A TRIBUNA: Qual era a situação do Sindicato quando você assumiu e como foi o processo de expansão para outros municípios?
JOSÉ LUIS: Quando eu cheguei, o Sindicato atendia apenas Jales e tinha 342 sindicalizados aí um dos movimentos que tivemos de reivindicação de reposição salarial, desencadeou uma série de matérias na mídia regional e servidores de várias cidades tomaram conhecimento do nosso trabalho e isso potencializou a expansão do Sindicato. Um dos primeiros municípios foi São João das Duas Pontes, que nem fazia parte da comarca. Depois todos os municípios do entorno foram nos procurando e fomos implantando as extensões de base. Isso foi bastante árduo com deslocamentos á noite, ameaças de apaniguados de prefeitos que não queriam o Sindicato no seu território, mas conseguimos conscientizar o pessoal. Hoje se vê que o Sindicato tem 26 municípios e acha que caiu do céu, mas não foi. Foi um trabalho árduo de muitos anos e muitas dificuldades.
A TRIBUNA: Ameaças de morte?
JOSÉ LUIS: Sim, tenho vários Boletins de Ocorrência. Não foram uma nem duas nem três.
A TRIBUNA: O município de Jales tinha quantos servidores na época?
JOSÉ LUIS: Os 342 sindicalizados era equivalente a um quarto do total dos servidores municipais, considerando aposentados e pensionistas. Era um número pífio e os próprios diretores eram perseguidos pelos administradores e estava em descrédito porque os servidores ficaram cinco anos sem reposição salarial, coisa que não acontece desde que assumimos. Temos reposição anual inclusive com índice acima da inflação e cesta básica.
A TRIBUNA: Qual foi a pior situação que você encontrou?
JOSÉ LUIS: Posso citar Jales, onde o prefeito da época não queria conceder a reposição e nós visitamos todos os setores do município, convocando os servidores para a primeira assembleia e foi a partir dessa assembleia que trouxe o respeito ao Sindicato. Depois fizemos uma paralisação e a reposição almejada foi concedida.
Tivemos greve em Dolcinópolis, onde os servidores ficaram cinco meses sem salário nenhum e não tinham o que comer. Tivemos que fazer uma campanha para doar alimentos para esse pessoal. O prefeito foi até preso depois. Em Meridiano também tivemos uma paralisação, e em Palmeira d’Oeste o padre da época foi quem pediu durante a missa para o prefeito nos atender porque ele se recusava. Em Jales fizemos um trabalho árduo durante a administração da ex-prefeita, que acabou sendo cassada. Mas colhemos frutos posso dizer, saborosos.
A TRIBUNA: Parece que os servidores aprovam esse trabalho. Os índices de aprovação nas eleições para a diretoria tem sido altos.
JOSÉ LUIS: Na última eleição, tivemos 98,6% dos votos válidos, um índice altíssimo. Todas as eleições têm ampla publicidade em jornais de grande circulação, Diário Oficial divulgação no nosso site, disparo de mensagens e toda a transparência que a legislação exige. Só que nas últimas eleições houve apenas chapa única, porque as pessoas sabem a dificuldade que enfrentamos e a dedicação que a função precisa.E tem que ter vontade de trabalhar. Além disso, não pode ter problema com a justiça, ter o nome negativado, e sabemos o tamanho da instituição. Sempre aparecem os espertalhões, mas a vida se encarrega de deixá-los pelo caminho.
A TRIBUNA: Nos últimos anos, muitos sindicatos fecharam e o Sindicato de Jales cresceu. Qual é a mágica?
JOSÉ LUIS: A mágica é trabalho! Com a reforma trabalhista que extinguiu a contribuição compulsória, quase 4 mil sindicatos fecharam no Brasil. Eram sindicatos que viviam apenas da contribuição dos sindicalizados. Nós sempre fomos na contramão disso. Oferecemos serviço para ter adesão dos servidores e sindicaliza quem quer, mas a adesão é maciça. Na maioria dos municípios chega a 90% de adesão do total dos servidores, porque eles acreditam no nosso trabalho.
A TRIBUNA: Que tipo de serviço?
JOSÉ LUIS: O primeiro trabalho tem relação ao direito dos servidores. Todos os municípios recebem reposição salarial anual, alguns acima do índice de inflação. Além disso, implantamos cesta básica e ações que ganhamos na justiça para garantir adicional, faltas abonadas, licenças prêmios, perseguição de prefeitos, horas-extras que não eram pagas, enfim uma gama enorme de ações propostas e exitosas. Na questão social, o Sindicato faz doação para muitos servidores que não têm condições de comprar um remédio ou alimentação. Geralmente em torno de 60 cestas básicas por mês.
Na área de saúde nos oferecemos para todos os servidores, dependentes e agregados uma gama de mais 300 médicos conveniados em Jales, Santa Fé do Sul, Fernandópolis e Rio Preto. São mais de 37 especialidades, com atendimento particular e com valor irrisório em relação ao mercado. Também temos laboratórios, clínicas de diagnóstico por imagem e, também, dentistas gratuitamente para o servidor, dependente e agregado.
