Terça-feira, Novembro 26, 2024

O golpe e a guerreira

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Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles. (Dilma Vana Rousseff)

Não há como negar o papel decisivo do ex-presidente da Câmara no Golpe de Estado. Três vezes réu no Supremo Tribunal Federal e recordista de inquéritos na Lava Jato, Eduardo Cunha assegurou a sua própria sobrevivência política negociando a cabeça de Dilma. Com o poder de acolher ou rejeitar pedidos de impeachment protocolados na Casa Legislativa, cozinhou em banho-maria por meses tanto o governo petista quanto a oposição. O peemedebista só acolheu a denúncia dos advogados Miguel Reale Jr., Hélio Gardenal Bicudo e a Sociopata Janaína Pascoal após a bancada do PT anunciar que votaria a favor da cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara. Um vício de origem sempre evocado pela defesa da presidenta “Golpeada” e solenemente ignorado pela maioria parlamentar.

“Os castigos que esperam os golpistas de hoje são outros, e as razões para arrependimento também. O que os espera não é apenas a responsabilização diante da História por um crime contra a democracia, não é só o desprezo das gerações futuras por mais uma violação da vontade popular”. “O que ganhará o PSDB, que participou da construção democrática, ajudando a depor Dilma para entregar o governo a Temer? Já na interinidade andaram se estranhando”. O governo será entregue aos apetites fisiológicos do PMDB e o Brasil ao caos social

Mais do que simplesmente arruinarem a própria biografia, apoiando um golpe bananeiro em pleno século 21, os senadores que votaram pelo “Golpe” também estarão se associando a um fracasso completo; o governo de Michel Temer já provou ser um fiasco na economia, onde a inflação não cede, o desemprego aumenta, o rombo fiscal dispara e as reformas prometidas foram adiadas a perder de vista; além disso, do ponto de vista criminal, não será possível “estancar essa sangria”, uma vez que o próprio Temer está sendo delatado na Lava Jato, segundo Ela Wiecko, que era a número 2 da procuradoria-geral da República; vale a pena matar a democracia por Temer?

Dilma…                      

 A vida da nossa presidenta Dilma Rousseff sempre foi feita de desafios. Não é preciso esquadrinhá-la desde sua precoce juventude política, para saber. Membro da geração que teve a felicidade de viver a juventude na década de 60, como seus melhores membros, integrou-se à resistência à ditadura militar, com tudo o que aquilo implicava para a sua geração. Quase se pode dizer que conforme a maneira pela qual cada um enfrentou aqueles desafios marcou definitivamente seu caráter e até mesmo o sentido da sua vida.

 Dilma foi daquelas pessoas que enfrentou com a maior altivez os piores momentos da vida de uma pessoa – ser submetida à tortura – pelos sofrimentos físicos incomparáveis que isso significa e pelos covardes dilemas morais que pretende impor: continuação do sofrimento ou entrega de dados que permitam prender e submeter aos mesmos sofrimentos a outros companheiros, comprometendo também o trabalho de resistência à ditadura.

O vídeo do depoimento de Dilma no Congresso, onde foi interpelada sobre por que tinha mentido durante a ditadura militar é um dos momentos mais bonitos da história política brasileira, daqueles que revela de corpo inteiro, o que é uma pessoa. Sua dignidade, sua altivez, sua sinceridade, sua lição de política e de ética, demonstraram a superioridade moral de que lutou e luta a vida inteira por uma sociedade justa. Colocou no seu devido lugar quem esteve do lado da resistência à ditadura e que convocou o golpe militar, o apoiou, deu cobertura a seus atos de terror e lucrou economicamente com ela.

 Quem superou com toda dignidade tudo aquilo, ganha força para seguir adiante, como Dilma seguiu. Como ela reitera sempre, se orgulha de ter participado da resistência, não tem do que se arrepender e se orgulha também de nunca ter mudado lado.

Secretária de governo do PT no Rio Grande de Sul conquistou o respeito de todos pela capacidade, pela entrega, pela seriedade com que enfrentou e resolveu os problemas, reativando sua trajetória de transparência, de competência e de espírito publico que a caracterizam.

Participante, desde o primeiro momento, do governo Lula, soube consolidar esse respeito, a ponto de, em um momento difícil, ganhar a confiança do Lula e assumir o cargo mais estratégico do governo, sendo a principal responsável pela grande virada que permite o imenso apoio conquistado pelas políticas governamentais.

Foi nessa condição que foi escolhida por Lula, com apoio generalizado do PT, para ser a candidata à sucessão presidencial. A doença que a acometeu não foi obstáculo para seguir na sua trajetória vitoriosa. Foi mais um desafio entre tantos, mas o rosto iluminado e a transparência com que anunciou o fim do tratamento e a cura revelam como são os desafios em uma vida que é marcada pelos desafios.

Dilma foi uma presidente que conduziu o Brasil de uma forma séria, ética e acima de tudo com pulso firme fazendo com que seu governo rompesse definitivamente com as mazelas que sobrevivem no país. Nossa presidenta retomou o tema do desenvolvimento, intrinsecamente vinculado às políticas sociais. Que fez o Brasil resistir bravamente à crise internacional e se preparar para sair dela mais forte e mais justo. Dilma foi a grande condutora desse desafio, mais um, que será superado vitoriosamente, como todos os outros.

Dilma Vana Rousseff sempre será uma Luz para Todos.

PS. A constituição brasileira foi triturada por esses cidadãos que votaram sim ao Golpe de Estado na República das Bananas. O saudoso Ulysses Guimarães, se vivo fosse, se envergonharia de tudo isso, principalmente do atual PMDB.

PS-I A fogueira para Dilma começou a ser montada quando ela ousou, no primeiro mandato, fazer uma faxina demitindo de seu ministério políticos acusados de corrupção. Muitas consequências vieram na disputa acirrada pela reeleição, que também deixou sequelas. A base parlamentar começou a desidratar-se, mas ela se reelegeu e o segundo mandato deixou a Lava Jato avançar, garantindo autonomia às investigações que alcançaram a nomenclatura política. E o que dizer de sua repulsa às concessões fisiológicas aos partidos, em nome da governabilidade? Como pano de fundo, o sistema político-eleitoral brasileiro, que garante a eleição direta de presidentes, mas não lhes proporciona a formação de maioria parlamentar, impondo a necessidade das coalizões pragmáticas, sem base ideológica ou programática. Quando vieram as estranhas manifestações de 2013, e a popularidade de Dilma sangrou pela primeira vez, os tubarões se prepararam para o ataque. Sabotando medidas, o Congresso agravou a crise econômica para tornar a paisagem mais favorável ao golpe. A mídia e a Lava Jato fizeram impecavelmente sua parte.

 

 

 

 

 

 

 

 

(*)Marco Antonio Poletto é gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural.

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