Jales Centro de Região e Capital Espiritual de Alta Araraquarense. Ouvi muito, quando era moleque, essas citações nos microfones da ZYR 237 Rádio Cultura de Jales. Tempos…
Faltando uma semana para realização das eleições municipais de 2016, vamos voltar no tempo e fazer uma narrativa (depois de muitas pesquisas – Blog do Poletto- Série, A Jales que Eu Vivi e outros blogs na rede) da eleição de 1961, que ocorreu exatamente 20 anos após a fundação de Jales e apenas 12 anos após nossa emancipação política e administrativa.
A juventude de 2016, filhos e netos dos homens públicos daquela memorável eleição, mesmo recebendo informações de seus pais e avós a respeito de tão importante eleição, tem dificuldade para medir a grandeza do “palanque” nela contido. Uma eleição que começou em 1957, quando Euplhy Jalles venceu as eleições para prefeito, tendo Honório Amadeu como vice, derrotando a chapa majoritária que tinha como vereador eleito, entre outros notáveis, o jovem advogado Roberto Valle Rollemberg, com apenas 28 anos, dotado de extraordinária oratória, magnetismo pessoal, carisma de estadista, envolvimento social e instinto de animal político. E no exercício do mandato legislativo, Rollemberg elege o prefeito Euplhy Jalles como alvo a ser abatido. Com pequena bancada em sua defesa na Câmara Municipal, centro principal do fermento político que fazia crescer o bolo da opinião pública, Euplhy não consegue mais aprovar projetos, perdendo sustentação até entre seus correligionários mais fiéis, caso de seu tio Aristophano Brasileiro de Souza, popular Duquinha, co-fundador de Jales, e para quem Euplhy pedia a benção, publicamente. Sem o apoio de Duquinha, a força política de Euplhy começa entrar em declínio, resultado da perplexidade que tomou conta da população jalesense, que indagava, nas esquinas, o porquê de Duquinha, irmão de D.Ignez, mãe de Euplhy, ter se afastado de seu sobrinho, vestindo a camisa do já consagrado adversário número um do fundador da cidade, batizado pelo povo de Rollemberg. Um difícil nome teutônico (Rollemberg) passa a ter a popularidade e familiaridade na pronúncia de um Silva, Santos, Pereira, Oliveira, Ferreira, etc. Outra baixa considerável no exército político de Euplhy foi seu vice-prefeito, Honório Amadeu, resultado de divergências pessoais na questão do traçado da Rodovia Euclides da Cunha, que Euplhy desejava, assim como já fizera na questão dos trilhos da EFA, que o trajeto fosse mais distante da cidade, visando não prejudicar o crescimento da área urbana. A visão de estadista de Euplhy previa, na década de 40, que a passagem da estrada de ferro próxima ao centro da cidade, iria causar transtornos incalculáveis, o que vem sendo confirmado cada vez mais, chegando a 2016 em conversas e debates nos canais competentes do município. Experimentado na arte de ver trilhos cortando o centro das cidades, Breno do cinema, um dos maiores intelectuais que passaram por Jales, dizia que os “os trilhos cortam a vida e a alma das pessoas, gerando duas cidades na mesma comunidade”. Euplhy foi derrotado pela E.F.A. e não conseguiu afastar os trilhos da proximidade do centro, assim como fizeram as vitoriosas Fernandópolis e Votuporanga, onde as estações da E.F.A. ficam, até hoje, afastadas do centro de tal maneira que o progresso nunca sofreu interrupção por causa dos trilhos. E na questão do traçado da Euclides da Cunha a história se repetiu e a rodovia foi construída raspando a cidade, com todos os problemas decorrentes de tal proximidade, hoje já cantados em prosa e verso. Outra perda considerável de Euplhy foi o vereador João do Carmo Lisboa, chefe inconteste do PSP em Jales. E na época, com o populismo correndo solto no Brasil, o Partido Social Progressista, fundado por Adhemar de Barros, político notoriamente populista e interventor no período da ditadura Getulista e depois governador eleito (1949/1953), tem um poderoso exercito de correligionários espalhados por todo Estado de São Paulo. Receber, em qualquer município paulista, o apoio do PSP, era metade da eleição ganha. Ao perder o apoio do PSP em Jales, partido que o havia apoiado, freneticamente, nas eleições de 1957, Euplhy, que já vinha cambaleando com o afastamento de seu tio Duquinha, de seu vice-prefeito Honório Amadeu e agora o peso pesado do PSP, vereador João do Carmo, acusa essas grandes perdas, atirando para todos os lados, mas sempre priorizando o ataque a Rollemberg, vereador de grande brilho na tribuna e já alçado a condição de comandante-em-chefe da oposição jalesense. Enquanto o Brasil assistia à fundação de Brasília, em 1960, com tudo dando certo para JK, Jales via nascer, lentamente, o Movimento de Renovação Administrativa, com tudo dando errado para Euplhy Jalles.
