As previsões feitas no início de outubro pelo vereador Luís Rosalino (PT), segundo as quais as demissões promovidas pelo prefeito Pedro Callado na Secretaria Municipal de Saúde iria levar o setor ao caos, ainda não se concretizaram, mas algumas unidades de atendimento do programa Estratégia de Saúde da Família(ESF) enfrentam sérios problemas. A reportagem de A Tribuna visitou os nove postinhos de saúde do ESF e constatou a falta de médicos, agentes de saúde, recepcionistas e faxineiras. A falta de recepcionistas e faxineiras, no entanto, são as únicas que podem ser creditadas às medidas tomadas por Callado e criticadas pelo vereador petista.
Os problemas mais graves estão nos postinhos do Jardim Municipal e do Uni-América, onde faltam médicos. Nestes dois locais, os usuários que buscam por consultas com o clínico geral estão sendo encaminhados para o Núcleo Central de Saúde, no centro da cidade. Apesar da falta do clínico geral, os dois postos contam com pediatras e ginecologistas, que atendem uma vez por semana, além do dentista, que atende todos os dias. O atendimento de especialistas – pediatra e gineco – nos postos de saúde foi introduzido pela ex-prefeita Nice Mistilides.
No caso do Uni-América, algumas consultas estão sendo encaminhadas para o ESF Rural, localizado a poucos metros. Mas não são todos os dias que o clínico geral do ESF Rural consegue atender pacientes do posto do Uni-América. Além disso, o Uni-América ficou sem a recepcionista e a faxineira. Na terça-feira, quando a reportagem de A Tribuna esteve no posto, uma das funcionárias demitidas é quem estava atendendo na recepção. “O meu último dia de trabalho foi na sexta-feira passada, mas eu vim dar uma ajuda para as minhas ex-colegas, pois sei que não está fácil para elas”, disse a mulher.
No Jardim Municipal falta médico, mas a situação é um pouco melhor. “Aqui só está faltando o clínico geral. Ontem nós recebemos dois novos funcionários, que foram removidos para cá, em substituição aos que saíram. Então, só falta resolver a questão do médico”, explicou uma funcionária. No Jardim Paraíso, a previsão era de que o posto do ESF teria clínico geral apenas até a quinta-feira, 29. “Segundo me disseram, a médica só vai vir trabalhar mais dois ou três dias”, disse uma funcionária. O posto estava sem faxineira e os serviços de limpeza estavam sendo feitos por agentes de saúde. Para piorar o quadro, o posto está passando por reformas. “Nós estamos nos revezando na limpeza, mas isso prejudica o nosso trabalho”, reclamou a funcionária.
No posto do conjunto habitacional “Roque Viola”, cuja área de cobertura engloba 7.000 habitantes daquela região da cidade, a situação era quase a mesma, com os agentes de saúde e outros funcionários fazendo os serviços de faxina. “Com relação à limpeza, nós estamos fazendo apenas o básico. Temos a expectativa de que esse problema da falta de faxineira esteja resolvido na semana que vem”, disse o enfermeiro chefe, Renan. No Jardim Oiti não falta médico, mas, em compensação, o posto tem apenas 04 agentes de saúde em uma área com cerca de 6.000 habitantes. Dos 04 agentes, dois estão de licença. Além disso, o posto está há mais de dois anos sem dentista e a farmácia está fechada há mais de um ano, desde que a farmacêutica foi transferida.
O posto do Jardim Arapuã, que cobre uma população de 5.000 habitantes é o único que está com a equipe completa. É também, o único posto onde o ginecologista atende duas vezes por semana. “A demanda aqui é muito grande. Nós pedimos e a Secretaria de Saúde, depois de analisar os números, autorizou que o atendimento do ginecologista fosse estendido”, explicou a enfermeira. No posto do JACB também não estava faltando médico, mas, segundo a enfermeira, o clínico geral só trabalharia até a quinta-feira. O posto conta com apenas 06 agentes de saúde e também está sem faxineira e recepcionista. A limpeza estava sendo feita pelas agentes, em sistema de rodízio.
Nos postos do Jardim São Jorge e do Novo Mundo, a rotina dos funcionários também foi alterada, devido à falta de faxineiras e recepcionistas. “Com relação à limpeza, nós fizemos uma escala e estamos contando com a colaboração de todo mundo para manter a unidade limpa e asseada”, explicou a enfermeira do Novo Mundo. Nas duas unidades, não faltam médicos e o atendimento está normal. “Nós temos uma média de 30 consultas diárias que são agendadas com antecedência. Além dessas, nós reservamos algumas consultas para atender os casos urgentes, quando a pessoa nos procura e precisa ser consultada no mesmo dia. Aqui ninguém fica sem atendimento”, garantiu a enfermeira.
