“Temer, um fantoche nas mãos dos donos do poder, só continua na chefia do governo, como um zumbi, porque a coalizão que o sustenta, formada por idiotas e não por políticos, não tem consenso acerca de um nome para apresentar à sociedade”.
Robson Sávio Reis Souza
É preciso falar sobre política nesses tempos de individualismo exacerbado, pós-verdade, paralisia decisória frente aos grandes problemas políticos nacionais.
Voltemos à Grécia antiga. Há 2500 anos, os gregos “inventaram” a democracia. Em Atenas, por exemplo, a vida pública interessava a todos os cidadãos e os politikos eram aqueles que se dedicavam ao governo da polis (a cidade), colocando o bem comum acima de seus interesses individuais.
Os gregos entendiam que o idiota era a pessoa que não estava integrada na polis; aquele que não se interessava ou não participava dos assuntos públicos (de grande importância naquela época) e só se ocupava de si próprio. Desta concepção vem à raiz da palavra idiota, o termo “idio”, que significa próprio.
Ou seja, o idiota é aquele que só vive a sua vidinha privada, que só pensa no seu umbigo, nos seus interesses; que recusa a política; que diz não à política. Sua expressão generalizada é: “não me meto em política”. Ou, nos termos das últimas campanhas eleitorais no Brasil, “chega de política”.
Ao contrário do idiota, o “político” era o cidadão que se envolvia com os assuntos públicos, ou seja, possuía os atributos para construir para si um estatuto de cidadania (participação na vida pública). Este estatuto exigia de cada polites um envolvimento direto na condução coletiva dos assuntos da cidade. O político era aquele cujos interesses estavam expressos em ações com vistas à coletividade, igualdade, participação e democracia.
Para os antigos gregos, portanto, não havia liberdade fora da política. Ou seja, o idiota – que é um ensimesmado e não se preocupa com o bem comum, colocando-se como o centro do universo -, não é livre porque só é livre aquele que se envolve na vida pública, na vida coletiva.
Esse modo de envolvimento coletivo nos assuntos públicos transformou Atenas numa cidade próspera. Seu porto era cosmopolita, possibilitando o encontro e o embate com outros povos, assim como a discussão de problemas relativos à cidade. Isso possibilitava mais autonomia ao cidadão, que era livre para discutir, decidir, se posicionar. Tratava-se de uma cidadania ativa e participativa, à medida que o cidadão era ativo dos assuntos e das decisões coletivas, a beneficiar toda a comunidade política.
Voltemos ao Brasil. Nesse momento político no qual o individualismo nos lança na indiferença, na violência contra o outro ou na desresponsabilização em relação ao exercício da cidadania é preciso lembrar dos antigos gregos.
O que está acontecendo por aqui tem a ver com nossas ações e omissões enquanto cidadãos; enquanto políticos.
Não podemos nos amesquinhar frente a esse totalitarismo da indiferença (Josep Romaneda). Não podemos nos afastar da noção de bem comum e do princípio da res publica (coisa pública; de responsabilidade de todos).
A criminalização da política pela mídia (sempre interessada em afastar os cidadãos da vida pública) está a fabricar cada vez mais idiotas, que são aqueles que se afastam da política e se gabam dessa postura infantil e descomprometida com os rumos da vida pública. São também conhecidos como “midiotas”.
Vejamos o que ocorre nesses dias: a indecisão das elites na escolha do substituto de Temer, por exemplo, comprova cabalmente que não há políticos ocupando os cargos de poder. O que temos no governo e no Congresso são “profissionais da política”, serviçais do dinheiro, e idiotas, que só se preocupam com os interesses próprios e não cuidam do bem-comum.
Os golpistas não encontram dentre seus quadros nenhum político de fato, ou seja, nenhuma pessoa comprometida com o bem-comum, empenhada de fato com os interesses públicos, para ser apresentada à sociedade nesse momento de crise institucional, a gerar legitimidade para um futuro governo.
Aliás, os golpistas só se preocupam com os interesses privados. Afinal, o foco atual do poder (mundial, diga-se de passagem) não está na política, mas na economia e quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial internacional. Neste sentido, os donos do poder não são os políticos.
Temer, um fantoche nas mãos dos donos do poder, só continua na chefia do governo, como um zumbi, porque a coalizão que o sustenta, formada por idiotas e não por políticos, não tem consenso acerca de um nome para apresentar à sociedade.
Por outro lado, há omissão, medo, covardia e divisão dos setores progressistas comprometidos com a cidadania em torno de um nome e de um programa (de governo) que possam ser apresentados à sociedade como contraponto ao grupo que usurpa o poder. Isso também é sinal de idiotice!
Abundam idiotas. Há poucos políticos.
Para superarmos a crise política que vivemos precisamos de mais políticos e menos idiotas, tanto no exercício do poder, quanto nas várias instâncias de mobilização, articulação a ação política da nossa sociedade.