Quarta-feira, Dezembro 11, 2024

Entrevista da Semana Leonardo Camargo Juiz de Rodeio

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Fisioterapeuta por formação e juiz de rodeio por paixão, Leonardo Camargo, 41 anos, já atuou nos maiores rodeios do país, em São Paulo e em outros estados. Como todo bom profissional, começou de baixo. Depois de quase 15 anos de experiência, alcançou o andar mais alto e hoje em dia trabalha ao lado de seus antigos ídolos. Mas sua atuação não se restringe à sua função primária. Léo ajuda também na organização de algumas festas e foi o coordenador do bem sucedido rodeio da Expo Jales. “Se eu parasse agora, estaria realizado”, disse. Leonardo Camargo é o nosso Personagem da Semana.

A Tribuna: Como você começou a trabalhar como juiz de rodeio?
Leonardo Camargo: Eu me formei em fisioterapia e até passei num concurso público no Mato Grosso em segundo lugar, mas era uma vaga só. Mas sempre gostei de rodeio. Num determinado dia eu fui num rodeio em Fernandópolis e comecei a prever as notas das montarias e percebi que elas estavam batendo com o que os juízes davam. Então eu vi que conhecia um pouco. Pouco tempo depois eu vi o anúncio de um curso com o Tião Procópio (um ícone na área), em Rio Preto. Aí eu fiz o curso. No mês seguinte, era o rodeio de Santa Albertina e com a ajuda do Cleber Taji, consegui entrar na festa. Recebi R$ 200,00 para o qualify. Achei que eu estava rico. Julguei mais de 100 montarias. Dois meses depois, fechei outra festa com os sobrinhos do Vadão Gomes. O cachê caiu um pouco. Recebi R$ 150,00 e uma entrada para a boate. Depois, no ano seguinte, veio o rodeio de Paranapuã, que é um dos mais fortes da região, onde eu julguei o qualify e no ano seguinte o profissional. Isso alavancou a minha carreira. Hoje eu julgo os maiores rodeios do Brasil. Já julguei em Barretos, Colorado, Americana, Jaguariúna, sou juiz em Rio Verde há 11 anos com o Tião Procópio, Aparecida do Taboado, Fernandópolis, Jales e outras. Profissionalmente, estou realizado. Sofri muito, mas hoje viajo, convivo com o Tião Procópio, Almir Cambra e outros que eu ouvia falar. É coisa de Deus.

A Tribuna: O que você avalia na hora de dar a nota?
Leonardo Camargo: São muitos critérios. Avaliamos 50% da performance do animal e 50% do competidor. Nós avaliamos o grau de dificuldade da montaria, o pulo, o coice. A responsabilidade é grande porque os donos de tropas querem que o seu animal tenha uma boa pontuação porque isso valoriza a tropa e o competidor também quer porque vale a premiação.

A Tribuna: O que é mais difícil de julgar, touro ou cavalo?
Leonardo Camargo: Cavalo. As montarias em cavalo são muito parecidas, então a avaliação tem que ser em detalhes. Às vezes não pula tanto, não coiceia tanto, então a nota acaba sendo para o conjunto.

A Tribuna: O animal é considerado de boa qualidade, se ele proporciona uma boa nota ao peão ou se ele não deixa os peões permanecerem em cima dele?
Leonardo Camargo: Hoje no Brasil tem um cavalo chamado Folião, que é do Luizão Preto. Ele é um fenômeno. Está invicto. É o touro bandido dos cavalos. É um cavalo muito difícil e a média dele em todos os eventos é muito alta. Isso ajuda no desempenho da tropa na média. É um cavalo diferenciado. Isso valoriza. Para contratar a tropa é um preço e para levar ele é outro preço.

A Tribuna: Igual foi o touro Bandido?
Leonardo Camargo: Sim. Eu falo que o Brasil nunca vai esquecer o touro Bandido. Ele está entre os cinco maiores nomes da história do rodeio no Brasil, ao lado de Asa Branca, Zé do Prato, Paulo Emílio…O touro Bandido está entre as cinco celebridades que nunca vão ser esquecidas no cenário do rodeio nacional.

