Os administradores municipais muitas vezes reclamam que precisam da ajuda dos munícipes para resolver os problemas da cidade. E quando aparece um cidadão tentando ajudar como voluntário, ele simplesmente não tem o apoio da Prefeitura. É o que está acontecendo com o senhor Irineu Bonello. Dono de uma pequena indústria no Distrito Industrial III e um amante da natureza, quase todos os dias ele deixa os afazeres de sua empresa para, munido de uma enxada, dedicar-se às mudas de árvores que foram plantadas pela Prefeitura em uma área verde do Distrito.
O plantio das árvores não foi uma iniciativa espontânea da Prefeitura, mas uma cobrança da Cetesb, que ameaçou o município com pesadas multas. Irineu, um ex-caminhoneiro, instalou sua pequena empresa em frente à área e acompanha o caso há alguns anos. “Na verdade, isso começou ainda durante a administração do Parini. Na época dele, as árvores foram plantadas duas vezes, mas foram abandonadas e não vingaram. Eu comecei a cuidar delas na época da Nice, quando as árvores foram plantadas pela terceira vez. Afinal, é dinheiro nosso que está sendo gasto toda vez que ocorre um plantio. São mais ou menos umas 2.000 árvores, que, se não forem cuidadas, podem morrer novamente. E aí a Prefeitura terá que plantar pela quarta vez, pois a Cetesb está acompanhando”, diz seo Irineu.
Ele conta que até o prefeito Pedro Callado já esteve no local, mas a ajuda da Prefeitura que ele precisa, ainda não veio. “Não estou pedindo muita coisa: só preciso que a Secretaria de Agricultura mande uns dois ou três funcionários para capinar a área. Na verdade, eles tinham que ter arrancado o capim (brachiara) antes de plantar as árvores, mas, já que não fizeram isso, podiam pelo menos ajudar a arrancar agora. Se fizerem isso, depois o resto eu cuido”. Segundo Irineu, depois que ele chamou até um funcionário da Cetesb para ver o local, a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente enviou algumas máquinas para limpar o local, mas, para ele, esse não é o método correto. “As roçadeiras da Prefeitura machucam as árvores e não limpam do jeito que precisa ser limpo”, argumenta, indignado.
Ele ressalta, porém, que sua indignação não é contra o prefeito Pedro Callado. “O doutor Pedro é meu amigo. Ele vem aqui de vez em quando, com a esposa dele. Nossa amizade começou quando ele abriu o Fórum, num domingo, para ouvir meu depoimento a respeito de um caso lá na Justiça. Eu era caminhoneiro e tinha uma viagem marcada para o dia em que estava previsto o depoimento. Então, meu advogado pediu e o doutor Pedro – sem nem me conhecer e mesmo eu sendo um simples caminhoneiro – abriu uma exceção e me ouviu num domingo. Minha admiração por ele começou aí, de modo que eu confio muito nele, mas, infelizmente, sua assessoria está deixando a desejar”, finalizou Irineu.
Outro lado:
O secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Jorge Pêgolo, confirmou que também já esteve no local e está tomando providências. “Infelizmente, no serviço público as coisas não são feitas na velocidade que precisariam ser feitas. Eu estou acompanhando esse caso de perto. O vereador Gilbertão também está acompanhado e, de vez em quando me liga. O que acontece é que o seo Irineu quer que a coisa seja feita do que jeito que ele acha que tem que ser feito. E ele tem razão. Ele está pedindo que a Secretaria disponibilize dois ou três braçais. Mas, onde estão estes dois ou três braçais? Infelizmente, nossa equipe é reduzidíssima e não dá pra resolver todos os problemas com a rapidez que gostaríamos”, disse Pêgolo.
Justiça dá 30 dias para Prefeitura plantar árvores na Subida Preta
Não é só no Distrito III, que a Prefeitura enfrenta problemas com árvores. A juíza da 4ª Vara de Jales, Maria Paula Branquinho Pini, em decisão proferida no final de agosto passado, deu 30 dias de prazo para que o município providencie o plantio de árvores em uma área de 0,69 ha, localizada na Subida Preta. A história começou no final de 2006, no primeiro mandato do ex-prefeito Humberto Parini, quando uma equipe da Prefeitura de Jales, a pretexto de realizar algumas melhorias naquele trecho da estrada municipal Jales-Urânia, promoveu também o corte de algumas árvores nativas.
Em junho de 2009, Parini firmou um Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA) com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, onde se comprometia a plantar as 1.150 árvores no local, até janeiro de 2010. A Prefeitura, segundo relatórios, chegou a realizar o plantio, mas, em função da falta de cuidados e de tratos culturais, a área foi invadida pela gramínea brachiaria e muitas árvores não resistiram. Em fevereiro de 2015, um laudo de técnicos da Prefeitura atestava que “as mudas plantadas e a vegetação da área em questão estão sendo bem cuidadas e conduzidas”, mas uma vistoria realizada dois meses depois, em abril, por técnicos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente desmentiu o laudo da Prefeitura.
Curiosamente, a denúncia sobre o corte das árvores chegou ao Ministério Público, em 2007, através de uma denúncia do então vereador Jorge Pêgolo, atual secretário de Agricultura e Meio Ambiente. Caberá a ele, agora, tomar providências para atender a determinação da Justiça, sob pena de a Prefeitura receber uma multa diária.