A volta do futebol profissional em Jales, depois de 13 anos sem nenhum time disputando campeonatos oficiais, vai ser acompanhada de perto por um torcedor especial. Ex-jogador do Clube Atlético Jalesense (CAJ), o servidor público municipal aposentado Ernesto Moraes Tostes, o Carioca, certamente estará nas arquibancadas do estádio “Roberto Valle Rollemberg” quando o novo time do Jalesense Atlético Clube entrar em campo para as disputas do campeonato da Liga Paulista de Futebol.
O amor de Carioca – um flamenguista fanático – pelo futebol é antigo. Na parede da sala de sua casa, no Jardim Bom Jesus, um quadro expõe uma raridade que já tem 54 anos: a camisa 7 usada por Carioca no campeonato paulista de 1962, quando o CAJ sagrou-se campeão daquela que corresponde, hoje, à terceira divisão. Ele conta como ficou com a camisa: “Quando nós fomos campeões, o José Gatti, que era o dirigente do time, chegou no vestiário e falou que podíamos ficar com as camisas, como recordação”.
Ele chegou em Jales em dezembro de 1961, com 21 anos de idade, trazido do Rio de Janeiro para jogar no CAJ. “Meu tio, o doutor José Ranulpho, que faleceu recentemente, foi quem me trouxe para Jales”. No jogo de estreia, já em 1962, o novo craque do CAJ fez logo dois gols contra o maior adversário do Jalesense. “O time já tinha jogado e perdido para o Fernandópolis aqui no nosso campo. No jogo da volta, lá em Fernandópolis, eu fiz a minha estreia e nós ganhamos de 4 a zero, com dois gols meus”.
Velhos recortes de jornais, cuidadosamente guardados pela esposa Laís, falam sobre as atuações de Carioca. Num deles, o jornal A Comarca nos Esportes, dirigido pelo saudoso professor José Camargo, noticia uma vitória sobre a Votuporanguense e comenta que “Carioca é dono de um fôlego invejável. Disputa todas as bolas que estejam por perto, jamais se entregando”. O ex-jogador conta que, anos depois, em 1967/68, integrou um dos melhores times que o CAJ já teve. “O nosso time tinha o Eca de técnico e jogadores como Percival, Netão, Tota, Kermes, Tatu, Helinho, Vagnão, Perigo… Eu era reserva”.
Carioca diz que um dos seus melhores amigos, no futebol, foi o zagueiro Perigo. “Um dia, num treino, ele me deu uma pancada que me deixou fora de jogo por um mês. Quando voltei aos treinos, tivemos um desentendimento, mas, depois disso, ele se tornou um grande amigo. Nossa amizade durou muito tempo. Uma semana antes de morrer, o Perigo veio aqui em casa me trazer uma lembrança que ele trouxe de Barretos. Na hora de ir embora, ele me deu um abraço bem forte. Parece que estava se despedindo…”.
O ex-craque do CAJ disse que a ideia de colocar a camisa em um quadro foi do neto. “Minha mulher sempre guardou essa camisa com muito cuidado, aí o meu neto, que já tinha ouvido muitas histórias dos meus tempos de jogador, teve a iniciativa de coloca-la no quadro. Ela fala que essa camisa é uma relíquia e que merecia estar num quadro. Realmente, para mim é uma relíquia”, concluiu Carioca.