Nos últimos anos, Jales não vem assinando muitos convênios nem conseguindo muitos recursos junto ao governo federal, mas já houve uma época, principalmente na administração do ex-prefeito Humberto Parini, em que a cidade foi beneficiada com várias verbas obtidas junto a ministérios e outros órgãos federais. O problema é que boa parte desses recursos foram investidos na construção de prédios que não estão cumprindo suas finalidades e, em alguns casos, encontram-se totalmente abandonados.
É o caso, por exemplo, da chamada “Casa do Produtor”, construída pelo governo Parini em uma rua da Vila União, quase na esquina com o prolongamento da Avenida “Francisco Jalles”. Inaugurado em dezembro de 2012, o prédio construído com recursos de um convênio firmado com o Ministério da Agricultura, nunca foi utilizado por nenhum produtor agrícola, a menos que se considere como tal alguns eventuais produtores da cannabis sativa, a popular maconha. Os vizinhos reclamam que o local, abandonado desde a inauguração, é utilizado constantemente por usuários de drogas e por moradores de rua. “Desde a inauguração, eu nunca vi ninguém usando esse salão. Só os maconheiros e os andarilhos, que já trouxeram até colchões para cá”, diz uma vizinha.
Depredado pela ação de vândalos, que quebraram os vidros da porta, o prédio está sendo usado como depósito de cadeiras velhas e de restos da decoração natalina. Não é possível saber quanto custou aos cofres públicos a construção da chamada “Casa do Produtor”, uma vez que ela integrou um convênio no valor de R$ 672 mil, assinado em 2010, que previa, além da construção, a aquisição de algumas máquinas e implementos agrícolas. Dos R$ 672 mil, pelo menos R$ 116,5 mil se referiam à contrapartida que deveria ser paga pelo município.
Bem pertinho da “Casa do Produtor”, um outro prédio construído com recursos federais e inaugurado em 2008 também dá sinais de abandono. É bem verdade que, quase sem uso, ele já esteve em situação pior, com portas e janelas quebradas. Atualmente, as condições do prédio até que não são das piores, mas ele continua com muitas salas vazias, sem qualquer utilização. O único sinal de vida no chamado “Centro de Economia Solidária Fioravante Boldrin” – que custou cerca de R$ 300 mil – fica por conta do Banco do Povo, que ocupa uma sala na parte da frente do prédio.
As outras salas já foram utilizadas por pequenas empresas, mas elas foram obrigadas a sair de lá em 2009, depois de uma visita de técnicos do Ministério do Trabalho e Emprego, sob a alegação de que o prédio não foi construído para servir de incubadora. A Prefeitura bem que tentou instalar uma cooperativa de costureiras no local, mas a iniciativa fracassou. O prédio já foi utilizado, também, pelo “Projeto Guri”, mas, no momento, só abriga o Banco do Povo.
Nas proximidades da Facip, a cidade tem outro exemplo de dinheiro público mal aplicado. Construído no governo Parini para ser mais um centro de convivência de idosos, o prédio que custou em torno de R$ 240 mil, também já apresenta sinais de abandono e nunca foi utilizado como opção de lazer para o pessoal da terceira idade. Inaugurado em 2008, a Prefeitura tratou de, ainda naquele ano, firmar uma parceria com a Unijales, através da qual o prédio foi cedido ao Centro Universitário para instalação de uma “Clínica Escola de Fisioterapia e Enfermagem”.
A parceria foi, no entanto, rompida em 2013, já no governo da ex-prefeita Nice Mistilides, e, de lá para cá o prédio ficou praticamente às moscas, sem quase nenhuma utilização. No ano passado, segundo se sabe, a Prefeitura usou o local como depósito de roupas usadas, arrecadadas através da “Campanha do Agasalho”. Segundo informações obtidas por A Tribuna, não existe nenhuma perspectiva de o prédio ser utilizado na finalidade para a qual foi construído, ou seja, para a convivência de idosos.
Outro exemplo de obra abandonada pode ser visto bem na entrada de Jales. Construído para ser um cartão de visitas da cidade, o “Portal de Entrada e Centro de Artesanato” custou mais de R$ 325 mil, dos quais R$ 200 mil vieram do Ministério do Turismo através de um convênio assinado em 2006. A obra, no entanto, só ficou pronta em 2010, quando foi inaugurada com alguma pompa e também com alguma polêmica. Batizado com o nome de uma artesã – Rufina Garcia, a Vovó Rufina – o Centro de Artesanato não teve, por falta de convite, a presença da família da homenageada em sua inauguração, o que deixou alguns parentes contrariados.
Esse não foi, no entanto, o principal problema vivenciado pelo Centro de Artesanato. O grande aborrecimento, atualmente, é o abandono do prédio. Assim como as outras obras citadas nesta reportagem, o Centro de Artesanato, sem apoio da administração Parini, não sobreviveu por muito tempo. Cerca de um ano depois da inauguração, o prédio já estava abandonado, situação que perdura até os dias atuais. E o que era pra ser um cartão postal da cidade, transformou-se em mais um atestado da incapacidade dos nossos governantes.