Contadora, química industrial, bióloga, com formação também na área de pedagogia, a primeira presidente mulher dos 57 anos de história da Associação Comercial e Industrial de Jales (ACIJ) não é só um rostinho bonito, como diria a frase clichê. Elaine Borges Bernardes, vem subindo degraus na diretoria da entidade. Integrou o Conselho Fiscal e foi 1ª secretária, antes de chegar à presidência. Elaine é uma das poucas mulheres no cargo.
Apesar de ainda serem minoria, ela faz parte de uma leva de mulheres à frente das entidades empresariais da região. Ao lado dela estão a presidente da Associação Comercial e Industrial de Fernandópolis (Acif) Rosana Marques Nunes, que ocupa o cargo pela primeira vez e tem paridade de gêneros na diretoria, e a presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ilha Solteira (Aceis), Ana Paula Lucatto Kfouri, cuja diretoria é majoritariamente feminina.
A entrevista foi acompanhada pela secretária executiva da Acij, Maria Ozório, e pelo assessor de imprensa, Eduardo Monteiro.
A Tribuna: Como surgiu a ideia de ser presidente da ACIJ? Alguém fez o convite ou era uma vontade sua?
Elaine Borges: Eu fui convidada e a gente avaliou com a família, mas foi um privilégio. Eu me senti muito feliz por ter recebido esse convite. É um privilégio por causa dos outros ex-presidentes. Acho que quem ocupa a presidência de uma entidade tão grandiosa sempre se sente muito feliz.
A Tribuna: Você teve alguma dificuldade ou alguma facilidade por ser mulher? Por ser a primeira mulher na presidência?
Elaine Borges: Nem facilitou nem dificultou. Acho que independente do sexo, isso não me faz ser mais ou menos. Dificuldades, todos nós temos e é sempre desafiador estar num cargo novo. Mas todos os desafios foram resolvidos, mas não pelo fato de ser mulher. Pelo fato de que a gente teve vontade, a gente buscou, a gente estudou e tomou bastante cuidado em cada passo que a gente dava. A gente sempre pensa o que vai fazer e temos os diretores, a Associação é formada por diretores, então a gente sentou, conversou muito e todos os desafios foram muito bem-vindos, tanto que conseguimos saná-los, resolvê-los e serviram como experiência própria. Então, tocar os desafios pra mim foi inspirador.
A Tribuna: Isso rompe um paradigma, né? Nós já tivemos prefeita e presidentes da Câmara Municipal, mas presidente da Acij é a primeira vez.
Elaine Borges: Sim, mas eu tenho comigo que serei a primeira de muitas porque a mulher cabe em qualquer lugar, basta ter vontade e determinação pra isso. Que venham outras. A gente está vendo mais mulheres em cargos, a gente está vendo mais mulheres na política, hoje em dia não está mais existindo aquela separação de cargos que só podem ser ocupados por homens. Mulher pode exercer, sim, qualquer função que ela queira. Então a gente está vendo uma boa evolução nisso.
A Tribuna: E a Semana do Freguês que começa agora nessa semana? Qual a expectativa?
Elaine Borges: A ideia é que a gente faça uma Semana do Freguês ainda melhor que a outra, que já foi muito boa. A gente sabia que estava numa pandemia que o comércio estava fragilizado, estava numa situação que precisava tomar alguma iniciativa e a Associação exerceu a função dela, recuperando uma promoção tão tradicional. E foi muito interessante trazer isso de volta para trazer motivação para o comércio sofrido e sem motivação. Ela veio para dar uma guinada, uma alegria, trazer o cliente de volta, encher a cidade e, claro, o comerciante ter mais arrecadação financeira, fomentar a parte econômica para aumentar a parte de emprego, enfim abrir mais portas. Então no ano passado já foi bem legal, bem aceita, e esse ano a gente está com a intenção de fazer melhor. Seguir os mesmos padrões, mas trazer mais atrações, buscar mais descontos. Estamos conversando com os comerciantes que aderiam para que seja realmente uma semana de descontos para trazer coisas novas e para que não seja uma coisa fictícia. Seja algo que seja atrativo. Já temos mais de 300 empresas participando de todos os setores, não só do comércio.
A Tribuna: A Semana do Freguês é a nossa Black Friday?
Elaine Borges: Podemos dizer que sim. Eu espero que futuramente, se tudo der certo, os comerciantes comprarem a ideia, que ela ande sozinha. Que em anos seguintes a gente consiga ver a Semana do Freguês como uma coisa pessoal mais prática, que a pessoa já pense nisso, como pensa na Black Friday. Que o comerciante já possa se organizar, reforçar o estoque para dar um bom desconto ao cliente e proporcionar o giro no comércio.
Nota: Além das premiações, atrações e do horário estendido, a secretária executiva lembra que os funcionários do comércio estarão usando uma camiseta alusiva ao evento e os estabelecimentos estarão enfeitados com o material promocional. O objetivo é disseminar o clima de liquidação e incentivar as compras.
A Tribuna: No ano passado, vimos lojas fechando e algumas nem voltaram a abrir. Como vocês estão vendo este ano? Já dá pra sentir uma melhora?
