Todos sabem dos princípios básicos para ser inserido no mercado de trabalho: currículo bem formatado, pontualidade, discrição na vestimenta, muita naturalidade e competência na entrevista.
Um erro grave, e que é cometido com freqüência pelos concorrentes, é a dificuldade em definir um foco de atuação. A escolha de uma profissão e o investimento, por meio de cursos e especializações, é o que faz a diferença. Pensando nisso, nossos jovens, alguns bem amparados financeiramente, outros na raça mesmo, estão começando a definir desde cedo, uma profissão pensando, obviamente, no seu futuro. Geralmente, alguns mudam até a hora de realmente escolher a que de melhor se encaixa:- Uns querem ser médico, outros, professor, advogado, historiador, ator, publicitário, cantor e por ai vamos!
Mas, o interessante de tudo isso e, embasado por pesquisas muito cansativas, chequei a seguinte conclusão: – não encontrei nenhum jovem com o sonho de ser político? Existe essa profissão? Antigamente as pessoas eram “alguma coisa” e se tornavam político, mas continuavam exercendo essa “coisa” depois que o mandato acabava. Hoje os tempos são outros, com diz Max Weber no texto “A política como profissão”, refere-se aos políticos que fazem do mandato popular mera profissão – e lucrativa – como que instalados atrás de um balcão onde se negocia, além de bens materiais, vantagens simbólicas, como cargos, influência, facilidades, prestígio, em suma, poder. Abraçam a política por vocação aqueles que se sentem motivados por ideais e valores, devotados às aspirações de seus eleitores, comprometidos com projetos históricos. Desses, não raro alguns se deixam picar pela mosca azul e sacrificam o idealismo em nome do pragmatismo. Ter como profissão “SER POLÍTICO” causa certa estranheza. Em tese, seria aquele indivíduo que abandona qualquer trabalho para se dedicar única e exclusivamente à política. Por essas e outras que a descrença da população com relação às instituições políticas é uma marca de nosso tempo. Essa situação é mais grave do que se possa imaginar, uma vez que pode acarretar outra ainda mais séria como o desinteresse político. Nesse sentido, a participação da população fica, muitas vezes, restrita às eleições, quando se escolhe, não raro sem critérios muito definidos, os administradores e legisladores.
O novo ano está chegando e parece que, assim como em 2012, teremos uma enormidade de políticos profissionais atuando no cenário local, com uma enormidade de promessas e outras “cositas más”. Eles não o são por vocação, por competência ou por conhecimento, o são por profissão. Já ocorre há tempo esse fenômeno de termos pessoas que encaram a política como profissão. Não temos mais o médico que resolveu ajudar sua comunidade, o advogado que decidiu auxiliar na feitura das leis ou, até mesmo, o sindicalista bem intencionado. Temos agora, como já citei a pessoa que se porta com a vontade de atingir o cargo, de poder usufruir dos benefícios do mesmo. Ela serve aos outros querendo algo em troca e não por ser solidária, e não por sentir um compromisso interno de fazer a diferença. A política para ela é fim e não conseqüência. E assim vamos vivendo. Em um Brasil de políticos por profissão e não por vocação. Que conhecimento essas pessoas têm? Que nível de contribuição podem dar? O que verificamos, no entanto, é que a representação parlamentar vem seguindo cada vez mais a lógica da política como mera profissão. Diante da perda de perspectiva revolucionária por parte de muitos partidos de esquerda no mundo, o que resta a muitos parlamentares é a sua adequação à estrutura parlamentar vigente, onde o objetivo é permanecer na atividade de representação política para evitar que outros o façam. Mais do que isso: a questão está para além de mera disputa política, pois o que ocorre é que os antigos líderes, oriundos muitas vezes do próprio mundo do trabalho, burocratizaram-se e, hoje, lutam desesperadamente pela sua manutenção nos espaços estatais, pelo simples motivo de que eles não têm mais profissão no mundo da produção. É assim que sua profissão (da qual eles passam inteiramente a depender) tornou-se a política. A descaracterização dos partidos e da função dos parlamentares andam juntas, de forma que os próprios interesses originalmente representados podem mudar de lado, com a justificativa de que isso permite a continuidade da representação. À população resta assistir a um espetáculo, em que a consciência política que movia militantes e dava sentido à representação política é dispensada pela adoção de instrumentos de marketing em nome de uma eficiência eleitoral, marcada por profissionais que, cada vez mais, se identificam com um processo, em que seu sentido e rumo já deixaram de existir. Afinal, o que é mais importante: a alternativa a implementar ou a possibilidade de poder implementá-la? O que se verifica é que, em nome do pragmatismo de conseguir implementar o possível, a alternativa pode vir a ser considerada impossível e o potencial emancipador da política se reduz a uma mera profissão. De quantos mais instruídos e mais bem intencionados poderiam ser as vagas que elas estão ocupando? Se existe a profissão político, é a população que deve decidir isso, afinal, os patrões somos nós!
(*)Marco Antonio Poletto é Gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural