Desde os primórdios da humanidade, o adolescente sempre teve uma agenda. O conceito de adolescência foi criado em 1904, pelo psicólogo americano Stanley Hall. Até então, a transição da infância, para a idade adulta, era marcada por ritos de passagem. A antiguidade clássica, mais precisamente na Grécia antiga, um jovem adquiria “status” se tivesse educação. O rito de passagem era o período de aprendizagem, entre mestres e discípulos. Na idade média, ser ordenado cavaleiro significava deixar de ser criança. Por volta dos quinze anos, o jovem recebia armas, cavalo de combate e armadura para os torneios. No século XVII, um período conturbado por várias guerras na Europa, à iniciação na vida adulta era ingressar no serviço militar. Muitas vezes, a vida profissional começava bem antes, com o trabalho nos campos e na manufatura. Nos séculos XVIII e XIX, o livro “Os sofrimentos do jovem Werter”, do alemão Goethe, marcou o modismo de sofrer por amor, típico da época romântica. Entendia-se que um jovem tornava-se adulto depois da primeira desilusão amorosa. No metade do século vinte, início dos anos cinquenta, a adolescência adquire “status” social nos Estados Unidos, já maior potencia mundial, e se irradia para os países do primeiro mundo, depois se espalhando para o mundo inteiro. A sociedade de consumo, avançando e se consolidando no período, incorpora milhões de adolescentes a novos hábitos de compras e participação na sociedade emergente do pós-guerra. Os jovens ingressam na universidade, consomem, se rebelam. O rock é a nova linguagem dos jovens, falando de drogas, sexo e política. A cultura de contestação tem várias vertentes. Dos “hippies” aos rebeldes sem causas, explode na década de 60 a intensa politização da juventude. Criticando o capitalismo e suas mazelas, o jovem afirma sua transição para o mundo adulto. Do culto ao amor livre à contestação da guerra do Vietnã, os jovens ocupam um espaço nunca antes conquistado na história da humanidade. A primeira pista de decadência na juventude eclode na década de 80, com a proliferação de “tribos”. Cada uma possui hábitos de consumo próprios. O terceiro milênio começa com a geração tecnológica, num mundo de informações rápidas, com os contatos acontecendo pela tela do computador. São os tempos da música eletrônica, jogos eletrônicos, amizades eletrônicas e relacionamentos eletrônicos. Hoje é tudo muito depressa, portanto a agenda de agora é rápida e os relacionamentos curtos. Acabou-se o tempo do romance, da praça e do banco de jardim. Coreto com banda de música, nem pensar. Adeus construção do afeto, respeito humano e sentimento de cumplicidade e solidariedade entre o casal de jovens. A cultura do “ficar” é o cúmulo da degradação humana, mas integra-se a nova agenda do adolescente robotizado, sem ideias e mergulhado em dúvidas existenciais. “Ficar” é exatamente o não ficar, porque não junta e não se sustenta. O ato de “ficar” é o desenho revelador da relação supérflua, ausente de compromisso e distante da aprovação social. Apenas um pequeno tempo de intimidade libidinosa, depois adeus e nada mais na agenda adolescente. Interferir neste caos individual é fundamental no ajustamento da família moderna. Não se deve cobrar, obviamente, o romantismo do século XIX, muito menos o conservadorismo do período vitoriano. Apenas se exige o diálogo, no intuito de se valorizar a vida, o corpo e a mente. É preciso que a família resgate, através de conversa aberta e franca com os filhos adolescentes, os valores que não se podem deteriorar, em tempo algum, em razão de sua eternidade, caso do amor, por exemplo. O adolescente precisa convencer-se do amor, enquanto sentimento universal, imprescindível e eterno, para depois, quando adulto e já na condição de pai, poder repassar, com ênfase, para seus filhos. O “ficar”, mais que os valores da civilização e da moral que o adolescente nega, é o medo do amor. “Ficar” é tratar a pessoa, com quem se fica como um simples objeto descartável. Na agenda adolescente, onde não se doa nada e se cobra tudo, o medo do amor se mescla com a velocidade do computador. Basta do discurso adolescente em defesa do silêncio dos pais, quanto à banalização de seus relacionamentos, interferindo na trajetória natural da vida. Precisa ser enfrentada, com muita coragem e determinação, a valentia da agenda adolescente, quando eles apenas desejam que os pais mantenham a carteira aberta e a boca fechada. Que os pais introjetem nos adolescentes a ideia de que “ficar” é para os animais, enquanto gente deve viver a eternidade do amor.
*Marco Antonio Poletto é Gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural