“Não vejo em mim a obrigação de advogar por esta cidade, pelo simples motivo de nunca me sentir, necessariamente, nativo de lugar nenhum! É aquela velha máxima de “cidadão do mundo”, mas, apesar de tudo, como jalesense que sou, não por título de cidadania (coisas de vereadores), já que nasci aqui e, principalmente pela esburacada estagnação em que se encontra nossa cidade, me sinto agora, e como, na obrigação de fazê-lo! Apesar dos pesares.”
Eu acho que a gente não tem idade e sim vidas, e muitas! Nestas minhas muitas vidas tive a oportunidade de conhecer muita gente, apesar de ter passado uns bons anos fora desta terrinha. Gente que já se foi, gente que está por aqui, por ai. Gente que nasceu, viveu e morreu em Jales. Gente que veio nos visitar e nunca mais foi embora. Gente que por aqui veio para trabalhar nos mais diversos setores, gente que constituiu famílias. Enfim gente… como a gente, que gosta de Jales!
Outro dia, conversando com amigos atuais e outros de longas datas, nos lembramos de tantas coisas da famosa Jales: antiga e atual. Da antiga… saudade! Da atual…tristeza!
Lembramos também, de pessoas que fizeram história ou anônimas, que de alguma forma, foram lembradas, neste papo agradável e informal. O retorno de algumas pessoas é o amor pela cidade, neste rebento de continuar o que alguém já tinha começado, é de quem tem orgulho de ser jalesense.
Pensar em Jales hoje é não ter partido político. É não querer articular, ou manipular e ter por missão sensibilizar as pessoas e, principalmente os mandatários em relação, por exemplo, às árvores e natureza que habitam nosso entorno, praças, parques, campos, avenidas, caminhos do dia a dia, melhores oportunidades de trabalho, planejamento e desenvolvimento que formam a qualidade de vida e estão ligadas com a integração do indivíduo com o lugar onde vive.
Por tudo isso, necessitamos de pessoas determinadas e organizadas para coibir a destruição do nosso patrimônio histórico (um exemplo clássico é o Clube do Ipê, um dos últimos patrimônios histórico de Jales, que está em total abandono) e não por pessoas sem o mínimo de consciência de tudo isso. Valorizando a cidade, você está cooperando, acima de tudo, com você mesmo e com nossa memória. Escolhi esse enfoque por um simples motivo: já há algum tempo ouço reclamações sobre o chão onde se pisa: buracos, desleixo com o bem público, incompetência, falta de lazer, do que fazer, festas… algo diferente, etc..
Tudo que alguém, que tem a oportunidade, puder fazer por Jales será bem vindo. É a famosa recíproca: ter amor por esta terra, querer bem, quem sempre nos acolheu.
São poucas as cidades pequenas que são como Jales: bem localizada, estrategicamente, entre três estados e, com uma malha rodoviária e ferroviária interessante. Espero não estar sendo mal interpretado. Claro que o Jalesense ama sua terra. Definitivamente. Admiro seu interesse pelas suas raízes e seus costumes e outras peculiaridades encontradas somente aqui. Mas, agora que quero expor uma ideia que me “sufoca’ há anos e que tenho a oportunidade de dividi-la com vocês”. Não posso! Por tudo que esta cidade hoje está passando. Quando falo para alguém de onde sou, explico tudo isso: é uma cidade pequena, mas tem isso e aquilo. Nossa cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida. A moldura à procura de retrato é isso que eu vejo quando penso em Jales. Não são ruas, não são casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. Um dialeto chamado memória, numa nação chamada infância.
A simplicidade, associada a sua beleza natural, é o que faz de Jales um lugar especial. Mas então porque as reclamações com a falta de lazer, como citei acima? Simples. A resposta está na palavra rotina. Seja aqui, sombrio ou em qualquer outro lugar do mundo, a rotina gera stress, insatisfação com o seu cotidiano. São Paulo, a cidade com mais opções de lazer e trabalho é a campeã de stress.
A qualidade de vida está nos pequenos centros, acredite. Dar valor ao seu chão é valorizar suas raízes e sua própria existência. Mas, na próxima eleição pense bem para quem você vai dar o voto. Quem vive ou viveu por aqui, agradece.
(*)Marco Antonio Poletto é gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural.