Essa tentativa de impeachment pode ser considerada um golpe?
Esse impeachment decantado pela mídia “privatizada”, oposição e grandes grupos econômicos nada mais é que uma tentativa de golpe na democracia e pode ser uma pá de cal na população, em relação à avaliação do nosso sistema político.
Não há nenhum fato concreto para esse impedimento. Essas chamadas pedaladas fiscais já foram feitas antes no governo FHC e no governo Lula. Agora estão incriminam a presidente Dilma. O professor de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, o ex-desembargador Francisco de Queiroz Bezerra Cavalcanti defendeu, nesta terça (22/03), que se a presidenta Dilma Rousseff sofrer um impeachment sob o argumento das chamadas “pedaladas” fiscais, ao menos 16 governadores também deveriam ser afastados pelo mesmo problema. De acordo com o professor, os atrasos nos repasses do Tesouro a bancos públicos, prática popularizada como “pedalada”, não são motivo suficiente para afastar um presidente.
Um detalhe importante, que você deve estar observando é o blá, blá, blá, se vai ter impeachment não vai ter impeachment? Ninguém fala do conteúdo do que está acontecendo: Dilma não será processada por ter roubado, desviado, mentido, acobertado ou ameaçado. Será processada porque tomou decisões para manter em dia pagamentos de compromissos sociais como Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
O senador hexadelatado Aécio Neves, ainda, inconformado com a derrota, disse outro dia que eventualmente o PSDB está preparado para assumir agora, fora do período de mandato, o governo. A questão é: como ele poderia assumir?
Na realidade o que nós estamos assistindo é uma coisa que tem duas vertentes: Umas delas começa em 2011, que para enfrentar a crise de 2008 (financeira), a presidente Dilma manda baixar a taxa Selic (que é aquela que remunera os juros da dívida pública) e manda baixar, através da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, os juros ao consumidor. Além disso, congela o preço da gasolina, energia entre outros. Para se ter uma ideia, os bancos públicos com esses juros baixo ganharam no mercado o tamanho de um Bradesco. Os bancos públicos passaram a ter 55% desse mercado de crédito ao consumidor, anos atrás eram 30%. Isso é intolerável para o sistema financeiro privado.
Os detentores da dívida pública brasileira em 70% são o sistema financeiro (Bancos e Fundos de Investimento). Quando você baixa a taxa Selic, você baixa a remuneração desse sistema financeiro. Isso tudo unificou a elite dominante do sistema financeiro se contrapondo na reeleição da presidente Dilma. E essa briga continua! No fundo eles estão dizendo o seguinte: “quem controla a economia desse país somos nós e nós não aceitamos outra coisa”. Isso tudo somado ao terrorismo midiático diário, vai criando essa imagem de corrupção, ineficiência de falta de gestão, etc. Essa é uma vertente.
A outra vertente é como foi eleita essa câmara dos deputados. Setenta e cinco por cento (75%) da câmara dos deputados foi financiada por dez grandes grupos empresariais. Você tem bancadas, como por exemplo as dos Bancos, do Agronegócio a da Bala, que os deputados devem fidelidade, pois foram financiados por elas e não ao seu partido. Esse é o começo da crise que está implodindo o nosso sistema político: “os partidos não tem programa, não tem compromisso, etc. Só estão aí para negociar vantagens dentro do congresso”. Esperto que é o presidente da Câmara Eduardo Cunha, aproveitou dessa situação e, financiado por algumas empresas, financiou campanhas de colegas seus para se elegerem e criou uma bancada própria que lhe é fiel, porque ele tem na gaveta os compromissos de financiamento dessa bancada. É isso que torna a situação mais delicada, porque esse congresso não está se movendo por questões politicas. Esse congresso está se movendo por fidelidades, que se desvendadas levariam muita gente para a cadeia.
Resumo da ópera: de tudo que eu já pesquisei e venho acompanhado, através de sites sérios, entrevistas, etc., os motivos da tentativa de impeachment (golpe) contra a presidente Dilma, tem duas frentes, uma o sistema financeiro privado, noutra os deputados comprometidos com os financiadores de suas campanhas, ambas apoiadas pela grande mídia que sempre se ajoelhou e pediu bênção ao sistema financeiro.
(*)Marco Antonio Poletto é gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural.