Muito interessante o “Brasil do Temer” que foi apresentado no Roda Viva, na TV Cultura, na segunda-feira, 14 de novembro. Lembrando que são mais de seis meses a frente do executivo – o ministério foi nomeado dia 13 de maio de 2016, há 6 meses. A grande mídia e os jornalões resolveram ouvir o conselho de Temer: não fale em crise, trabalhe. No Roda Viva desta segunda, por exemplo, não foi citada a palavra “crise” nenhuma vez. O programa permaneceu morno e foi assim durante os todos os blocos, mas nada, absolutamente nada, superou a última pergunta de Noblat, no último bloco, nos últimos minutos de programa: – “Temer, como você conheceu a Marcela?” (Marcela, 43 anos mais jovem que Temer é a 1ª Dama, esposa do golpista). Um jornalista que, em tese, se diz sério, em momento delicado de nossa democracia, pergunta como o presidente conheceu a sua atual esposa. Essa pergunta poderia ser feita pelo Leão Lobo ou pela Ana Maria Braga, mas foi feita por Ricardo Noblat. O cenário reflete o serviço que o programa da TV Cultura parece ter cumprido ao presidente: MARKETING. Isso porque poucos momentos após a entrevista, Temer agradeceu ao jornalista Wiliam Corrêa, também diretor de jornalismo do canal, pelo espaço de “propaganda” cedido.
Temeridades a parte e, falando em primeira dama, semana passada estava analisando o Suplemento de Assistência Social da Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2013 (biblioteca. ibge.gov.br) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fiquei surpreso com um dado interessante, não resisti, e trouxe uma análise sobre esse dado:- No Brasil, vários municípios têm a área de assistência social comandada pelas mulheres dos prefeitos. Ou seja, em terras brasileiras primeira-dama é profissão e dá a garantia de participar do governo.
Um exemplo desta farra está no Nordeste, segundo o site políticapb.com.br, as primeiras-damas comandam o setor social em 466 cidades. O site Wikipédia nos informa que a criação do título de primeira dama é creditada ao ex-presidente dos Estados Unidos, Zachary Taylor (1849-1850), o qual chamou Dolley Madison, esposa de James Madison, de “primeira-dama” (First Lady, em inglês), durante o seu funeral, enquanto recitava um elogio escrito por ele mesmo. O título, lá nos Estados Unidos, também é dado a mulheres de cargos políticos como secretário. Ex.: Primeira dama do secretário da Educação, do Desporto/Esporte, do Turismo, da Saúde… Se essa moda pega por aqui, vai faltar mulheres!!!!!!!!
No Brasil as mulheres dos prefeitos atuam em 45,3% dos municípios na área de assistência social. Das 5.565 prefeituras do país, em 1.964 a primeira-dama conduzia a política de assistência social em 2013. Segundo a pesquisa, do total de primeiras-damas que atuam na área de assistência social, 47% delas tinham ensino superior. Esse aspecto detectado pelo IBGE é abominável por vários aspectos, mas vou citar apenas dois. Primeiro trata-se de uma prática de nepotismo que deve ser combatida pelo bem da moralidade pública e a garantia que se terá alguém competente à frente do posto e não uma pessoa que tem como qualificação ser a mulher do gestor. Além disso, essa é uma forma encontrada pelos políticos de terem o comando do setor que, principalmente em cidades pequenas e pobres, é responsável pela conquista dos votos de muitos eleitores que necessitam dos auxílios dos programas sociais. O pior é que algumas se comportam como “super secretárias” se achando no direito de mandar e desmandar dentro das prefeituras, inclusive, em alguns casos no próprio marido/prefeito. A primeira-dama não pode criar uma figura externa ao poder capaz de, em muitas situações, ter sua opinião transformada numa bíblia a ser seguida fielmente sob pena de uma perigosa colisão política de imprevisíveis consequências para quem desvia do seu pensamento.
Outra coisa interessante que o site políticapb nos mostra é que ao questionar algumas mulheres de prefeitos sobre a profissão delas a resposta era: eu sou a primeira-dama do município, como se isso fosse profissão!
Em Guarulhos, a segunda maior cidade paulista em arrecadação e a sétima do País, segundo a revista Carta Capital, existe uma investigação conduzida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP). O inquérito nº 79/2013 instaurado pela Promotoria de Justiça da cidade investiga um suposto escândalo de corrupção que envolve a prefeitura e duas conhecidas instituições não governamentais dedicadas à implantação de programas sociais na área da Saúde. Estas ONGs, fundadas pelo próprio prefeito de Guarulhos e que foram administradas pela primeira-dama e assessores, seriam possivelmente utilizadas como fachada para um esquema de caixa 2 destinado a financiar campanhas eleitorais, segundo o Ministério Público.
Resta apenas lamentar uma mentalidade tão pequena dessas pessoas que vivem a sombra dos maridos. Acredito que as mulheres não devem ostentar o título de primeira-dama. É muito melhor ter uma profissão e ter a sua particularidade, ser reconhecida pelas suas ações e qualificações, e não por ser a mulher do prefeito.
Nunca ouvi um homem ostentando o posto de primeiro-cavalheiro. Alguém já ouviu? Definitivamente, primeira-dama não é profissão e não dá direito a assumir posto dentro de governos municipais. E você, o que acha?