Secretário reconhece problemas
O Secretário Municipal de Saúde, Leonel Renel de Queiroz, reconhece as dificuldades que o setor está atravessando, mas acredita que elas serão superadas em breve. “Claro que o pessoal das empresas terceirizadas está fazendo falta, mas nós temos que compreender o momento de dificuldade do município e fazermos a nossa parte. Aqui mesmo no prédio da Secretaria, nós estamos sem faxineiras e já combinamos que vamos, nós mesmos, cuidar da limpeza do dia-a-dia. E os funcionários já estão até estudando a possibilidade de fazer um mutirão no sábado para uma limpeza mais completa”, disse o secretário.
Leonel reconhece, também, que a Prefeitura está encontrando obstáculos para remover servidores de carreira para a Saúde. “Alguns servidores estão resistindo à ideia de trabalhar na limpeza dos postos de saúde e não estão concordando com a remoção. Nós estamos fazendo um trabalho de convencimento e acredito que, com o tempo, eles vão aceitar a mudança e as coisas vão se normalizar”. Quanto à falta de médicos, Leonel acha que o problema deverá estar resolvido até o final de novembro. “A Prefeitura já abriu uma nova licitação para substituir os médicos que estão saindo. Se tudo der certo e se houver interessados, os novos médicos já estarão contratados ao final de novembro”, avalia o secretário.
De sua parte, a coordenadora dos postos do ESF, Sílvia Maria Alves, reconhece a falta de agentes de saúde. “Nós teríamos que contar com 90 agentes de saúde, mas, no momento estamos com apenas 66, o que é pouco. Na verdade, nós precisaríamos ter mais postos do ESF, pois alguns setores estão sobrecarregados. Na região do “Roque Viola”, por exemplo, o posto atende uma população de 7.000 habitantes, quando o preconizado pelo Ministério da Saúde é de 4.000 por posto”, explica Sílva. “Nós vamos nos virando com o que temos, pois sabemos que, no momento, a Prefeitura não pode fazer concursos e contratar mais agentes, por conta dos índices de gastos com pessoal”, completa Sílvia.
Funcionárias demitidas pedem ajuda
Algumas das funcionárias demitidas em função da rescisão do contrato entre a Prefeitura e a Gestore Serviços, do empresário Alexandre Periotto, procuraram a Câmara Municipal, na quinta-feira, 29, em busca de ajuda. “Nós temos filhos para tratar e contávamos com esse emprego até pelo menos março do ano que vem, quando venceria o contrato”, reclama Karina, que trabalhou na empresa por cerca de três anos. Moradora do Jardim Municipal, Karina – que é separada – trabalhava no posto do ESF do Jardim Paraíso e contava com o salário para pagar o aluguel e cuidar dos três filhos menores. “A gente ganhava pouco mais de R$ 1 mil por mês, mas era suficiente para sobrevivermos. Agora, nós estamos à procura de outro emprego, mas, com essa crise, não está fácil”, disse Karina.
Ao lado dela, Tereza, que trabalhava como auxiliar de serviços de limpeza no posto do Uni-América, concordava com tudo. Assim como Karina, ela também paga aluguel. “Eu trabalhava bastante, mas gostava do meu serviço. Tenho dois filhos e preciso trabalhar para ajudar nas despesas de casa”, diz Tereza. Valéria, outra vítima das demissões esperava ter um final de ano um pouco melhor. “Eu fui apanhada de surpresa e não esperava isso do doutor Pedro. Presto serviços à Prefeitura há um sete anos. Primeiro através da frente de trabalho e nos últimos três anos através da Gestore. Agora vou ter que entrar na fila do desemprego”, diz Valéria.
Suzeli é outra que possui três filhos e precisa ajudar nas despesas de casa. Há quase três anos que ela era a responsável pela limpeza do posto do Jardim Municipal. “Sexta-feira foi meu último dia de trabalho. Foi muito triste, não apenas pelo salário, mas também porque eu gostava do que fazia. A minha função era manter o posto limpo, mas eu ajudava na entrega do leite e em outros serviços”, disse Suzeli. Ana, que trabalhava no Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), também integrou o grupo que esteve na Câmara. Separada do marido, ela conta que cuida de dois netos. “A ex-mulher do meu filho foi embora e deixou eles comigo. O seguro-desemprego vai me ajudar durante algum tempo, mas depois eu vou ter que correr atrás de outro serviço”, concluiu Ana.