Na parte social, oferecemos vários serviços. Todos os anos fazemos doações para entidades assistenciais. Neste ano, não faremos a nossa festa anual mas faremos doações para o Hospital do Amor (R$ 25 mil), Lar dos Velhinhos de Jales, Dallas, Urânia e Santa Fé do Sul.
A TRIBUNA: Isso movimenta a economia da cidade, né?
JOSÉ LUIS: Sim. Movimenta a economia e desafoga o sistema de saúde porque essas pessoas poderiam estar lotando os Postos de Saúde, UPA, a rede pública. São cerca de 500 consultas por mês que deixam de ser atendidos na rede pública.
A TRIBUNA: E o cartão?
JOSÉ LUIS: Muitos servidores têm o salário comprometido com empréstimo consignado, tem o nome negativado e não têm crédito, e com o cartão do servidor ele pode comprar em mercados, farmácias, lojas, óticas e outras.
A TRIBUNA: E a sede nova que está sendo construída próximo ao SAMU?
JOSÉ LUIS: Estamos construindo uma sede com recursos próprios, sem um centavo de dinheiro público. É tudo empreendedorismo que a gente fez. Conseguimos gerar um recurso através da parceria com o BenSaúde, convênios médicos e o Cartão do Servidor. Com esses recursos fornecemos cesta básica, parcelamos os serviços de saúde e estamos investindo na sede própria. Serão cerca de 1.200 metros quadrados com serviços de fisioterapeuta, dentista, médicos pediatra, clínico geral, geriatra, psicólogo, corte de cabelo, suporte jurídico, farmácia para o servidor e um auditório para 200 pessoas onde serão oferecidos cursos de treinamento, palestras, etc. Tudo isso já no ano que vem. Também temos o compromisso de atender os moradores mais carentes da Vila União, que fica ao lado. É uma contrapartida para o município que doou o terreno.
A TRIBUNA: O Sindicato sempre teve apoio da Câmara que entendeu que se tratava da entidade representativa dos servidores e os vereadores sempre votaram a favor dos assuntos dos servidores. De uns tempos para cá parece que a coisa mudou. A Câmara tem feito questionamentos sobre o trabalho do sindicato. O que está acontecendo?
JOSÉ LUIS: Sobre o sindicato e a minha pessoa, de forma particular. Eu quero dizer que não se trata “da Câmara”, mas de um único vereador. Não podemos falar no coletivo. Quero deixar claro que estou absolutamente tranquilo porque sempre agimos de forma legal e em prol dos nossos servidores. Temos um corpo jurídico bastante gabaritado que nunca perdeu uma ação. Esse questionamento eu vejo que é ciúme porque o trabalho que a gente realiza é gigantesco para o servidor. Esse vereador age de forma a me perseguir e a perseguir a entidade. Ele tentou tirar do servidor o nosso cartão, mas ele não sabe que é um cartão do sindicato e é apenas software que a gente paga mensalmente para a empresa três a quatro mil reais, mas que dá um retorno em torno de dez mil que são usados nos nossos serviços médicos, de doações e até a nossa sede. Esse sujeito visa somente restringir a atuação sindical, nada mais que isso. Tem tantas coisas que ele poderia verificar, mas não corre atrás. Além do que, de longa data, ele vem tentando nos assediar moralmente, abusar da sua autoridade, mas isso está com o nosso corpo jurídico e vamos impetrar todas as ações judiciais cabíveis e na esfera administrativa da Câmara Municipal também. E aí, esperamos que a Presidência da Câmara não engavete as representações porque são fatos graves e relevantes cometidos por esse vereador. Vamos buscar a reparação na esfera da justiça, inclusive sobre o assédio moral contra servidores, realizando requerimento, pedindo informações absurdas que deixa claro o assédio moral.
A TRIBUNA: Esse trabalho que vocês construíram ao longo de 29 anos corre até um certo risco, não é? Porque houve até uma representação no Ministério Público questionando a doação do terreno onde está sendo construída a nova sede e os servidores poderiam perder essa sede.
JOSÉ LUIS: Muito bem lembrado. É uma sede que vai potencializar esses serviços, e a qualidade de vida dos servidores, mas que quase foi por água abaixo porque houve uma denúncia anônima no Ministério Público, mas logo em seguida, de forma suspeita, esse vereador usou a tribuna da Câmara pedindo que o terreno fosse devolvido ao município. Então eu quero dizer o seguinte: a Câmara, todos os vereadores, sem exceção foram parceiros mas esse vereador está indo na contramão, inclusive pedindo que o Sindicato pague imposto que não é devido. Quero dizer a ele que temos um ótimo escritório de contabilidade aqui e toda a receita e despesa está tudo muito bem documentada e aprovada pelo Conselho Fiscal. Por isso vamos buscar a reparação na justiça e na Câmara.
Infelizmente, ele tenta prejudicar os servidores, retirando o cartão, a sede e fazendo o Sindicato pagar um imposto que não é devido.
Só para finalizar, quero lembrar que a mulher dele, quando era servidora, usufruiu de vários serviços do Sindicato na área da saúde e do cartão, e ele, quando tinha um comércio, teve um contrato com o cartão, mas o comércio não prosperou.
Infelizmente, todo dia tem um questionamento desse rapaz em relação aos benefícios dos servidores e não sabemos qual é o verdadeiro teor do que ele quer.