Há 16 anos (quatro mandatos), o contador e advogado aposentado Roberto Vieira Lima, ou “Robertinho”, como é carinhosamente chamado pelos amigos e irmãos da maçonaria, ocupa a presidência do Conseg (Conselho de Segurança) de Jales. É esse órgão comunitário que discute as necessidades, elege prioridades e sugere as medidas para melhorar a segurança da população. O Conseg é ligado à Secretaria de Segurança Pública. O grupo é integrado por membros da comunidade e das forças policiais. Pessoalmente empenhado na implantação de um sistema de monitoramento por câmeras na cidade, Roberto diz que não compreende por que o projeto para criação da Guarda Civil Municipal está bloqueado pelo presidente da Câmara Municipal, Bismark Kuwakino, há meses.
“Seu Robertinho” nos recebeu na tarde da última quarta-feira, em seu recanto aprazível ao lado da nascente do Córrego da Roça, em frente ao extinto Jales Clube, sob a sombra de árvores e ao som do canto de muitos passarinhos. Antes da conversa, ele nos apresentou com orgulho o projeto de loteamento da propriedade que vai dar lugar a um condomínio fechado com 303 lotes.
A Tribuna: Como o Conseg é formado? Tem mandato, eleição, quantos são os integrantes?
Roberto Vieira Lima: Ele é um elo entra as autoridades e a comunidade e é independente. O Conseg é formado por membros da comunidade que participam de entidades. Por exemplo, se você tem um problema acontecendo na sua comunidade, leva para o Conseg que leva para as autoridades. O mandato é de dois anos e não tem limite de integrantes, mas tem membros natos. O chefe da Polícia Civil e da Polícia Militar são membros natos e temos os membros efetivos que são da comunidade e são eleitos todo ano ímpar. No ano que vem já vai ter eleição outra vez.
A Tribuna: Quais são os casos mais recorrentes no Conseg?
Roberto Vieira Lima: Temos muito tráfico e consumo de drogas e furtos. Mas temos a questão do trânsito, as motos de entregadores que não respeitam nada, avançam o sinal, andam em alta velocidade…nesse caso teremos que fazer uma campanha de conscientização. Acho que se tiver um trabalho de conscientização pode diminuir bastante isso.
A Tribuna: Vocês têm contato com o pessoal do Departamento de Trânsito da Prefeitura?
Roberto Vieira Lima: Sim, o doutor Altair Leon faz parte do Conselho, o Wellington Lima Assunção, temos representantes da Câmara, da OAB, da Maçonaria, Associação Comercial, modéstia à parte temos um pessoal muito bom e este Conseg é muito considerado na Secretaria de Segurança Pública. Inclusive com carteirinha e registro na Secretaria.
A Tribuna: O Conselho é deliberativo, consultivo…enfim qual a função do Conseg?
Roberto Vieira Lima: Aconselhamos e mandamos para as autoridades competentes. Quando é prefeitura mandamos para a prefeitura, quando é Polícia Militar mandamos para a Polícia Militar e etc. É um elo entre as autoridades e a comunidade, mas não temos ligação com nada. Estamos vinculados à Coordenadoria dos Conselhos e já faz três anos que estamos muito envolvidos com o projeto das câmeras de segurança e da Guarda Municipal. Sem a guarda não é possível montar o sistema de câmeras porque a Polícia Militar não tem contingente para fazer o monitoramento na central. E sem monitoramento, fica inativo.
A Tribuna: Vocês já têm o levantamento dos locais onde as câmeras seriam instaladas?
Roberto Vieira Lima: Sim, temos uma lista com 25 locais que foram levantados pela Polícia Militar e o Conseg fez uns pequenos acréscimos, mas o bojo foi a PM que fez. São entradas e saídas da cidade. Estamos muito empenhados nisso e recebemos muito apoio da Prefeitura, da Justiça e da Polícia. Futuramente pretendemos implantar o Detecta, um sistema de monitoramento que vai reduzir a zero o furto e roubo de carros. É um esquema mais para frente, depois que isso estiver montado.
A Tribuna: Primeiro vem a Guarda Municipal e depois as câmeras?
Roberto Vieira Lima: Sim, porque não tem como ser diferente. Não adianta eu colocar as câmeras e não ter como fazer o monitoramento. A Guarda vai ficar meio preventivo porque quando o cara vem para roubar, ele faz um levantamento para saber qual é o policiamento que tem. Tentamos fazer através da Atividade Delegada, que é aquele programa onde o policial de folga faz outras tarefas e é remunerado pela Prefeitura, mas não deu certo, não havia efetivo, então partimos para a Guarda Civil.
A Tribuna: Por que a Guarda Civil?
Roberto Vieira Lima: Olha, Santa Fé do Sul já tem Guarda Civil há vários anos e nós somos centro de região [e não temos]. Nós recebemos gente de três estados. O projeto já está na Câmara, mas o problema é grana.
A Tribuna: Parece que está engavetado na Câmara já faz tempo sem ir para votação. O presidente é contra e não deixa os outros vereadores votarem.
Roberto Vieira Lima: Sim, está. Faremos uma reunião em breve e eu espero que o presidente Bismark coloque em votação antes dele sair porque o mandato dele termina daqui a um mês. Tem que dizer claramente o que a Câmara precisa. “É isso e isso”, aí vamos tentar resolver pra não ficar engavetado. O negócio tem que andar.
A Tribuna: A Câmara já ouviu o Conseg sobre esse assunto?
Roberto Vieira Lima: Nada, não fez reunião nenhuma. Na verdade, o Bismark faz parte do Conseg. Ele é convidado. Mas é o tal negócio: ele que tem outras prioridades que a Prefeitura não corrige porque não tem verba. Então [ele questiona] vai ter R$ 1,7 milhões para Guarda Civil? É por isso que ele está engavetando. Só que isso aí é investimento para o futuro, é segurança. O cara tem que pensar para frente. É ele que pauta, ele que tem o poder de colocar na agenda. Vamos cobrar dele porque ele é contra, afinal. O pessoal da Prefeitura já fez reunião com eles (vereadores), mas eles não dizem o que querem, o que está emperrando a votação.
A Tribuna: No que a Guarda Civil pode ajudar na segurança da cidade?
Roberto Vieira Lima: Em tudo! A Polícia Militar precisa de reforço e isso a própria Associação dos Vigilantes fala. A GCM daria reforço na frente das escolas, por exemplo, porque a Polícia não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas se tivesse a Guarda Civil com dois ou três carros e três ou quatro motos já faria uma ronda até o centro da cidade e ajudaria até a Polícia Civil. Inicialmente serão 50 componentes que farão instrução de tiro e de procedimentos com a polícia militar. Os bandidos saberiam que tem Polícia Militar e Polícia Civil, mais Guarda Civil e sistema de câmeras, então seria um reforço grande.
A Tribuna: A Guarda Civil é importante também para a parte ostensiva que desestimula qualquer um que estiver pensando em cometer um delito.
Roberto Vieira Lima: Justamente. E outra: a Guarda Municipal é a guarda do patrimônio do município e isso é muito importante porque é um trabalho que a PM não tem condições de fazer. Se tiver alguém destruindo ou furtando um patrimônio, a PM não pode parar o policiamento para isso. Então é a Guarda Civil que vai prender e levar para a delegacia.
A Tribuna: O que o senhor acha dessa liberação do porte de arma que foi feita ultimamente?
Roberto Vieira Lima: Eu acho que não pode porque é uma segurança ilusória. Às vezes o cara vem e você não sabe usar a arma. Na hora do fecha, você vai querer usar e o cara te mata. Então é melhor ficar sem usar. Sou a favor de ter em casa, no sítio para sua segurança. Eu tenho uma aqui para me proteger porque aqui vem até onça pintada. Mas para andar na rua o civil não está preparado. Eu sempre falo para as pessoas, se acontecer alguma coisa, não reaja. Às vezes vem a vontade de reagir, mas o risco não compensa.
A Tribuna: A polícia tem atendido os pleitos do Conseg?
Roberto Vieira Lima: Sim, sempre atendem muito bem. A Prefeitura e a Câmara também. O Bismark ajudou a gente em muitas situações. Só encravou nesse negócio da Guarda Municipal. Acho que ele pegou birra. Na minha opinião quando eles mandaram o projeto, mandaram meio frouxo, com valores atrapalhados e ele pegou birra.