A Tribuna: Você tem medo de sofrer um acidente?
Leonardo Camargo: Sim, tenho. Um boi já me pegou na arena. No rodeio de Inocência. Estava chovendo, eu escorreguei e o touro me pegou e pisou em cima de mim. Sorte que eu caí de barriga pra baixo porque seu eu caio de barriga pra cima, não sei o que poderia ter acontecido. Eu tive que sair do rodeio e fiquei internado, mas não foi nada de muito grave. Para “ajudar”, na semana seguinte era o rodeio de Jales. Até hoje foi o único acidente, mas é muito perigoso.

A Tribuna: E é um esporte radical, né?
Leonardo Camargo: Sim. Nós temos uma associação e eu, com o nome que eu tenho na profissão, temos uma associação onde eu brigo pela segurança de todos que trabalham no rodeio. Porque são animais [não têm controle]. E é muita gente na arena. Brigo por uma plataforma onde a gente possa sentar e trabalhar em segurança, fora da arena.

A Tribuna: Atualmente quem está trabalhando fica dentro da arena, junto com os animais no meio das montarias?
Leonardo Camargo: Fotógrafo, locutor, assessor do locutor, salva vidas, juiz, laçador, madrinheira…todos ficam dentro da arena. A ideia é que só fique na arena quem estiver realmente trabalhando naquele momento. O juiz, por exemplo, para ter um melhor desempenho, poder avaliar com mais tranquilidade, ele teria que ficar em lugar seguro, fora da arena. Nos Estados Unidos, os juízes julgam fora da arena. Tem juiz que julga em cima dos bretes. Não fica ninguém na arena que não seja necessário. Não tem ninguém passando na sua frente para atrapalhar a vista e você não passa na frente de ninguém. Tem um caso famoso de um fotógrafo que foi surpreendido pelo touro e ele não viu porque estava concentrado na câmera. Ele estava esperando a saída do touro em uma porteira e escapou o touro de outra. Por Deus, o touro chegou perto, mas não foi nele. O fotógrafo ficou bem famoso e tem milhões de visualizações no You Tube.

A Tribuna: Você dizia que o rodeio cresceu muito no Brasil
Leonardo Camargo: Hoje em questão de qualidade, de genética cresceu demais. Os animais estão muito bons. Cresceu muito em qualidade. Perdeu um pouco em questão de patrocínio. Tem gente que acha que precisa contratar um show de R$ 600 mil ou R$ 900 mil para levar público para o rodeio. Para você ter ideia, eu estive num rodeio num sítio em Itajobí. Eles montaram um circo, colocaram cerveja gelada, cobraram R$ 10,00 ou R$ 20,00 e levaram os melhores do Brasil. Levaram só a nata, como Almir Cambra, Tércio Miranda, WR, Tito Cardoso, eu. Mesmo com chuva, faturaram mais de R$ 320 mil. Se paga R$ 1 milhão para o show de Gustavo Lima, acaba atrapalhando o rodeio. É por isso que a conta não fecha em alguns lugares.

A Tribuna: Você está querendo dizer que o organizador investe muito nos shows e sobra pouco para o rodeio? A premiação, por exemplo, caiu bastante.
Leonardo Camargo: Sim, você lembra que antigamente a premiação era de dez carros. Isso caiu um pouco.

A Tribuna: A pandemia de Covid-19 atrapalhou?
Leonardo Camargo: Sim, bastante. Muita gente vive do rodeio e teve gente que teve que parar. Teve gente que vendeu o que não podia para sustentar a sua família e teve gente que se matou.