Criado por Rollemberg, o Movimento de Renovação Administrativa consistia num projeto de governo revolucionário para os padrões da época, propondo, em primeiro lugar, a modernidade na burocracia da Prefeitura Municipal de Jales, ainda atrelada aos tempos do “guarda-livros”, figura muito conhecida na primeira metade do século XX. O contribuinte jalesense já começava reclamar, muito, da lentidão de processos e documentos da prefeitura. A mecanização havia se esquecido de chegar a Jales, conforme relatavam os funcionários da prefeitura, obrigados a várias peripécias, tendo de recorrer a livros disto e daquilo, contrariando tudo aquilo que hoje se entende por gestão de empresas, instituições e negócios públicos.
No Movimento de Renovação Administrativa de Rollemberg, houve o cuidado de respeitar o funcionário público, sinalizando com vários indicadores de valorização, buscando envolver o funcionário nos novos tempos que surgiam na linha do horizonte. Militante no campo da esquerda na política estudantil, destacando-se na Campanha do “Petróleo é nosso”, nos tempos do Largo São Francisco, Rollemberg tinha a seiva nacionalista na ordem do dia e a busca de justiça social na primeira linha de seu pensamento, de origem socialista.
A formação humanista e socialista de Rollemberg injetou no Movimento de Renovação Administrativa idéias de desenvolvimento econômico e social que contemplasse a inclusão social no município de Jales. No campo exclusivamente político, o Movimento de Renovação administrativa negava, em tempo integral, a direção tomada pelo fundador da cidade na condução da vida política. Tudo que lembrasse Euplhy Jalles era demonizado, evitando qualquer hipótese de se elogiar uma só conduta do prefeito no exercício de seu mandato conferido pelas urnas de 1957. O movimento era totalmente radicalizado no discurso político. Colocava-se tão forte em suas formulações que chegava adquirir algumas cores messiânicas em seu conteúdo. Foi dando certo, o povo começou falar de um plano, coisa que nunca havia acontecido nas três eleições anteriores. E falava, nas esquinas, da burocracia da Prefeitura, de Euplhy não parar na cidade, vivendo em Rio Preto, do homem que mais tem é o que menos fez pela cidade, de uma prefeitura “amadora” que precisa ser profissionalizada, enfim, uma série de assuntos relevantes entrou na agenda da cidade, ocupando as ruas, entrando nos lares, fazendo Jales respirar renovação, mudanças e outras expectativas positivas.
A ELEIÇÃO DE 1961 FOI UMA FESTA
Na eleição de 1961, narrava meu saudoso pai, aconteceram coisas que ele ainda nunca tinha visto. Comícios simultâneos, em vários bairros da cidade, com os oradores convidando a população para um segundo comício. Uma lembrança de estratégia militar, onde se atira em várias direções, animando a tropa para chegar ao objetivo final.
Outra novidade foi à convenção do PSP no Cine Jales, para deliberar o posicionamento no partido, colocando aos convencionais as alternativas de lançar candidato próprio, não apoiar outra candidatura ou apoiar a candidatura de Roberto Rollemberg, desde que o candidato a vice-prefeito seja do PSP. Vicente de Paula Prado Gonçalves, coordenador da convenção, passa a palavra aos convencionais, para se manifestarem publicamente, antes da votação. Alonir José Ribeiro, sogro de Celso Soares, irmão de Célio Soares, pede a palavra, imediatamente concedida. Vai ao microfone e conclama todos convencionais, por aclamação, sem perder mais tempo com o voto a voto, sempre demorado, a levantarem a mão quem apóia a candidatura do correligionário João do Carmo Lisboa para vice de Roberto Rollemberg, para a vitória de Jales!
A platéia inteira, Cine Jales lotado, levanta a mão, encerrando, por unanimidade, a votação para escolha de João do Carmo Lisboa para vice de Rollemberg, que imediatamente entra no recinto, aplaudido de pé por todos convencionais. Naquela convenção, meu pai (um dos convencionais) me disse que a vitória de Rollemberg foi definida naquela convenção, porque uniu a juventude brilhante e renovadora de Rollemberg com o partido de maior representatividade no município, com mais de dois mil filiados, quando Jales tinha pouco mais de cinco mil eleitores.
Chega o tão esperado dia da eleição e Rollemberg vence Jorge Gasbarro, apoiado por Euplhy, com larga margem de votos. E o Movimento de Renovação Administrativa conquista o poder, afasta Euplhy do centro das decisões políticas, introduzindo várias medidas modernizantes que ajudaram o desenvolvimento sócio-cultural e esportivo da cidade. Mas não se sustenta a unidade dos grupos políticos que venceram as eleições em 1961, havendo várias dissidências no transcorrer do mandato de Rollemberg. Mas ele consegue, mesmo com a oposição dividida, eleger seu sucessor em 1965, Honório Amadeu, que nessa sua administração (1965 a 1969 é considerado, até hoje, o melhor prefeito da história de Jales). É isso.
PS. Fecha-se o cerco e o golpe de estado se consolida. Nem acredito que Lula vá para a prisão. Basta uma pena leve, que ele possa cumprir em casa (primário, bons antecedentes, mais de setenta anos…). o importante é torná-lo ficha suja e inabilitá-lo a disputar as eleições de 2018 – se eleições houver em 2018. Mas os golpistas não são tontos: eles sabem que, seja inabilitado, seja numa cela de Curitiba, se Lula não puder ser candidato às eleições presidenciais, ele elege, como diz Fernando Morais, até o Tietié Gambá. (personagem folclórica de Mariana-MG.)