sucessor será daqui a alguns meses, e ainda não estou preparado para deixar o poder. Meus secretários e assessores – acrescentou – conversam mais com meu futuro candidato do que comigo, quase ignorando que ainda estou na prefeitura! Notando sua crise emocional, conhecida como “solidão do poder”, procuro brincar, lembrando um caso (verdadeiro) de um prefeito que parou de contar piadas nos últimos noventa dias de sua gestão, por absoluta falta de riso entre os ouvintes.
No primeiro ano de seu mandato, o referido prefeito, famoso piadista em sua cidade, quase matava de rir seus assessores e próximos, quando contava suas anedotas. No final de seu mandato, as piadas perderam a graça!
Aproveitando a conversa, relatei ao meu amigo outro caso ocorrido numa cidade da Grande São Paulo, quando o prefeito sentiu, literalmente, a solidão do poder:- retornando, antecipadamente, de uma viagem ao exterior, não encontrou em seu gabinete, a secretária, a copeira, o motorista e a primeira dama, que aproveitou a viagem do marido para visitar os parentes do interior.
Lembrei ao nosso mestre que, também, não se deve esquecer o folclore da “solidão do poder”, quando o café fica frio, o telefone não toca mais, surge o silêncio dos “conselheiros e palpiteiros”, desaparecem os lobistas, os “amigos” não retornam as ligações, restando, apenas a incrível sensação de abandono e o desconfortável final de mandato.
Conheço diversas crises geradas pela solidão do poder. Os romanos diziam que “o poder embriaga mais que o vinho”. Quem está no poder imagina que sua mesa é eterna e a cadeira macia como ursinho de pelúcia! Ulisses Guimarães sempre repetia que o poder é afrodisíaco.
O poder apressa os cabelos brancos das pessoas, mas, em compensação, rejuvenesce por dentro. A própria esperança do poder é um alimento futurista que mantém a pessoa na vida.
Vejamos um caso de carrapato no poder, de nome PMDB (antigo Manda Brasa). Um partido que muitos gozam e poucos respeitam, exatamente porque não sabe ser oposição. Todos lutam pelo poder, exatamente como o PMDB. A diferença é que os outros brigam para chegar ao poder, enquanto o PMDB negocia para não sair dele. A solidão do poder, para o PMDB, é uma doença terminal, sem chance de recuperação.
O próprio príncipe, digo, o ex-presidente FHC, sentindo a hipótese antecipada da solidão do poder, procurou embaralhar sua sucessão, jogando, na época, vários nomes de seu partido (PSDB) para que José Serra não virasse o candidato tucano a presidência antes da hora, embora fosse seu candidato.
Quando vejo homens públicos de salto alto, imaginando serem imortais, como homens, e eternos, como governantes, “morro” de rir!
Recentemente, num programa da TV Senado que pautava diversos acontecimentos envolvendo políticos, do passado e presente, estive observando líderes verdadeiros e os falsos Messias.
Os líderes reais têm impregnado dentro de si a ousadia, agregam assessores calculistas, de visões futuristas e acima de tudo, competentes; também, ideias práticas e revolucionárias a seus projetos políticos. Estão sempre rodeados, no poder ou fora dele. Sabem ter a sensibilidade de reconhecer “quem é quem”. Já os políticos menores, geralmente fabricados pela mídia, pelo dinheiro, por algumas ditas “Igrejas” Evangélicas ou por empreiteiros, ávidos pela “cultura de obras”, ficam num canto, rodeado apenas por assessores de ocasião e bajuladores, sem expressão e sem direção. São fortes candidatos à solidão do poder, pois não se construíram em ideias e amor, nem cultivam sentimentos nobres como afeto e gratidão. É a solidão do poder, com certeza!
Os grandes estadistas superaram a solidão do poder com gestos extremados de amor ao povo. Getúlio Vargas matou-se para não trair a nação. Entre a solidão e a morte, ficou com a segunda.
Já os pigmeus da política vivem à rasteira “solidão do poder”, mesmo estando nele. Enquanto os estadistas entram para a história, os políticos descartáveis serão atirados no primeiro lixo da próxima esquina.
O problema dos falsos líderes é que acreditam na “panela” que criaram em torno de suas pessoas. Se esquecem que com muito fogo, a “panela” enferruja. Com fogo muito baixo, a “panela” não cozinha. E que fogo de puxa-saco só fica aceso, no ponto, mas no pontinho mesmo, com dinheiro no bolso.
(*)Marco Antonio Poletto é gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural.