A Justiça de Santa Fé do Sul revogou o pedido de prisão preventiva da advogada Júlia Voltolini Caparroz, que havia sido decretada no início da semana. De acordo com o pedido de prisão, a advogada estaria se ocultando para escapar da intimação, mas, depois dos argumentos da defesa, a Justiça entendeu que ela não está foragida. Segundo o advogado de Júlia, Gilberto Antonio Luiz, sua cliente deu à luz há um mês e está morando no Rio Grande do Norte, mas estaria disposta a colaborar com o processo.
A Justiça tinha decretado a prisão da advogada por uso de documento falso e patrocínio infiel. Ela é apontada como a maior fraudadora do Estado em ações ajuizadas no Juizado Especial Cível e Criminal. Júlia, que estaria morando atualmente no Rio Grande do Norte, tinha escritório em Santa Fé do Sul e atuou em Jales entre 2014 e 2016. Nesse período, a advogada ajuizou, em nome de clientes de Jales, pelo menos 14 ações de indenização por danos morais junto ao Juizado Especial, com valores que variavam entre R$ 27 e R$ 31 mil, todos contra grandes empresas, como a Telefônica e os bancos Santander, HSBC, Bradesco e do Brasil.
Para conseguir a revogação do pedido de prisão, a defesa de Júlia argumentou, também, que ela está respondendo a todos os processos marcando presença nas audiências, mas que, no caso em que a prisão foi decretada, a ação corria em segredo e a advogada não teria sido notificada pela Justiça. O processo que gerou o pedido de prisão pode estar correndo em segredo de Justiça, mas, só na comarca de Rio Preto tramitam outros 51 processos contra a advogada, sob a acusação de estelionato e de uso de documento falso.
Segundo os processos, a advogada usava o nome de várias pessoas que sequer conhecia, para entrar com ações de indenização por danos morais junto ao Juizado Especial, também conhecido como “pequenas causas”. Nesse tipo de tribunal, o autor da ação normalmente não precisa comparecer às audiências, somente o advogado. Depois que ganhava as ações, a advogada não repassava o dinheiro para os verdadeiros donos. Em Rio Preto, a Polícia Civil abriu mais de 100 inquéritos para investigar a atuação de Júlia. O MP daquela cidade já foi à Justiça contra outros advogados, pelo mesmo tipo de conduta, com acusações que incluem formação de quadrilha, fraude processual, estelionato e apropriação indébita.
Além das mais de 50 ações que tramitam em Rio Preto, a advogada responde a outras 03 ações em Santa Fé do Sul, por estelionato, patrocínio infiel e crime contra a administração da Justiça. Ela é investigada também em Auriflama. Em Jales, Júlia responde a pelo menos 01 processo por estelionato (uso de documento particular falsificado). O processo, iniciado em dezembro de 2016, tramita na 1ª Vara Judicial de Jales, cujo juiz titular, Eduardo Henrique de Moraes Nogueira, aceitou, na segunda-feira passada, 17, a denúncia oferecida pelo Ministério Público.
De acordo com a denúncia do MP local, Júlia procedeu, em 2015, a uma pesquisa junto ao Serviço de Proteção ao Crédito, em nome de uma cliente, constatando que ela tinha sete negativações em seu nome. A advogada alterou, então, o documento original, suprimindo 04 negativações para, em seguida, ingressar com uma ação de indenização por negativação indevida contra a Telefônica. Na ação, ela argumentou, com base no documento falsificado, que a cliente não tinha nenhuma negativação anterior.