“Uma das grandes ilhas de cultura deste país, Millôr Fernandes, cita uma segunda invenção, depois da duplicata mercantil, à espera de reconhecimento universal, que é o vereador pago. O vereador pago é como a jabuticaba, uma fruta genuinamente nacional”.
Quando vejo no Jornal o nome e foto dos candidatos a vereador da Vila Jales, (é obvio que temos gente honesta e honrada entre os nomes citados no jornal) fico perplexo e não consigo acreditar no que leio. Aí a memória busca os primeiros anos de Jales, como se estivesse procurando compensação para tão deprimente estado de holocausto que atingiu a nossa política.
Pensar que Jales teve políticos como Euphly Jalles, Edson Freitas, Roberto Rollemberg, Osvaldo Carvalho, Pedro Nogueira, Honório Amadeu (na minha opinião, o melhor prefeito da história de Jales) entre outros, e ver agora essa hecatombe quase geral, é de amargar.
Quem pesquisou a historia da Câmara Municipal de Jales, sabe que assistir uma seção camararia na década de 50/60/70 era o maior espetáculo da Terra. Ninguém estava ali por salários, ou enviados por igrejas evangélicas, católicas, empreiteiros, grupos organizados ou corporações. Os vereadores se elegiam pelo critério de seletividade, entre pessoas mais qualificadas na cidade.
Vamos voltar no tempo para você, querido leitor, ter uma ideia do nível da Câmara Municipal de Jales no passado. Vejamos alguns exemplos de vereadores: João do Carmo Lisboa, ex-prefeito de General Salgado; Dr. Arnaldo Silveira, médico emérito de Jales; Roberto Rollemberg, advogado em Jales; Eduardo Ferraz Ribeiro do Valle, médico e animador cultural; Vicente de Paula Prado Gonçalves, advogado, contabilista e grande orador; Ailton de Carvalho, criador do departamento de Assistência Fiscal e um dos maiores tribunos (segundo meu saudoso pai Orlando Poletto) da historia de Jales, Leopoldo Gonçalves (o popular biriba), cartorário e depois prefeito por duas vezes de Aparecida D’Oeste; Elvo Pigari, eleito pelo distrito de Urânia, do qual foi prefeito posteriormente.
Na referida eleição, alguns vereadores eleitos por distritos tornaram-se, posteriormente grandes lideranças em suas comunidades.
O grande drama de Jales, segundo venho observando nos últimos tempos, é a omissão de pessoas amplamente qualificadas no processo eleitoral. Numa cidade com uma significativa classe médica, temos quantos médicos no legislativo?
Está certo que o curso de medicina está caro, mas viver só pensando em ganhar dinheiro (exceções à parte). É dar as costas à comunidade é o que se pode chamar de falta de amor à cidade.
Temos bons e excelentes advogados em Jales. Porque não entrar na vida pública, por amor a Jales? E assim acontece com Dentistas, Professores, Empresários e outros segmentos expressivos da comunidade.
É a velha teoria da sociologia política: “na vida pública não existe vácuo”. Espaço não ocupado pelo bem é ocupado por outra coisa.
A política de perna de pau, no legislativo, acontece porque os craques se recusam a entrar em campo. Onde estão os Professores Universitários de Jales, muitos com mestrado e doutorado e que não se candidatam?
Enquanto as pessoas mais preparadas continuarem se omitindo do processo político, continuaremos no escuro geral elegendo pessoas despreparadas para esse cargo.
Pensar que já tivemos líderes que viraram Governador de Mato Grosso, Secretário de Estado do Governo de São Paulo ou Deputado Federal e Estadual. E hoje…
Vamos juntos nessa resgatar o tempo perdido. Vote no candidato a vereador competente, inclusive conheço alguns que até merecem a reeleição, pois sei que vão continuar trabalhando por Jales. É isso.
PS. Daqui a poucos dias, os brasileiros irão assistir, seguramente estarrecidos, a um dos episódios mais injustos da história do país. Alvo de um julgamento discriminatório e sem fundamento, a presidenta da República poderá ser destituída do seu cargo, sem motivo e sem justificativa. Uma presidenta que não cometeu crime algum, que foi eleita pelo voto de mais de 54 milhões de eleitores, que deu continuidade a conquistas e avanços significativos no campo social e no campo trabalhista. Dilma Rousseff (PT) pode vir a protagonizar um fato histórico, que, se confirmado, manchará as páginas da nossa jovem democracia e a biografia dos seus algozes, muitos dos quais réus em processos que correm na justiça.
(*)Marco Antonio Poletto é gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural.