A 53ª. Assembleia da CNBB tinha tudo para ser tranquila, e voltar-se com exclusividade para seus problemas internos, deixando de lado as preocupações com a sociedade. Parecia mesmo que as duas incumbências centrais, a aprovação das diretrizes pastorais e as eleições para os diversos cargos, iriam ocupar as atenções a ponto de deixar de lado outros assuntos.
Mas, na medida em que a assembleia avançava, dando conta das duas incumbências centrais, foram emergindo diversas outras questões, que acabaram ocupando as atenções dos bispos.
A presença do Dr. Ricupero, convidado para coordenar a análise de conjuntura social, acendeu o interesse da assembleia, pela constatação de como é importante uma visão histórica, para compreender mais em profundidade a realidade brasileira. Ela é profundamente marcada pela desigualdade, que ainda condiciona todo o processo cultural, econômico e social do Brasil. À luz desta constatação podemos compreender melhor as tentativas feitas ultimamente, com a nítida intenção de ao menos diminuir a desigualdade que marca o Brasil.
Disto surgiu a proposta de apresentarmos, por escrito, num texto consistente, uma análise do Brasil visto sob a perspectiva da desigualdade. E ficou martelando nossa consciência a categórica afirmação do Dr. Ricupero, de que uma sociedade será julgada pela maneira como ela tratar os mais vulneráveis.
Outro assunto que acabou também merecendo um texto orientador, foi a reforma política. No começo da assembleia, alguns bispos, preocupados inclusive com a imagem da CNBB, alertaram que seria bom que a CNBB se voltasse mais para seus assuntos internos. E até citaram a reforma política, advertindo que este não seria um assunto de sua alçada.
Pois bem, na reta final da assembleia se achou conveniente, em vez de calar-nos sobre o tema, ao contrário, devíamos oferecer reflexões consistentes, em grande parte assimiladas ao longo do intenso trabalho realizado pela CNBB, e que resultou na proposta de uma “iniciativa popular de lei”, cuja coleta de assinaturas está em andamento, e se espera chegar a um milhão e meio, que seriam entregues ao Congresso Nacional no final do mês de maio.
Junto a isto, emergiu com clareza um critério importante para discernir quando, e como, a Igreja pode colaborar na solução dos problemas da sociedade. Ainda mais quando o assunto é complexo, e apresenta aspectos de difícil convergência. Em certas circunstâncias, como desta vez, só mesmo a presença da CNBB, com sua credibilidade, tornou possível o consenso mínimo em torno de alguns pontos chaves da pretendida reforma política.
De novo se comprova, o que neste ano a Campanha da Fraternidade apontou com insistência: a presença da Igreja na Sociedade se justifica pela atitude de serviço que ela é chamada a ter, seguindo de resto o exemplo do próprio Cristo.
E foram surgindo outros assuntos. Julgou-se de nosso dever expressar nossa solidariedade aos cristãos que estão sendo perseguidos por causa da sua fé. Diante da inércia do mundo face a esta preocupante situação, se concluiu que ao menos devíamos expressar nossa solidariedade, manifestando a esperança de que esta triste realidade possa ser detida, e se crie um clima de diálogo para a superação destas violências.
Outro assunto que também acabou merecendo nossa atenção, foi o Ano da Paz, proposto pela CNBB.
Em síntese, a Igreja nunca pode se fechar em torno de si mesma.