Na última segunda-feira, 13, a temperatura em Jales alcançou 40,6ºC (segundo o Ciagro) e a onda de calor extraordinário tem suscitado incontáveis dúvidas aos donos de pets e animais de grande porte. Em residências urbanas, sítios, fazendas, imóveis vazios e nas ruas e avenidas, os animais dependem dos humanos para se alimentar, se hidratar e até para se proteger do sol escaldante.
Na tarde de terça-feira, conversamos com a médica veterinária Isadora Cardoso da Silva, professora do curso recém criado na Etec Jales. Formada em 2018 na Universidade Brasil com especialização em Psicopedagogia (2021) e graduada em Pedagogia neste ano, dra Isadora concluiu a atualização em Ultrassonografia abominar em 2020 e está cursando especialização em Cardiologia Veterinária.
Além disso, acaba de assumir o cargo de médica veterinária no Município de Aparecida d Oeste onde foi aprovada em um concurso público na Secretaria da Agricultura. Isadora deu valiosas dicas de como cuidar do seu animal e garantir que ele esteja bem hidratado, alimentado e protegido neste período crítico. Ela é a nossa Personagem da Semana.
A Tribuna: Os cuidados com os animais, pequenos e grandes, são muito diferentes dos cuidados com os humanos?
Isadora Cardoso da Silva: A gente está atravessando uma onda bem intensa de calor por estes dias. A nossa região, embora seja uma região que já seja quente, a gente tem que tomar cuidados especiais, sim, principalmente em relação a passeios, em relação a ambientes em que a gente os deixa. Não só os pets, cães e gatos, mas também os cavalos de cocheira, os bovinos porque estes ambientes tendem a reter mais calor. Então, na parte de equinos, as baias têm que estar arejadas, soltar estes animais para se refrescar e deixar os ambientes mais frescos. Em relação aos pets, temos que tomar cuidado com os horários de passeio por conta do asfalto quente, porque eles não tem calçados, como nós, para evitar queimaduras. Temos que hidratar bastante estes animais. Os gatos, já tem uma dificuldade a mais pra beber água então temos que deixar mais potes espalhados pela casa. Temos que deixar em ambientes mais arejados. Nas residências, deixar um climatizador, ou umidificador. Temos que ter cuidado com a alimentação porque eles também mostram dificuldade pra se alimentar. No calor, eles vão comer menos.
A Tribuna: Como o ser humano já tem essa dificuldade em dias de calor, né?
Isadora Cardoso da Silva: Isso. A gente prefere alimentos mais leves e os animais também. Vão preferir a alimentação normal, ração, e vão preferir comer em horários mais frescos, no começo da manhã e no fim da tarde. Tem que ter cuidado com os alimentos frescos para não deixar estragar e fazer mal para os animais.
A Tribuna: É recomendado dar frutas para os animais?
Isadora Cardoso da Silva: Sim, uma alternativa alimentar é fazer picolés de frutas, como melão, que é rico em água, colocar a banana na água gelada, dar água de coco, fazer aqueles “geladinhos” com frutas e dar pra eles. Cachorro, principalmente gosta muito.
A Tribuna: E banhos? A gente deve aumentar o número de banhos neste período?
Isadora Cardoso da Silva: A gente tem que tomar cuidado com os banhos porque sempre deve secar bem os animais porque o calor e a umidade no pelo acaba tendo maior proliferação de fungos. Então temos que garantir que ele vai estar seco. Banho é bom, mas a gente tem que tomar cuidado e não deixar eles úmidos. Então mantê-los em ambiente climatizado e mais fresco, acaba sendo o ideal porque depois do banho a gente tem que secá-los e eles podem acabar ficando ressecados também.
A Tribuna: E a questão dos pastos. A gente deixa muitos animais pastando debaixo do sol e até terrenos grandes ou sítios em que as pessoas deixam os cachorros lá debaixo do sol o dia todo. É sempre bom ter uma sobra disponível, né?
Isadora Cardoso da Silva: Sim. Por mais que o animal está no pasto, a terra também é quente e se ele não tiver uma área coberta que proteja do sol, ele pode ter uma desidratação, queimadura de coxins (as almofadinas das patas dos pets), então precisa ter sombra para estes animais.
A Tribuna: E quanto aos animais de rua. A gente vê algumas pessoas colocando vasilhas de água em estabelecimentos comerciais e até em casas. Isso é bom?
