A CNBB, por sua Presidência, diante da gravidade da crise que abala o país, está convocando um Dia de Jejum e de Oração pelo Brasil.
Dado o contexto da Semana da Pátria, e a tradição já consolidada de promover por ocasião da Dia da Independência o Grito dos Excluídos, a CNBB sugere que esta iniciativa seja concretizada no dia 07 de setembro.
Em sua mensagem de convocação deste “Dia de Jejum e de Oração”, a CNBB deixa bem claros os objetivos:
“Vivemos um momento difícil e de apreensão no Brasil. A realidade econômica, política, ética vem acompanhada de violência e desesperança”.
Na formulação das preces sugeridas pela CNBB, aparecem com ênfase as denúncias apontando as causas da situação vivida hoje no Brasil:
“Vivemos um momento triste, marcado por injustiças e violência…Estamos indignados, diante de tanta corrupção e violência que espalham morte e insegurança: injustiça e desigualdade, ambição de poder e ganância, exploração e desprezo pela vida humana”.
Uma oração, portanto, não alienante e inconsistente, como alguns pensam que deva ser uma prece motivada pela realidade concreta vivida pelo povo.
Rezar pelas autoridades estabelecidas, é uma recomendação fundada na Bíblia. É conhecida a recomendação que São Paulo faz em sua primeira carta a Timóteo, dizendo: “Recomendo que se façam preces, orações, súplicas e ação de graças por todos, pelos reis e por todas as autoridades… Isto é bom e agradável a Deus. Ele deseja que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade! (1Tm 2, 1ss) ”
Desta maneira, estamos bem advertidos quanto ao significado de uma iniciativa como esta. É uma oração comprometida que a Igreja nos pede neste momento de grave crise por que passa o país. Pois na verdade, alguns pensam que a atitude da Igreja seria de fechar os olhos diante da realidade, e se refugiar num intimismo descomprometido e alienado. Alguns até acham que cabe à Igreja iludir o povo com falsas motivações, enquanto eles se sentiriam mais tranquilos em prosseguir ilesos em suas trapaças urdidas pela corrupção que vai tomando formas cada vez mais sofisticadas de se perpetrar.
Uma oração, portanto, que vem estimular a participação política da cidadania, tanto mais necessária, quanto maior for o perigo.
Neste sentido, é evidente o alcance político deste “dia de jejum e de oração!
Vale a pena destacar a tentação que emerge da gravidade desta crise: alguns já perderam a esperança de uma autêntica reforma que deveria acontecer. Temos um desafio bem concreto a enfrentar: motivar de novo para a participação da cidadania, mesmo diante da avalanche de motivos que todos teríamos, para desistir da política. Temos um duplo motivo para voltarmos à participação política: a gravidade da situação, e a urgência de superar o desânimo. Num momento como este seria um grave equívoco desprezar os mecanismos de participação cidadã, por mais que tenham sido usados pela corrupção. Pode ser triste, e pesado, constatar que não existem atalhos para superar a crise. Ela só será vencida por um esforço consciente e articulado dos cidadãos, mesmo reconhecendo que precisamos resgatar o uso adequado dos instrumentos de participação cidadã.
Talvez aí resida o valor maior desta iniciativa da CNBB. A fé esclarecida nos adverte que Deus faz a sua parte, mas deixa para nós fazermos o que nos compete. Rezar pela Pátria, significa, sim, invocar a bênção de Deus. Mas significa, também, retomar nossa ação política, mesmo que seja necessário resgatar os instrumentos de participação previstos na constituição.
Rezar pelo Brasil é comprometer-nos a reassumir nossas responsabilidades de cidadãos.