Segunda-feira, Novembro 25, 2024

Entrevista da Semana Cabo PM Leidi Marino Instrutora do Proerd

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Aos 37 anos de idade, dez deles na Polícia Militar, a cabo Leidi Daiane Marino Aguiar é graduada em Letras, natural de Palmeira d’Oeste e tem no marido, que também é policial militar, como um dos incentivadores da sua carreira. 


Desde o ano passado, é ela quem aplica o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) nas escolas de Jales. “No início do ano passado, a cabo Rosângela, que estava no programa, achou que eu tinha o perfil e me convidou para fazer o curso. O meu nome foi então aprovado pelo comandante da 2ª Cia, capitão Alex Tominaga. Era algo que eu gostava, até por causa da minha formação, mas não tinha a oportunidade até então”. 


A atuação da cabo Leidi foi tão bem sucedida que uma mãe de aluno, que também é professora, foi quem sugeriu a sua entrevista à nossa redação. 


Somente no segundo semestre do ano passado, o programa foi aplicado em dez escolas públicas e particulares, alcançando cerca de 550 alunos jalesenses.  

A Tribuna: O que é exatamente o Proerd? Pra que ele serve? 
Cabo Leidi Marino: O Proerd significa Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência nas Escolas) e é uma junção entre a polícia, escola e a família. Um esforço mútuo para oferecer para as crianças e pré-adolescentes de 9 a 12 anos, que estão cursando o 5º ano do Ensino Fundamental. 
É um programa da Polícia Militar que surgiu nos Estados Unidos e foi implantado no Estado de São Paulo em novembro de 1993, há 29 anos. Também existe em outros estados do Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, ele já completou 30 anos. 

A Tribuna: O que é ensinado no Programa?
Cabo Leidi Marino: O Proerd consiste em atividades educacionais de prevenção ao uso de drogas e à violência, como o nome diz. A gente distribui um livrinho com dez lições que os auxiliam a reconhecer às pressões diretas e indiretas na questão de experimentar o álcool e cigarro, que são as drogas lícitas, e principalmente as drogas mais pesadas, que são as ilícitas. E também a manter uma postura mais equilibrada e se prevenir contra a violência. Então a gente faz atividades, aulas, brincadeiras, enfim, tenta ensinar as crianças de uma maneira mais divertida e dinâmica, tendo um contato mais próximo com a polícia e enfatizando os valores morais e éticos para enfrentar o assédio dos traficantes de drogas sobre elas. Isso tudo para que no médio prazo, eles possam resistir às pressões dos “falsos amigos”. 
Geralmente o curso é ministrado em dez lições e, ao final, a gente pede para que eles façam uma redação onde falam como foi a experiência, o que apreenderam e o que vão levar para a vida deles. O melhor texto de cada sala é premiado com uma medalha. A gente combina com a escola e faz uma formatura para entrega de um certificado de conclusão para todos os alunos. No primeiro semestre é feito nos municípios da região e no segundo nas escolas da cidade de Jales. 

A Tribuna: O que eles dizem nestas redações? 
Cabo Leidi Marino: Eles nos surpreendem muito nestas redações. Tem algumas que chegam a nos emocionar por ver o relato destas crianças. Às vezes a gente fica na dúvida sobre como isso está chegando para elas e é na hora que elas fazem esse texto que a gente tem a certeza do resultado do aprendizado. Tem uns textos muitos bons, mas a gente tem que premiar apenas um de cada sala com a medalha enviada pela Polícia Militar.

A Tribuna: Como você se tornou instrutora (se é assim que se chama) do Proerd? Existe algum requisito para o cargo, tipo uma formação pedagógica? Como o instrutor é escolhido?
Cabo Leidi Marino: Primeiramente precisamos ser indicados e ter a aprovação do comando. Depois frequentar um curso chamado CEP (Curso de Docência do Proerd) que tem 80 horas/aula. Depois desse período fazemos uma avaliação, prova prática até conseguir o certificado de instrutor do Proerd. Depois disso, eu ainda acompanhei a cabo Rosângela em diversas aulas. Ela tem muita experiência. Ficou 15 anos no Proerd e tem 27 anos de Polícia e é uma pessoa a quem eu agradeço muito por ter me passado este legado tão importante.  

