O Domingo, 17 de abril, segundo Walter Santos, Publisher da revista Nordeste, ficará para História pelo novo teste institucional que a jovem Democracia brasileira vive, ameaçada por uma grande articulação politica nacional envolvendo interesses internacionais em torno do Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff à lá mesma estratégia adotada no Paraguai e em Honduras nos últimos tempos. O Mundo Inteiro acompanha perplexo o “surrealismo” do Impeachment brasileiro porque o remete de fato à tese de República de Bananas, como carimbou o ex-presidente francês Charles de Gaulle, mesmo com seu desmentido. A frase não é minha, mas do jornalista Fernando Molica. “Quem fala em família, em Deus e em seu estado vota sim (ao golpe)”. E a resposta da leitora, repugnada: “senti-me órfã, pagã e exilada”.
De fato, nem Deus, nem família alguma, nem lugar algum merece este circo esclarece Fernando Brito, do site Tijolaço. O espetáculo que se assiste é deplorável, não apenas pelo fato de estar sendo golpeada a democracia, mas porque isso se dá com requintes de fanatismo, grosseiramente demagógico. Vão dos corretores de Goiás à Paz de Jerusalém. A Câmara é uma vala, de onde pouca esperança pode haver de que brote algo que não feda. O nojo é tanto que me abstenho de mais comentários, porque se consagra não só a maioria, mas a hegemonia de poder de Eduardo Cunha. Não sei se, como parece, a noite será dele, como dele provavelmente será o Governo Temer. Mas não será deles a manhã, não será deles o Brasil.
Nada, nenhum argumento político ou jurídico será mais desmoralizante, aqui ou lá fora, para o golpe no Brasil que o comprometimento e o comportamento de seus agentes executores. Um bando de escolares em excursão não produziria sequer a metade do que aqueles senhores, bem cevados de verbas públicas, expuseram para a vergonha do nosso país. Conseguiram, em algumas horas, revelar mais da natureza do atraso, da mediocridade, do indecoroso deste episódio que horas e horas de qualquer discurso que os denunciasse. Os jornais do mundo inteiro estão às risadas com as cenas que se passaram na Câmara. Deus, a esposa, os filhinhos, os netinhos, o papai, a mamãe… As razões dos votos para derrubar um governante eleito por 54 milhões de votos. Você consegue imaginar aquelas cenas num parlamento da França, dos EUA, da Espanha, até, aqui, da Argentina ou do Paraguai?
Porque se democracia, continua Fernando Brito, for o espetáculo de bordel que nos apresentaram os deputados, para que lutar por ela? Infelizmente, se é o mais explícito e caricato, não é o único. A Justiça se transformou em polícia e o Supremo, com todo o formalismo pedante de seus ministros, apadrinhou a pantomima grosseira, porque deixou que se desenvolvesse e porque deixou a dirigi-la um ladravaz com as provas e o cinismo mais que evidentes. É melhor que suas Excelências aceitem que as chamemos de covardes, porque se não foi covardia, o que se dirá é bem pior.
Falta pouco para completar a trinca de instituições nacionais destruídas, o que se completará com a subida de uma figura sem qualquer opinião e com sobeja ambição, cuja carência de legitimidade o tornará refém ou cúmplice dos apetites de assalto ao poder que vimos na chanchada da noite de domingo.
Ao regime que teremos, em alguns dias, quando a papelada golpista fizer seus trâmites burocráticos, só resta à alternativa de derrubá-lo pela força das ruas. E, creia, em poucos dias eles estarão de não poder sair às ruas, porque não têm como explicar a bacanal provinciana que estrelaram sob o patrocínio de senhores e senhoras muito bem postados na mídia, que chegaram a ficar ser graça quando viram os modos da matilha que açularam e que mandaram, com seus dentes e garras, sobre o governo eleito.
A Nação os viu. O Mundo os viu. Nenhuma palavra que se tenha dito sobre eles parece, agora, exagerada.
Com aquela gente no comando da República, já não se pode falar mesmo em democracia.
Talvez em suinocracia, quando os porcos assumem o Governo do País.
PS- O voto de Chico Lopes (PC do B-CE)-
Fica registrada a ousadia do deputado que ironizou os votos dos golpistas “em defesa das famílias” ao afirmar: “Calma gente! Eu estou emocionado. Eu pensei que vinha para uma reunião política, mas vim para o encontro de bons maridos e bons pais”, declarou, antes de proferir seu voto contra o golpe.
(*)Marco Antonio Poletto é gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural.