A jovem estudante de pedagogia, Farah Lívia Menezes, de 23 anos, voltava de São José do Rio Preto no final da tarde de quarta-feira, quando o carro em que estava, um Ford Fiesta, se chocou violentamente contra uma Saveiro que fazia o sentido contrário. Ela, seu marido Rodrigo Modolo Torres, de 30 anos, que dirigia o carro, e a motorista da caminhonete, Silvana Catie Nardez Mendes, 55 anos, morreram. Larissa Mendes, de 26 anos, passageira da Saveiro, permanecia internada no Hospital de Base de Rio Preto, em estado grave até a tarde de quinta-feira, 17. O acidente aconteceu na Rodovia Euclides da Cunha.
Farah Lívia estava se preparando para colar grau em pedagogia pela Unijales e tinha ido a Rio Preto com o marido escolher um vestido para a formatura que seria em dezembro. No dia anterior ao acidente, a jovem tirou fotos para o álbum vestindo a beca que usaria na cerimônia. Família, amigos e colegas de faculdade estavam inconformados com a tragédia. A turma estava em plena semana acadêmica quando foi surpreendida pela notícia.
Ela foi descrita como uma jovem muito alegre, simpática e atenciosa, tanto na vida particular, quanto na faculdade, onde desempenhava as tarefas com companheirismo e prestatividade, quanto na loja onde trabalhava.
“Nossa querida amiga Farah Livia faleceu, juntamente com seu esposo Rodrigo Torres em um acidente de carro. Estamos todos com o coração partido. Amiga de faculdade, amiga de coração. Nós do terceiro ano de Pedagogia da Unijales estamos de LUTO”, escreveu uma das colegas de turma.
O ACIDENTE
De acordo com a imprensa riopretense, o Ford Fiesta ocupado por Farah Lívia e Rodrigo fazia o sentido Mirassol a Tanabi, quando perdeu o controle, derivou à esquerda, cruzou o canteiro central, invadiu a pista contrária e se chocou de frente com a Saveiro. Em seguida, capotou e parou no acostamento.
Com o choque, os dois carros tiveram a parte dianteira totalmente destruída e alguns componentes ficaram espalhados ao redor. Os bombeiros tiveram que usar aparelhos hidráulicos para retirar algumas vítimas das ferragens. O acidente aconteceu pouco depois das 16 horas no quilômetro 474, em Tanabi. Ainda segundo os jornais e TVs de Rio Preto, a suspeita é que o pneu do Fiesta tenha estourado.
Corpos só chegaram a Jales 24 horas depois do acidente
Além de enfrentar a dor de perder entes queridos de forma tão trágica e em uma ocasião tão especial, as famílias de Farah Lívia e Rodrigo Torres foram torturadas pela demora na liberação dos corpos, que só chegaram a Jales depois das 16 horas de quinta-feira, ou seja, mais de 24 horas depois do acidente. O sepultamento só foi possível na manhã de sexta-feira, quando já havia se passado cerca de 40 horas.
Depois de serem levados para a Santa Casa de Mirassol, onde os médicos teriam constatado a morte o casal foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) de Rio Preto, onde passaram pela necropsia antes de serem liberados para a funerária de Jales. Rodrigo chegou ao velório por volta de 16h20 e Farah Lívia próximo de 18 horas.
A demora revoltou parentes, amigos e conhecidos, que classificaram a situação como absurda, cruel e desrespeitosa. As manifestações de revolta acompanharam as de pesar no Facebook. Mais de duas dezenas de pessoas pediram providências na rede social e quase duas centenas concordaram e endossaram a reclamação.
“Que barbaridade. Infelizmente essa é a situação que a população se encontra. A mercê do descaso”, disse uma cidadã.
“Isso é uma falta de respeito tremenda uma falta de vergonha na cara! Alguma autoridade tem que tomar alguma providência! Até quando isso vai acontecer?”, perguntou outra.
“Esse problema de IML já vem se repetindo há tempos e sabe o que as autoridades fazem?? Nada! Nada como sempre. Cadê os prefeitos, vereadores, deputados e lideranças políticas? Precisamos dar um basta nisso”, clamou um terceiro.
SITUAÇÃO INSUSTENTÁVEL
De acordo com a reportagem da TV Record Rio Preto, a demora teria sido causada pela redução do número de funcionários do período de atendimento no instituto.
Em agosto, houve uma redução no horário de atendimento que antes ocorria 24 horas por dia e foi restringida das 7 da manhã às 19 horas. Os corpos que chegam nesse intervalo entram na fila e só são autopsiados no período diurno.
O promotor de justiça José Heitor dos Santos disse que a situação está insustentável. “Faltam peritos, faltam médicos, faltam funcionários e não é de hoje. Tem um número aquém daquele que o próprio estado determinou como ideal. Cabe ao estado dar a estrutura mínima para que as pessoas sejam bem atendidas”.
Segundo a reportagem, um concurso público para contratação de 17 médicos que atuarão na região estaria em fase de finalização.
O assunto já foi discutido na Câmara de Jales através de pelo menos dois requerimentos. O primeiro em abril de 2007, há oito anos. Na ocasião, Claudir Aranda da Silva, Gilberto Alexandre de Moraes e Jediel Zacarias pediram informações sobre os motivos pelos quais os mortos em Jales eram encaminhados para necropsia em Santa Fé do Sul. O requerimento nem sequer foi respondido até hoje.
O segundo em julho de 2010, quando o então vereador Rivelino Rodrigues pediu informações sobre a demora na realização de necropsias e a falta de médico legista em Jales. Nesse caso, a resposta foi uma verdadeira enrolação, que não indicou solução para o caso até hoje.