Elaine Borges: Sim. Nos últimos dois meses, houve até aumento nas vagas de emprego em Jales. Na região, Jales foi uma das cidades que mais conseguiu empregar. Se tem mais emprego é porque está existindo mais movimentação no comércio, está entrando mais renda pra poder trazer esse funcionário novo. Deu uma boa melhorada, então a gente se sente mais otimista. Jales está realmente voltando a crescer.
Nota: Segundo o assessor de imprensa, pelo segundo mês seguido, Jales obteve o melhor resultado da região na geração de empregos. Enquanto cidades maiores tiveram saldo negativo em todos os meses do ano, Jales teve saldo negativo em apenas dois meses do ano e ainda assim com um déficit pequeno. Os investimentos em reformas e abertura de vagas também é um sinal de aquecimento da economia.
A Tribuna: O relatório de vagas disponíveis no PAT de Jales traz, frequentemente, vagas repetidas, ou seja, que demoram vários dias para serem preenchidas, provavelmente porque o empresário não consegue encontrar o candidato que se enquadre naquele perfil. Vocês se preocupam com a formação dos trabalhadores?
Elaine Borges: Sim, tanto é que acabamos de formar padeiros profissionais. Fazemos pesquisas frequentes sobre os profissionais que estão em falta no mercado e esse foi um dos casos. Era uma reclamação geral de que não havia padeiros no mercado. Por isso, esses cursos têm alto índice de empregabilidade. Os formandos já saem praticamente com a vaga garantida.
A Tribuna: Existe uma reclamação recorrente de mau atendimento em estabelecimentos de Jales. Muita gente diz que os atendentes não são atenciosos, que fazem distinção de classe social, etc. Vocês recebem esse tipo de reclamação?
Elaine Borges: Sim, já recebemos e foi exatamente para tentar eliminar essas arestas de mau atendimento que fizemos dois cursos de atendimento e vendas no comércio. Um deles foi encerrado há poucos dias. A gente percebia que estava existindo muito esse tipo de reclamação. Deficiência de funcionário que não sabe atender, que não tem uma noção correta de atender o cliente. Procuramos os comerciantes para liberar os funcionários. O funcionário tem que ser carismático e receptivo para poder atender o cliente.
A Tribuna: Jales tem uma atividade comercial bastante focada no horário diurno, as pessoas reclamam que não tem restaurantes abertos à noite.
Elaine Borges: A gente proporcionando essas promoções, trazendo as pessoas da região para Jales, eu acredito que tudo vai fluir. A Semana do Freguês, por exemplo, vai ter horário estendido, então quem sabe algum restaurante não percebe isso e deixa o restaurante aberto à noite? Com certeza, vai aparecer mais restaurante à noite porque tem gente na cidade. A praça mudou? Ótimo! O turismo aqui de Jales é comercial. Mas temos o hospital que acaba trazendo pessoas para Jales que é centro de região, a gente não pode esquecer disso. A gente tem condições de abranger a região. Acredito que quanto mais incentivo, com essa promoção que estamos fazendo em parceria com a Prefeitura e os empresários, mais o comércio se aquece e a economia vai começar a girar.
A Tribuna: Você acha que Jales está preparada para esse crescimento, tem infraestrutura para isso?
Elaine Borges: Sim acredito que sim. A Prefeitura de Jales está trabalhando bastante nisso, a gente vê bastante canteiros de obras. A ideia está sendo bastante positiva nesse ponto. Jales está começando a melhorar, e isso está sendo mais visível. Tá sendo positivo que com o passar do tempo vai melhorar mais. Acredito que agora está crescendo e vai melhorar cada vez mais.
A Tribuna: Os viadutos vão melhor bastante né?
Elaine Borges: Sim, a ideia é desafogar o centro e, porque não, ir para os cantos da cidade para os bairros crescerem cada vez mais? O centro é legal, mas os bairros têm muita coisa interessante, tem comércio noturno, quer dizer, as pessoas terão opções para procurar na cidade de Jales.
A Tribuna: Outro dia, fizemos uma matéria aqui no jornal A Tribuna que falava sobre a região do Jardim Paraíso e de outros bairros que possuem estabelecimentos de vários tipos e as pessoas praticamente não precisam ir para o centro porque tem tudo ali.
Elaine Borges: Exatamente! Não precisam, é quase uma cidade independente. A gente percebe muito que os bairros estão criando um comércio mais próprio dali, então as pessoas não precisam ficar se deslocando tanto só pra vir ao centro. Por isso que eu sou muito otimista. Quando eu vim aqui para a Associação, eu vim muito otimista, eu vim com sonhos, eu vim com ideias para buscar e para prosperar aqui. A ideia é: para o bem de todos. A Associação está aqui para a classe que ela representa que é pelo comércio, indústria e prestador de serviços. A ideia é que a gente consiga mostrar a Associação com a função dela mesmo, que é ajudar a crescer a economia da nossa cidade.
A Tribuna: Dos bairros também, né?
Elaine Borges: Sim, justamente. Tanto é que na Semana do Freguês a gente não vai ficar só no centro. Vai fazer circular em toda a cidade. Não vamos ficar no centro, não. Temos associados em tudo quanto é lugar.