O nosso Personagem da Semana é o coordenador da Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Jales. Delegado de Polícia de 1ª Classe, Padrão III, com 33 anos de serviço na corporação, Carlos Eduardo Monteleone, é pessoa de bom trato e bem-quista, tanto pelos colegas do Sistema Judiciário, quanto pela imprensa e comunidade em geral. Apesar de reconhecer as dificuldades do serviço público, Monteleone é um amante da profissão e apesar de já ter idade para solicitar a aposentadoria, prefere seguir em frente. “Ainda não me sinto pronto para descansar”.
A TRIBUNA: Todas as ocorrências da área da Delegacia Seccional passam pela Central de Polícia Judiciária de Jales?
MONTELEONE: Todas as ocorrências registradas no plantão noturno, aos sábados, domingos e feriados, além das registradas diariamente nos dias úteis ficam aqui na CPJ. Eu despacho todas elas e encaminho para as especializadas. Drogas ficam com a DISE (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes), Violência Doméstica, com a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) e por aí vai. Hoje tem um plantão piloto aqui. Então, nos feriados, sábados e domingos e todo dia à noite, o plantão é regionalizado em Jales. Ocorrências de Santa Fé, Palmeira d’Oeste, Urânia, qualquer cidade que pertence à Seccional de Jales é trazida pra cá. É formalizada aqui e depois distribuída.
A TRIBUNA: Todos os presos vão para Santa Fé do Sul?
MONTELEONE: Presos masculinos para Santa Fé do Sul. Presas femininas para Nhandeara. Fazemos primeiro a audiência de custódia que confere a legalidade da prisão, se não houve abuso por parte do policiamento, normalmente no dia seguinte e estando legal, já vai para a cadeia. Faz a audiência na cadeia ou aqui na nossa carceragem que é só para manutenção, enquanto não encaminhado para o presídio definitivo.
A TRIBUNA: A maioria das prisões é por tráfico de drogas?
MONTELEONE: A gente pode dizer que hoje o grande índice mesmo é o tráfico de drogas. O pessoal da DISE, comandada pelo Doutor Ademir tem alcançado bons resultados e tem apreendido uma quantidade grande de entorpecentes. Às vezes com pouca gente, mas quantidades grandes. Ainda na sexta-feira, teve uma atividade, eles prenderam um pessoal aí de fora que estava trazendo drogas para cá. Em Vitória Brasil, a PM foi acionada e foi encontrada uma quantidade grande também de maconha. A maioria dos casos, hoje, é o tráfico de drogas realmente. A Polícia Civil e a Polícia Militar têm se dedicado muito a quebrar esse ciclo, esse empoderamento do tráfico porque normalmente tem envolvimento organizado, mas está acabando aqui, na cidade pequena onde tem o consumo.
A TRIBUNA: A gente tem noticiado ocorrências sobre grandes apreensões como a gente não via antes. O que mudou?
MONTELEONE: Eu acredito que seja a perspicácia do policiamento. Antes a gente atuava muito na biqueira, onde tem uma quantidade pequena. Hoje a investigação está agindo mais na informação, na pesquisa de campo para descobrir quem é que está fornecendo para as biqueiras. Então está atravessando antes que a droga chegue no distribuidor final. Grande parte, mas grande parte mesmo vem de fora. Vem até de outros estados.
A TRIBUNA: Tem havido prisões de pessoas que estavam trazendo drogas para Jales?
MONTELEONE: Sim, é feito o monitoramento da pessoa antes mesmo dela chegar aqui. Grande parte vem de fora e a gente tem feito o monitoramento pra prender antes de entregar a droga. É que boa parte está em sigilo.
A TRIBUNA: O senhor é a favor da descriminalização do uso de drogas?
MONTELEONE: Eu não tenho uma opinião formada. Eu acredito que legalizar não vai tranquilizar o consumo. O tráfico gira também em torno do crime patrimonial, quer dizer, muitas vezes o ladrão normalmente é um usuário e está sempre tentando alimentar o vício. Eu vi um voto do ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, dizendo que o uso recreativo em pequenas quantidades seria uma forma de descriminalizar pelo menos o uso em pequenas quantidades. Eu não tenho certeza que resolva, não. Eu tenho amizade com alguns colegas que visitaram países onde é permitido o uso da maconha, mas eu não acredito que isso tenha influência no grande tráfico, à movimentação clandestina de grandes volumes de drogas. Acho que isso não resolve.
A TRIBUNA: Mais importante, na sua opinião, seria pegar o grande traficante?
MONTELEONE: Ou pelo menos, o intermediário que trabalha com uma quantidade maior de drogas. Hoje o que a gente está fazendo é isso. A gente não está pegando o fornecedor primário. Estamos pegando o atravessador que traz para alimentar os pontos de distribuição na cidade. Assim mesmo a gente percebe que são grandes quantidades que estão sendo apreendidas pela polícia.
A TRIBUNA: E a polícia tem pessoal suficiente para isso?
MONTELEONE: O Governo do Estado autorizou agora um concurso para quinhentas e poucas vagas para delegado, duas mil para escrivães, três mil para investigadores. Isso é a longo prazo porque estamos em ano eleitoral e a legislação nem permitiria regulamentar. A realidade é que a Polícia Civil carece mesmo de recursos humanos. Está precisando de reposição. A gente participa de um grupo de delegados de São Paulo e vê que o volume de aposentadorias é grande. Com essa reforma do governo federal e do estadual acabou apressando o pessoal que tinha tempo de serviço a se afastar com medo de perder direitos. Outros precisam de complementação de renda e vão buscar a iniciativa privada. Aqui na nossa região, a gente tem que acumular várias unidades. Delegados e policiais da região.
