O prefeito Pedro Manoel Callado Moraes é o último entrevistado de A Tribuna TV em 2016. Faltando exatamente 19 dias para o fim de seu curto mandato (tomou posse em pleno carnaval de 2015 em substituição à prefeita Eunice Mistilides que foi cassada), o juiz aposentado, advogado e professor de direito conversou por cerca de uma hora com o jornalista Alexandre Ribeiro no estúdio do jornal A Tribuna.
O prefeito respondeu perguntas sobre assuntos até então obscuros, mal esclarecidos ou não respondidos em outros veículos. Seu futuro político, detalhes sobre o que o fizeram desistir de uma natural candidatura a prefeito na véspera da convenção partidária que homologaria o seu nome, seu legado político/administrativo, dívidas e até avaliações sobre a atuação da câmara e de sua administração.
Em alguns trechos, diante de questões delicadas, Callado usou a sua conhecida habilidade verbal para evitar respostas comprometedoras. Foi o que aconteceu quando perguntado se tinha sido pressionado a desistir da candidatura: “Ninguém colocou um revólver na minha cabeça”. Ou quando perguntado sobre as verbas parlamentares que desapareceram durante o seu mandato, mas começaram a ser liberadas nas últimas semanas: “Sinceramente não sei o que aconteceu. Só posso atribuir à uma coincidência divina”.
A entrevista foi gravada em áudio e vídeo e poderá ser vista em dois blocos no canal do semanário no Youtube, a partir desta terça-feira, dia 20 de dezembro. Você poderá acessar o vídeo no endereço https://www.youtube.com/atribunajales ou no site do jornal www.atribunanaweb.com. Confira abaixo alguns trechos:
CARGO NO GOVERNO FLÁ
Callado é cotado para assumir o cargo de procurador geral do município, mas não quis confirmar a informação publicada com exclusividade pelo jornal na edição de 11 de dezembro. “Quem tem que anunciar os seus assessores é o prefeito. Nenhuma outra pessoa deve fazê-lo”.
DÍVIDAS
O Prefeito desmentiu as declarações do secretário de Fazenda, José Magalhães Rocha, nas quais ele tem dito que a administração Callado deixará uma dívida de R$ 11 milhões.
“Há um equivoco quando se diz isso. O Magalhães veio da iniciativa privada. A legislação diz que são dívidas o que deveria ser pago até 31 de dezembro e não foi pago. Os chamados restos a pagar. Temos algo em torno de R$ 5 milhões. Dá R$ 11 milhões se contar com a folha de pagamento de dezembro que deve ser paga em janeiro, com a merenda consumida em dezembro, a coleta de lixo e varrição. Essa é a dívida do dia-a-dia. Mas vão ficar em caixa aproximadamente R$ 9 milhões. Boa parte de verbas carimbadas. Só de asfalto são R$ 5,5 milhões. Mas a situação é bem melhor do que a que encontramos. O crédito da prefeitura no começo da administração era zero. Zero! Quem comprava era eu. Eu, o Magalhães e o Manoel de Aro (secretário de Obras) empenhamos o nosso nome. Dizíamos ‘pode vender que ela vai pagar. Nós temos esse compromisso”.
INSTITUTO DE
PREVIDÊNCIA
“Em 2016, o Instituto de Previdência do Município era o maior credor da prefeitura. Somente em parcelamentos feitos por administrações passadas, nós pagamos mais de R$ 7 milhões. Se não tivéssemos que pagar essa dívida que não foi feita na nossa administração, nós teríamos um superávit de R$ 2 milhões. É muito fácil para o Pedro Callado ficar um ano sem pagar o Consirj, sem pagar o Coreca, fazer malabarismo com a previdência e investir em asfalto, em praças… mas e a dívida? A dívida continuaria e acrescentando os encargos. Nós fizemos uma opção: Pagar as dívidas”. Em 2017 o Instituo de Previdência não será mais um grande credor. Ficará apenas uma dívida longa de 200 e poucas parcelas, uma loucura que foi feita na época”.
COMISSIONADOS
“Alguns cargos em comissão deverão ficar para que não haja uma quebra de continuidade. O doutor Horival de Freitas (promotor de justiça) entende que alguns cargos em comissão como os de tesoureiro, contador, a senhora que trabalha na prestação de contas, na casa abrigo de Barretos e outros, têm que ser concursado porque são técnicos e permanentes, não de assessoria, nem de chefia. Ele deu prazo até o dia 31 de dezembro para resolvermos essa questão, mas não tivemos como fazer o concurso e pedimos prorrogação do prazo porque esses serviços não podem parar. Ele deu até o dia 31 de abril. Os demais cargos como secretários e chefes de gabinetes serão todos dispensados na atual administração. A rescisão não ficará para o Flá”.
