O vereador Bruno de Paula (PSDB) usou um grande espaço que tinha disponível na sessão camarária de segunda-feira, 24, durante a discussão de um requerimento sobre exames de ultrassonografia no Consirj para contestar a demora no atendimento do AME-Jales (Ambulatório Médico de Especialidades). Porém, ignorou que a fila de espera para atendimento é, em média, de 17 meses e meio, mas ultrapassar dois anos em especialidades como oftalmologia e cardiologia, por exemplo.
“Querem que o AME atenda mais os pacientes? Contratem mais serviços! É simples: vai no Governo do Estado e contrate o serviço do AME”, debochou.
Crítico ferrenho dos veículos de imprensa, contra os quais já pediu até abertura de investigação no Ministério Público (arquivada pelo promotor), Bruno se referia a uma reportagem de A Tribuna, único jornal que noticiou a abertura de um Inquérito Civil pelo Ministério Público para investigar a longa fila de espera por atendimento no AME.
“Falaram nesses jornais (o vereador usa o plural porque tem medo de ser desmentido) que estavam morrendo pessoas por não terem sido atendidas [no AME]. Deixa eu dizer uma coisa pra você população: lá não é uma unidade de pronto atendimento. Então acho que estão invertendo valores. Precisam aumentar a demanda do AME (SIC)? Vão no governador e peçam mais exames lá”, sugeriu, misturando demanda com oferta e capacidade de atendimento.
Deley Vieira, que ao lado de Andréa Moreto procurou o Ministério Público para denunciar a extensa fila de espera que coloca em risco a vida de muitos pacientes, tentou explicar ao colega a trágica situação. “A verdade é que o atendimento à Saúde feito pelo estado é de péssima qualidade. Sabe quantas vagas para oftalmologista tem no AME de Jales por mês? Uma! Apenas uma para toda a rede municipal de saúde”.
Promotor pediu relatório sobre fila de espera
No fim de março, o promotor de Justiça da Saúde Pública de Jales, Wellington Luiz Villar, instaurou um inquérito civil para apurar os prejuízos causados à saúde da população da cidade de Jales e região, por causa da demorar na prestação dos serviços de média complexidade pelo AME de Jales. O procedimento foi aberto depois que os vereadores Andrea Cristina Moreto Gonçalves e Vanderley Vieira dos Santos levaram informações sobre a demora excessiva até óbitos de pacientes na fila de espera por atendimento no Ambulatório. De acordo com os parlamentares, há enorme demanda reprimida nas diferentes áreas da saúde, resultando em demora de meses ou até anos para definir diagnóstico da enfermidade, chegando a casos de óbito sem realização dos exames.
“Assim, diante da relevância do possível prejuízo invocado para a saúde pública, é forçoso formalizar a cabal apuração dos fatos e, se comprovados, formalizar o competente compromisso de ajustamento ou ajuizar a ação civil pública em face dos responsáveis”, informou a promotoria.
A partir disso, o promotor determinou que em 30 dias, a Santa Casa de Votuporanga, que é a administradora do AME de Jales, encaminhe um levantamento discriminado no que se referem às consultas e exames de todas as especialidades reprimidas há mais de 180 dias, com os respectivos nomes dos pacientes e datas das consultas/exames; O mesmo ofício foi enviado à Secretaria Estadual da Saúde, inclusive notificando-a para os fins de recurso sobre a instauração, requisitando informações.
Demora por atendimento é questão de anos, não de meses
Segundo relatório de demanda reprimida obtido pelo jornal A Tribuna, em março, os médicos das UBS (Unidades Básicas de Saúde) de Jales haviam feito 13.910 pedidos de consultas com especialistas diversos ao DRX XV (Departamento Regional de Saúde) que cadastra esses pedidos na Central de Regulação de Vagas, que envia os pacientes para o AME, que faz o atendimento secundário (consultas e pequenos procedimentos cirúrgicos), e o Hospital de Base, que atende os casos mais complexos.
Desses pedidos, apenas 723 foram atendidas. A unidade oftalmológica de Palmeira d’Oeste atendeu 290 casos de oftalmologia e o Consirj outras consultas268, restando nada menos que 12.629 pedidos na fila de espera.
Não há prazo para esses pacientes serem atendidos, uma vez que o andamento da fila de espera depende de muitas variantes, portanto a situação é praticamente indissolúvel, levando muitos pacientes a correrem o sério risco de nunca terem suas consultas realizadas. Se o ritmo se mantiver, serão necessários 17 meses e meio aproximadamente para que todas as consultas sejam atendidas. Sem contar os novos casos e os chamados “retornos”.
A especialidade com o maior atraso (demanda reprimida) é a oftalmologia para a qual havia no começo do mês 2.481 pedidos de consultas. O AME atendeu apenas 120 pacientes (média de 5,4 pacientes por dia). Outros 290 foram atendidos em Palmeira d’Oeste, restando 2.071 para abril.
No mesmo período, 18 encaminhamentos foram feitos para os casos que se enquadram na “linha de cuidado catarata”. O AME atendeu apenas um.
A cardiologia aparece no topo das mais demoradas. Para essa especialidade foram solicitadas 1.985 consultas, mas foram atendidas apenas 72, restando 1.913 pacientes na fila.
No ritmo atual, demoraria 26 meses (mais de dois anos) para zerar a fila de espera por uma consulta ao cardiologista. Isso sem contar os “retornos” e os novos pedidos.
Bruno de Paula contesta demora no atendimento do AME
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