A Tribuna: Você percebe que o trabalho dá resultado, quer dizer, consegue evitar que algum adolescente entre nas drogas ou você tem a sensação de enxugar gelo?
Cabo Leidi Marino: Eu acredito muito no Proerd. É muito bacana porque é um programa feito para trabalhar com a questão da prevenção ao mundo das drogas, do álcool e do cigarro mesmo para evitar que elas entrem no vício porque depois que entra é muito difícil, quase impossível sair dele. E é isso que nós trabalhamos.  A questão da resistência até dos grupos de amigos porque na adolescência fica a pressão dos amigos e eles acabam cedendo e caindo no vício. Acredito que a gente precisa trabalhar a prevenção, antes que seja tarde.  

A Tribuna: O saudoso delegado Sebastião Biazi dizia que a droga é a origem da grande maioria dos crimes. No entendimento dele, a necessidade de consumir drogas leva ao furto, roubo, agressão e pode levar até a homicídios. Você concorda com isso?
Cabo Leidi Marino: Sim, eu concordo muito com isso. A droga é a porta de entrada para outros delitos. Porque começa como usuário depois começa a traficar para ter acesso à droga e na falta de dinheiro começa a cometer pequenos furtos, depois vai para roubos e não consegue mais voltar. Alguns vão parar em clínica de recuperação, outros vão parar na cadeia e até perdem a vida em vista do envolvimento com o mundo do crime.  

A Tribuna: O programa é muito bem conceituado na sociedade em geral, tanto que esta entrevista foi sugestão de uma mãe de aluno. Vocês recebem um bom retorno dos pais e professores?
Cabo Leidi Marino: Nós temos muitos alunos que vem de famílias desestruturadas com familiares que já estão no sistema carcerário porque cometeram delitos em relação às drogas ou por conta do consumo das drogas. Realmente não são todas as crianças que vamos conseguir tocar e convencer que elas não sigam porque elas já tem isso no cotidiano. Mas essas aulas servem, além de todo esse conteúdo, também para aproximá-las da polícia, para mostrar o outro lado porque elas têm na cabeça que a polícia faz o mal e esse contato é pra mostrar que a polícia está aqui para ajudar, para dar apoio, que elas podem contar e não o contrário. 
E ao final do curso muitas nos procuram com relatos emocionantes de que elas tinham medo da polícia e agora têm uma visão diferente. E é isso: mostrar para elas que as nossas vidas independem da nossa classe social e sim das nossas escolhas. A droga está em toda a sociedade e não apenas em lares mais pobres, e as escolhas deles têm uma consequência, negativa ou positiva, e o futuro depende dessas escolhas. Está na mão deles escolher. A gente mostra os dois lados da história.     

A Tribuna: Há teóricos que dizem que o combate ao tráfico só leva para a cadeia pequenos traficantes pobres e por isso o consumo deveria ser descriminalizado. Com base no seu cotidiano de policial e no contato com menores consumidores, o que você acha disso? Usuários devem ser presos?
Cabo Leidi Marino: Costumamos dizer que se você quer saber sobre a liberação das drogas, basta perguntar para mãe de um usuário. Só a família que passa por isso sabe o sofrimento, a dor e a angústia que é ter um filho dependente. É isso que o Proerd trabalha: prevenção para que as crianças tenham uma vida com hábitos saudáveis e longe das drogas, independente de classe social. 
Todo esse resultado, eu dedico e gostaria de agradecer ao meu comandante, o capitão Alex Tominaga, a capitã Cristina, que estava aqui durante o período em que ele estava fazendo o curso, o coronel Fávero, que é o comandante do Batalhão da nossa área, por eles acreditarem no meu trabalho e me darem a oportunidade de estar com as crianças aplicando o Proerd, e às escolas em geral de estar aplicando esse programa tão importante, que realmente faz a diferença na vida de tantas crianças.    

 

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