A Tribuna: Teve um acidente no rodeio de Jales, né?
Leonardo Camargo: Sim. O touro bateu no peão e ele quebrou o maxilar. Mas hoje é tudo regularizado. Na segunda-feira ele entrou em contato comigo, perguntando qual era o seguro. Ele está internado em Rio Preto e iria fazer a cirurgia na quarta. O seguro cobre tudo. O rodeio anda nas quatro linhas. Uma festa como a nossa tem que ter seguro. Pode acontecer um acidente grave e tem que pensar no trabalhador que pode ter que se afastar em caso de acidente. Todos os 76 profissionais que entraram na arena estavam segurados.

A Tribuna: O peão vive como? Qual o regime trabalhista? Ele é empregado de alguém ou é autônomo?
Leonardo Camargo: Ele é convidado do rodeio. Por exemplo, o Brasil tem atualmente cinco campeonatos fortes e existem as companhias, como a Equipe Roseta que veio na Expo Jales. Aqui eram 25 peões de touro, desses 15 eram da equipe que nós contratamos e 10 eram convidados da comissão. Tem os peões contratados pela equipe e tem os independentes que são convidados.

A Tribuna: E o juiz?
Leonardo Camargo: Eu vou convidado. Carreira solo. Já julguei nos principais rodeios e é mais fácil assim. É difícil conquistar um nome, mas, graças a Deus, estamos aqui.

A Tribuna: O julgamento é feito por mais de um juíz?
Leonardo Camargo: Sim. No mínimo são dois. Mas pode ser até mais. No último rodeio de Barretos que eu participei, eram quatro juízes. Aí você faz a média das quatro notas para chegar ao resultado final. Em Aparecida do Taboado neste fim de semana, somos eu e outro juiz. Então, por exemplo, em dois, a gente tem que dar nota de zero a 50 pontos. Somando as duas notas, chega-se à pontuação final.

A Tribuna: Você foi muito elogiado por ter trazido de volta a Casa do Peão. Como foi isso?
Leonardo Camargo: Quem ajudou bastante foi o Deva Rossafa. Eu chamei ele para reativar a Casa do Peão, que era uma coisa muito bacana e trazia as famílias, os peões. Na hora ele duvidou um pouco, mas depois topou e disse “eu quero do meu jeito”. Eu respondi que seria do jeito que ele quisesse. E assim fizemos. Chamamos todos os amigos, demos comida para os peões…a festa lembrou um pouquinho do que era a Facip. O nosso projeto é montar uma Casa do Peão permanente naquele lugar.

A Tribuna: Qual a nota que você dá para a Expo Jales, já que você é juiz?
Leonardo Camargo: Se você analisar como pegamos a festa, dou nota 9. Para pegar este “titanic” afundado nas condições que estava, dou nota 9,5. Faltou muita coisa, mas a festa estava desacreditada. Pegamos uma situação pesada. Muita gente duvidou da festa. Muito patrocinador desacreditou. Teve tropa que eu convidei e se negou a vir por que está movendo processo contra a festa do ano passado. A reputação de Jales caiu muito. Só que hoje foi dado um tapinha e eles estão com muita vontade de fazer uma boa festa. Por outro lado, recebi uma ligação do Antônio Juscelino, dizendo que queria montar aqui em Jales. Quem é Antônio Juscelino? Pentacampeão de Barretos, tricampeão de Americana e Colorado, campeão em Jales, e ele veio para cá. O nível, principalmente em cavalos foi muito bom. Tinha rodeio em muitas cidades mas eles acreditaram e vieram pra cá.
Era como a Ucrânia está agora. Vai demorar para recuperar, mas o trabalho começou. Já conversamos sobre isso na segunda-feira e muita coisa vai ser mudada para o ano que vem.

A Tribuna: Quer acrescentar alguma coisa para encerrar?
Leonardo Camargo: Eu queria falar um pouco mais sobre a Casa do Peão. Todo mundo ajudou um pouquinho, um trouxe um quilo de fraldinha, outro trouxe um cupim, outro um saco de batatas e teve muita fartura. Um foi ajudando o outro e isso que falta em Jales.

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