Terça-feira, Novembro 26, 2024

Clube do Ipê

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Os anos 60 foram polvilhados de emoções e de empolgação. O entusiasmo foi como uma marca registrada daquela juventude brasileira: “enquanto uns combatiam, outros se lixavam para a tal ditadura militar daqueles tempos”. Era uma época de romantismo e se iniciava uma nova etapa em termos de comportamento. Mais liberada e procurando novos horizontes, eis que se partia de forma resoluta para a quebra de tabus e preconceitos. Anos maravilhosos, inesquecíveis, principalmente no setor musical com a Bossa Nova, a Jovem Guarda, o surgimento dos “Beatles” que revolucionaram o mundo com seus cabelos longos e que na época significava um tremendo escândalo, a Nova Era de Aquário, que se iniciou em Fevereiro de 1962.  A época da calça Lee, e da “Cuba Livre” que rolava pelos copos e endoidecia os jovens daqueles tempos.

Nos anos 60 outras recordações… Seja pelo bicampeonato mundial de futebol no Chile, pelo Festival de Woodstock ou pelas belíssimas apresentações dos grandes times brasileiros. Para os críticos da época, o mais expressivo, o mais significativo, o mais espetacular, era um Santos e Botafogo. Ah! E pela era Pelé.

Nesses mesmos anos sessenta, da ditadura, das torturas, de revoluções culturais, musicais, dos festivais da Excelsior e Record, nascia em uma pequena cidade do interior de São Paulo, o Clube do Ipê que  se confunde, e muito com a nossa história, com a história de Jales. O Clube do Ipê foi palco de grandes emoções e saudades: “dos bailes, o tradicional e o de gala, do carnaval, da piscina, do basquete e, não se esquecendo, das famosas tardes de domingo.”

É de doer no fundo da alma o que está acontecendo com o Clube do Ipê. Nada mais triste para muitas gerações, do que viver e ver o estado atual desse tradicional clube, que reinou por longos e deliciosos anos. Para meus conterrâneos, aquela imponente piscina (para os padrões da época), o salão de baile, a quadra de basquete, que hoje já não existe mais, o bar do Ximbica  sempre representaram o nosso templo de lazer. Ali, os jovens de sucessivas épocas, viveram sonhos.  Abriram seus olhos para um novo e pequeno mundo, mas maravilhoso e fantástico. Experimentaram a alegria de participar da vida, mesmo numa pequena comunidade, tão distante dos grandes centros.

Em épocas passadas, o grande sonho de qualquer cidade em desenvolvimento era ter um clube de lazer, caracterizava-se como status, contemplaria, sem dúvidas aos que desejavam dele desfrutar. Reunir amigos, promover atividades esportivas, desenvolver a cultura, alternar a integração da sociedade era o objetivo maior. Lembramos que por volta dos anos sessenta, o entretenimento em Jales era difícil.

A falência dos clubes sociais é pública e notória em varias cidades do país. Nosso Clube do Ipê que o diga. Sua piscina, símbolo de nossa adolescência está cheia de água e vazia de emoção e alegria, é mantida como uma das poucas lembranças que restaram dos seus tempos áureos, quando reunia aquela juventude sadia de Jales.

O Clube do Ipê sempre se identificou também, como palco de grandes eventos, alguns considerados relevantes; formaturas, casamentos, encontros religiosos, congressos, convenções, concurso Miss Jales, festas diversas, fez ele parte da vida de nossa comunidade.

Antes, quem podia frequentar um clube como o Clube do Ipê ganhava “status”. Hoje, o status migrou para os condomínios. Aliado a isso, a partir dos anos 90 o carnaval de salão, tão tradicional foi para as ruas nos blocos que se transformaram em verdadeiros salões ambulantes. Com isso, vários clubes sociais não puderam se manter. Entre eles o nosso Clube do Ipê. As dívidas se acumularam, os sócios sumiram e agora estão retalhando esse patrimônio histórico para saldar suas dívidas.

Clubes sociais do interior, que já foram sinônimos de glamour, tentam sobreviver ao pesadelo causado pelo esvaziamento de associados de suas dependências.  

A verdade, no entanto, é uma só: foi decretada a falência dos clubes sociais e de lazer porque a grande maioria não aceita um dia de lazer em clubes fechados. Lazer, hoje significa também liberdade e nada melhor para essa grande maioria do que um rancho, uma chácara, uma cidade turística, o mar e suas praias, para um final de semana para o descanso e para o lazer. Mas é preciso que haja uma reação em não aceitar esse declínio como natural, normal. Os nossos pais, mesmo sendo “quadrados e rústicos” (sic), viam nos clubes sociais a possível redenção em ter um lugar para vestir a melhor roupa, se introduzir nas boas normas de etiqueta social, da convivência, no trato com as pessoas, lugares de bailes, confraternização, casamentos, muito lazer, mostrar a expressão corporal e levar a namorada para um lugar diferenciado, pois era o início do namoro.

Literalmente demos as costas ao nosso Clube do Ipê. Talvez tenhamos acordado tarde demais. Tomara que este artigo sirva como um clamor. Vamos salvar nosso Clube do Ipê. Não é nosso querido e saudoso “Seo Mané” Celes?

 

 

*Marco Antonio Poletto é Gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural

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