VERBAS PARLAMENTARES
“Os governos federal e estadual não repassaram quase nada de convênios em 2016. Foi um ano muito difícil. O que aconteceu nestes últimos meses que conseguimos essas liberações? Eu vou atribuir isso a uma coincidência divina. Foi coincidência mesmo. O importante é que deu certo. Quando eu vi que estava difícil de sair, eu comecei a levar alguém comigo para testemunhar que eu estava lá. Éramos sempre muito bem atendidos até pelo governador. Fui um dos poucos prefeitos da região que foi atendido pelo governador, que falou pessoalmente com o governador e sem marcar audiência. Ele ficou sensibilizado e liberou R$ 500 mil, mas não tinha mais dinheiro. Mas eu não vou ser hipócrita de dizer que não gostaria de fazer o asfalto, mas é muito egoísmo de minha parte”.
ECONOMIA EXCESSIVA
Perguntado se o esforço de contenção de gastos feitos pela administração foi exacerbado e prejudicou a prestação de serviços, como varrição, coleta de lixo e recapeamento asfáltico, Pedro Callado disse que sim. “Pode ser. Não vou afastar essa possibilidade. Mas de outro lado, nós fizemos uma opção de deixar de gastar naquilo que é visível, que aparece, para gastar com o ser humano. Nós não pensamos em colocar placa com o nome do Pedro Callado, mas de fazer o alicerce para a cidade continuar”.
ABDICAÇÃO DA
CANDIDATURA
“Não aconteceu nada de extraordinário. Nada! Realmente, se perguntassem se eu queria ser candidato, claro eu queria ficar quatro anos (para colher os frutos desse sacrifício). Quando eu fui procurado, eu já conversava com o Flá e com o Garça, o que nós procurávamos? O que é melhor para Jales? Atender um desejo pessoal de ser candidatos e continuarmos na mesma situação? Chegamos à conclusão de que o Flá era mais jovem e tinha mais disposição, estava com mais vontade. Quando tivemos que escolher o vice, o meu pai me lembrou que um amigo vale mais do que tudo na vida e me aconselhou a pensar se valia a pena me indispor com um amigo como o Garça. Agora, como a deputada Analice veio parar em Jales, quem chamou ela eu não sei. Só sei que ela praticamente avalizou esse acordo. Ninguém me obrigou a nada. Ninguém me obrigou a ser candidato a vice-prefeito e ninguém me obrigou a desistir da candidatura. Ninguém colocou um revólver na minha cabeça. Eu tenho noção de que muita gente ficou chateada com essa decisão, mas o que eu posso fazer? Entre eu, essas pessoas e Jales, Jales é mais importante e eu sou o último da fila. Sei que tinha gente que estava motivada a continuar o trabalho, mas fazer o quê? Jales precisava dessa união”.
DEPUTADO LOCAL
“Precisamos de um deputado local, como o doutor Rollemberg que morou aqui, morava na Rua Seis e andava pelas ruas de mãos dadas com a sua esposa. O empresário Luís Henrique Moreira está de parabéns por ter essa pretensão de se lançar candidato a deputado. Se ele for candidato, eu tenho certeza que Jales vai dar uma resposta positiva para ele, porque nós precisamos de um deputado que a gente encontre no dia-a-dia em Jales. Que a gente vá num almoço da APAE e encontra ele almoçando lá. Que vá numa solenidade da Santa Casa e encontre ele lá. O deputado acaba dispensando uma atenção maior para a sua cidade. Não que os outros não nos representem. Nós precisamos de mais um. O Luís Henrique Moreira é uma pessoa muito gabaritada para isso, é preparado para isso e tem todos os predicados para ser deputado e para representar Jales e essa microrregião. Os outros candidatos como Analice, Itamar e Carlão sempre serão bem votados em Jales. O que me preocupa são os outros que nunca pisaram em Jales e levam juntos mais de 10 mil ou 15 mil votos”.
FUTURO POLÍTICO
“O Garça me chamou a atenção outro dia dizendo que a gente nunca deve falar que não vai fazer isso ou aquilo porque a vida é muito dinâmica. Se você me perguntar o que eu quero fazer hoje, eu vou responder que quero terminar o meu mandato e entregar a prefeitura com menos problemas possíveis”.