Em março, o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Jales, atendeu apenas 723 consultas solicitadas pelas Unidades Básicas de Saúde (ESF) de Jales. Os procedimentos são popularmente conhecidos como “encaminhamentos” e fazem parte da atenção secundária, que é de responsabilidade exclusiva do Governo do Estado. O número é basicamente o mesmo em todos os meses, com pequenas variações.
No começo do mês, havia 13.910 pedidos de consultas com especialistas diversos feitos pelas UBS de Jales. A unidade oftalmológica de Palmeira d’Oeste atendeu 290 casos de oftalmologia e o Consirj 268 outras consultas, restando nada menos que 12.629 pedidos na fila de espera.
Não há prazo para esses pacientes serem atendidos e a situação é praticamente indissolúvel, levando muitos pacientes a correrem o sério risco de nunca terem suas consultas realizadas. Se o ritmo se mantiver, serão necessários 17 meses e meio aproximadamente para que todas as consultas sejam atendidas. Sem contar os novos casos e os chamados “retornos”.
A especialidade com o maior atraso (demanda reprimida) é a oftalmologia para a qual havia no começo deste mês 2.481 pedidos de consultas. O AME atendeu 120 pacientes (média de 5,4 pacientes por cada um dos 22 dias do mês). Outros 290 foram atendidos em Palmeira d’Oeste, restando 2.071 para abril.
No mesmo período, 18 encaminhamentos foram feitos para os casos que se enquadram na “linha de cuidado catarata”. O AME atendeu apenas um.
A cardiologia aparece no topo das mais demoradas. Para essa especialidade foram solicitadas 1.985 consultas, mas foram atendidas apenas 72, restando 1.913 pacientes na fila.
No ritmo atual, demoraria 26 meses (mais de dois anos) para zerar a fila de espera por uma consulta ao cardiologista. Isso sem contar os “retornos” e os novos pedidos.
Para os casos de cardiologia linha de cuidado, a situação é assustadora. Havia 66 pedidos de encaminhamento, mas apenas dois foram atendidos. O mês de abril já começa com uma fila de 64 pedidos e chances muito remotas de atendimento. Na situação atual, o último da fila vai demorar 32 meses para chegar ao consultório do especialista.
Neste mês as UBS de Jales conseguiram 75 consultas de neurologista, especialidade na qual o prazo para consulta é menor. “Apenas” 14,3 meses.
2.727 EXAMES
A interminável fila de espera não é exclusividade dos encaminhamentos. Os exames, procedimentos fundamentais até mesmo para o diagnóstico médico e para a avaliação da real condição do paciente e sobre a evolução da doença, portanto, do seu possível tratamento, também é desanimadora. O mês de março começou com uma fila de 3.190 pedidos de exames. O AME atendeu apenas 380. O Consirj realizou outros 173 e restaram 2.727 para o mês de abril. A maioria dos exames são de ultrassonografia (2.858 pedidos). O AME realizou 250 e o Consirj 88, portanto, abril já começa com uma fila de aproximadamente 2.500 exames de ultrasson.
Solução passa pelo aumento e redistribuição do número de consultas
Profissionais da área ouvidos pelo jornal disseram que não há muitas alternativas para se resolver o problema, que é antigo. Um das soluções possíveis seria o Estado aumentar o número de consultas contratadas.
Esses profissionais explicaram que os AMEs prestam serviço para o Estado, que paga pelos procedimentos realizados. É a chamada “contratualização”. O problema é que o número de consultas nunca é suficiente para atender a necessidade da população. Ou seja, o Estado não paga por todos os pedidos feitos pelos municípios, mas apenas o valor que ele mesmo define, sem levar em conta a fila de espera.
“Não é exatamente culpa do AME porque eles atendem somente a quantidade que foi contratada pela Secretaria Estadual de Saúde e essa quantidade não supre a demanda”, disse uma enfermeira.
Outra solução seria a redistribuição das consultas destinadas a cada município. Não raro, sobram consultas em alguns municípios e faltam em outros. “Seria preciso fazer um levantamento de quais especialidades são mais procuradas e as que são menos procuradas por determinado município e conferir quais estão sobrando para destinar para onde está faltando”, disse uma técnica.
Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Saúde de Jales e os ESFs já adotaram uma estratégia batizada de “bolsão”, na qual captam as vagas ociosas.
Todos os dias, por volta de 6h30, os funcionários municipais destacados para a função, se debruçam no computador em busca de consultas que possam ser reivindicadas. É assim que conseguem consultas que não tinham sido oferecidas pelo DRS (Departamento Regional de Saúde), órgão que realiza a distribuição dos procedimentos entre os municípios.
Não fosse esse trabalho, a situação seria muito pior porque muitas especialidades vieram com número zero de consultas este mês.
Encaminhamentos não dependem das UBS
A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Saúde de Jales que ratificou que as consultas no AME (atenção secundária) não são de responsabilidade de nenhuma prefeitura, muito menos da de Jales.
“Os médicos do município (UBS) avaliam o paciente e fazem o encaminhamento para o especialista conforme o problema e a complexidade. Por exemplo oftalmo, cardiologista, gastro, no AME. Aí esse paciente é cadastrado na CROS (Central de Regulação de Vagas, do Estado) e fica na fila de espera para a consulta. Quando chega a sua vez, o AME (ou o Hospital de Base) chama. O Município não tem nenhum acompanhamento depois que o paciente entra na Central de Vagas porque é do Estado”, explicou a secretária de Saúde, Nilva Gomes Rodrigues, que ainda está em convalescência, mas nos atendeu com a prestatividade de sempre.
AME deixou de atender mais de 12 mil consultas solicitadas pelo Município de Jales em março
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