Na última divulgação do IBGE, referente a inflação de julho, o leite UHT registrou alta de 25,5% ao consumidor. O grupo de leite e derivados apresentou elevação de 14%, enquanto a inflação oficial recuou 0,68%. A causa desse aumento nos lácteos está no desequilíbrio entre oferta e demanda, já que a produção de leite registrou queda de 9% no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo semestre do ano passado, prejudicada pelo incremento de custos e recuo das margens. O período mais complicado em termos de rentabilidade foi o segundo semestre de 2021 e início de 2022. Com pouco leite no campo houve forte competição entre os laticínios na compra do produto, elevando o preço da matéria-prima. Foi também o momento de forçar repasses no mercado atacadista, aproveitando o momento de escassez para recuperar margens. Os meses de maio/2022 a agosto/2022 foram melhores para a rentabilidade no setor.
No entanto, o nível de incertezas e a preocupação com os preços vem ganhando espaço nos últimos dias. No mercado internacional, o cenário de crescimento econômico piorou. O risco de recessão dos Estados Unidos aumentou, as previsões de crescimento europeu são piores e a China vem mostrando sinais de desaceleração do crescimento. Os grandes fundos de hedge estão reduzindo suas exposições em commodities, contribuindo para o recuo nas cotações sejam elas metálicas, energéticas ou agrícolas. O milho teve os preços recuando do patamar de 8 dólares/bushel para cerca de 6 dólares/bushel no mercado norte-americano entre maio e agosto. Os lácteos também recuaram nos últimos leilões da plataforma GDT, com o leite em pó integral sendo cotado em US$ 3.544/tonelada em 02 de agosto, o menor preço desde 17 de agosto de 2021.
No mercado interno, pelo lado dos custos de produção a notícia é positiva. Já em relação a tendência de preços e importações, o cenário é mais complicado.
O custo de produção, medido pelo ICPLeite/Embrapa, recuou pelo terceiro mês consecutivo. Em 2022, a alta foi de apenas 1,28%. No entanto, comparando a média de janeiro a julho de 2022 com o mesmo período de 2021, chega-se a um incremento de 18,1%. Ou seja, no comparativo anual os custos ainda estão mais altos, apesar da desaceleração recente. Nos últimos meses a queda de preços dos concentrados, fertilizantes e combustíveis contribuiu para uma pressão menor no custo de produzir leite.
No mercado atacadista de lácteos, o comportamento dos preços no início de agosto foi de recuo. O leite UHT no atacado paulista registrou queda de 13% nos primeiros 10 dias de agosto, enquanto o queijo muçarela caiu cerca de 10%, segundo o Cepea. A queda no UHT foi de 70 centavos de real por litro e no muçarela de 3 reais por quilo. No mercado Spot também houve retração, até porque, neste momento de aproximação da safra os laticínios tendem a dar preferência ao leite de fornecedores próprios.