Isadora Cardoso da Silva: Sim, isso é muito importante porque esses animais de rua nem sempre ficam em um mesmo lugar, isso aumenta os pontos que eles vão poder usufruir da água. Neste período eles sentem mais sede mesmo e vão precisar de mais água.
A Tribuna: Procede que os cães e gatos suam pela língua ou é mito?
Isadora Cardoso da Silva: Eles trocam calor pela língua, não suam exatamente, não é uma transpiração, mas uma troca de calor. Então a gente vai ver mesmo os animais mais ofegantes.
A Tribuna: É como um sistema de refrigeração? Quando a gente vê os animais mais ofegante é porque ele está tentando se refrigerar por dentro?
Isadora Cardoso da Silva: Sim, é um sistema natural deles. Mas a gente tem que observar, principalmente em cães mais idosos, se essa ofegância deles é uma troca de calor ou se é algum problema cardíaco, por exemplo.
A Tribuna: E algumas raças já têm dificuldade de respirar naturalmente, né?
Isadora Cardoso da Silva: Os animais braquicefálicos, aqueles de focinho mais curto, como o shitzu e o pug. Eles têm uma maior dificuldade de respirar porque o focinho é mais curto. Então é importante deixar em ambientes mais arejados e sempre observar se eles estão bebendo água, procurar vasilhas que facilitem a acomodação da água, vasilhas de barro deixam a água mais fresquinha.
NOTA: Os animais braquicefálicos são aqueles que possuem uma cabeça de formato “achatado” e o focinho de tamanho “encurtado”. Essas características anatômicas são comuns em algumas raças de cães, como o pug, o buldogue, o pequinês, o shitzu e o lhasa apso e os que predispõem a uma série de doenças, como problemas respiratórios, oculares e de pele.
A Tribuna: Alguma recomendação para animais de grande porte como bovinos e equinos que ficam em pasto?
Isadora Cardoso da Silva: Os pastos nem sempre tem sombras, então tem que providenciar uma sombra, parte de arborização com sombra, conferir as vascas, se estão sempre com água, levar água aonde a água não chega, enfim conferir sempre se a quantidade de água está sendo suficiente.
A Tribuna: E falando especificamente sobre o curso de Técnico em Veterinária da Etec. O curso está indo bem, os alunos estão gostando, estão tendo bom aproveitamento?
Isadora Cardoso da Silva: Sim. É um curso novo e temos uma turma grande, o pessoal está gostando bastante. No início do ano tem a segunda turma e já tem uma demanda boa de candidatos. Lá a gente fala tanto da parte pet, clínica etc. E as vezes a pessoa acha que já entende, mas o curso traz um melhor entendimento tanto para pet quanto para animais de grande porte como equinos e bovinos e para animais de esporte.
A Tribuna: Pelo que eu entendi então, o pessoal já chega lá com alguma prática, mas ao mesmo tempo com alguns mitos que precisam ser desmentidos?
Isadora Cardoso da Silva: Isso mesmo. Às vezes os alunos já se interessam, mas muitos não tem o contato, então no curso está sendo bem bacana a troca de conhecimento. Alguns têm conhecimento prático, mas a teoria chega pra agregar muito e explicar os motivos daquela prática, porque tem que ser feito daquela maneira.
A Tribuna: Tem algum mito desses que o aluno traz de fora que você poderia citar?
Isadora Cardoso da Silva: Eu ministro aula de biossegurança e alguns cuidados na parte de zoonoses os alunos não entendem bem o que são exatamente as zoonoses, o que é o trabalho do controle de zoonoses que o município faz. Então percebi que são conhecimentos bastante válidos pra eles.
A Tribuna: O curso de vocês é diferente de um curso de pet-shop, mas também serve pra trabalhar num pet-shop?
Isadora Cardoso da Silva: O aluno formado no técnico em veterinária vai ter uma agregação dentro da área de trabalho do pet muito válida porque ele vai conseguir indicar os produtos específicos que cada raça pode usar e vai saber identificar um quadro alérgico, dermatite e vai ser capacitação para indicar ao tutor pra ele procurar um médico veterinário.
A Tribuna: Quem se candidatar a uma vaga num pet-shop vai chegar com um currículo muito mais robusto, então?
Isadora Cardoso da Silva: Sim, vai estar muito mais capacitado.