A TRIBUNA: Jales é uma cidade perigosa?
MONTELEONE: De jeito nenhum. Eu estou aqui há quase 30 anos e acho Jales uma cidade pacífica, tranquila e com um policiamento bom. Acho que o pessoal não tem o que reclamar, não.
A TRIBUNA: Temos alguns crimes que não tem como a polícia prever.
MONTELEONE: Por preceito constitucional, temos o policiamento ostensivo, que é feito pela PM, e o policiamento investigativo que é feito pela Polícia Civil. Alguns crimes se consegue coibir na prevenção. O estelionato é um deles. Ele é cometido em 99% dos casos por meio eletrônico. Os crimes de violência, temos muita violência doméstica que se coíbe pelas medidas protetivas, ainda assim, alguns extrapolam e descumprem as medidas. E os crimes de homicídio que são imprevisíveis. Não tem como saber se vai acontecer, de que forma e porque razão leva a pessoa a cometer um ato extremo desse. Não tem como saber o que tem na alma da pessoa.
A TRIBUNA: Quase sempre cometidos forte emoção?
MONTELEONE: Sim. Forte emoção e desavenças que a gente não tem conhecimento. Tivermos casos recentes na nossa região, em Urânia e Santa Fé do Sul, que acabaram acontecendo e a gente tem que correr atrás para fazer a investigação e formalizar o auto.
A TRIBUNA: Nesses casos passionais, a facilitação da posse de arma ajuda ou atrapalha a polícia?
MONTELEONE: Falar em posse de arma como forma de diminuição da violência é muito hipócrita. Eu acho que não é a solução para o problema da violência. A gente vê que atualmente a política governamental é facilitar o acesso à arma de fogo e tem visto muitos acidentes domésticos que são possíveis de acontecer e como tem acontecido de pessoas se agredindo com arma de fogo por questões banais, como discussões políticas. Eu acho que o Estatuto do Desarmamento, que ainda está valendo, foi feito justamente para combater isso. Temos decretos que foram feitos para atender determinados casos extremos, mas eu acredito que não é a solução. Todo mundo que obedeça às exigências da legislação tem direito de ter a sua arma de fogo. Eu não recomendo. Acho que o fator surpresa do bandido leva você a se tornar refém dele e você perder a sua arma pra ele. O próprio presidente da República (que adotou uma política armamentista da população) teve a sua arma arrebatada num assalto. Isso é não só com ele, mas pode acontecer com qualquer outra pessoa. O fator surpresa é do bandido, não é nosso. A gente não vai estar esperando ele em casa com a arma em punho para resolver o problema. Eu ainda sou a favor de que se chame a polícia, acione os meios treinados para isso. A auto defesa, apesar de ser um direito legitimo, não resolve e quase acaba em um desfecho fatal.
A TRIBUNA: Nos casos passionais que a gente comentou agora há pouco, se os indivíduos estiverem desarmados, o máximo que acontece é uma troca de socos, mas a vida estará preservada, enquanto que se um deles estiver armado, a situação é outra.
MONTELEONE: Se tiver armado, não tem como prever o final. Qual vai ser a potencialidade lesiva da agressão com uma arma.
A TRIBUNA: E para os policiais, como fica a situação com tantas armas de fogo circulando?
MONTELEONE: Complica um pouco porque hoje você vai fazer uma abordagem tem que redobrar a segurança e a atenção para não ser surpreendido. Como eu disse, o fator surpresa é do bandido, do criminoso. Hoje é comum encontrar muita arma de fogo numa blitz da lei seca, por exemplo. Com os CACs que argumentam estar indo para o clube de tiro. Isso está sendo usado como argumento por muita gente. Isso acontece. São pessoas que deturpam o espírito da lei que não é esse.
A TRIBUNA: E durante as eleições, a Polícia Civil, já tem definida a atuação?
MONTELEONE: É uma atribuição da Polícia Federal, mas a Polícia Civil sempre faz o acompanhamento, cede viaturas para as autoridades e todas as unidades, não só o Plantão Policial, estarão abertas em todas as cidades e disponível para qualquer ocorrência.
A TRIBUNA: Há expectativa de algum problema por causa da polarização?
MONTELEONE: Aqui na nossa região, não, O pessoal daqui é pacífico e não tivemos nenhum problema por divergência política até agora, então não deve acontecer.
A TRIBUNA: Temos algumas legislações novas?
MONTELEONE: Algumas questões nós ainda não discutimos com o Poder Judiciário, mas pelo que a gente já viu, não será possível votar com o celular nem com arma de fogo. Isso é pacífico! Eu posso votar com o meu E-Título. Basta apresentar ao mesário e deixar o celular com ele, antes de entrar na cabine da urna. Agora, arma não entra nem na Zona Eleitoral. Nunca houve este tipo de questionamento, mas a situação mudou. Acho que deveria haver uma medida mais prática: bastaria não permitir a abertura de clubes de tiro no dia da eleição. Aí o indivíduo não teria justificativa para circular com arma de fogo. Mais ou menos como a lei seca.