Terça-feira, Novembro 26, 2024

O golpe e os golpistas de sempre

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Do blog do Jorge Furtado

Superfaturamento: “Pode-se considerar normal, dentro do quadro de anormalidade em que se gerou o desenvolvimento da crise que explodiu na Petrobrás. A CPI prossegue seus trabalhos de apuração do que verdadeiramente ocorre na área do monopólio estatal do petróleo. O que não se pode, em hipótese alguma, considerar normal é a revelação, surgida no depoimento de um dos diretores demitidos, de que a Petrobrás se dedica a prática de superfaturamento do material que importa. Mais uma razão, pois, para que se leve a cabo uma devassa rigorosa, completa, imparcial e implacável dos negócios da Petrobrás”.

Folha de S. Paulo, 31 de janeiro de 1964 :

(1) “O governo federal, que tantas vezes se mostra particularmente sensível a duvidosas “forças populares”, e em seu nome pratica até desatinos, que atitude tomará diante da iniludível demonstração de ontem em São Paulo? Tentará caracterizá-la como uma “demonstração de reacionários”, ou “conservadores”, ou defensores de “estruturas arcaicas”? Folha de S. Paulo, 21 de março de 1964, comentando a “Marcha da Família”, que preparava o golpe militar. (2) De tempos em tempos a democracia brasileira é interrompida por golpes patrocinados pelas suas elites. Os motivos alegados – já que os verdadeiros são inconfessáveis – são geralmente os mesmos: corrupção, desgoverno, bagunça, crise, populismo. Os golpistas e os jornais que os apoiam também variam pouco, sempre é a direita contrariada pela perda de poder, só muda o figurino e o cabelo.

Por coincidência, há uma perfeita relação entre o aumento do poder aquisitivo do salário mínimo, as conquistas de direitos das populações mais pobres e a revolta das elites contra os governos que as promovem. A Casa Grande não costuma aceitar docilmente esta ideia estranha de que cada um vale um voto e que, para chegar ao poder, precisa ganhar eleições. 

(3) Os golpistas de hoje falam da corrupção do governo (que existe e é grave), mas não falam que os mesmos corruptores, que estão presos graças a uma lei sancionada por Dilma. 

(4) Financiam também a oposição (5). Aliás, enquanto empresas puderem financiar políticos (“Devolve, Gilmar!”) a sangria dos cofres públicos não vai ter fim.

Alegam que o governo petista “destruiu a Petrobrás”, o que é estranho, já que a empresa em maio atingiu o recorde de três milhões de barris por dia, um crescimento 10% em relação ao ano anterior.

(6). Dizem que a roubalheira na Petrobrás é uma vergonha (e é mesmo!), mas não dizem que esta quadrilha que foi presa no governo Dilma começou a operar na Petrobrás ainda no primeiro mandato de FHC, quando o Ministro da Justiça (que manda no chefe da Polícia Federal) era Renan Calheiros, hoje investigado pelo esquema de corrupção.

 (7). E que outras quadrilhas já roubavam a Petrobrás bem antes desta, Paulo Francis denunciou a roubalheira em 1996, no governo de FHC, e por isso foi processado. 

(8) Os golpistas de hoje podem, daqui a trinta anos, pedir desculpas por terem apoiado o golpe, podem alegar que estavam mal informados (e estão mesmo, muito mal informados), podem até se arrepender sinceramente. Só não podem alegar originalidade, nem esperar que a gente acredite neles, mais uma vez.

 

*Marco Antonio Poletto é Gestor no Poder Judiciário, Historiador, Articulista e Animador Cultural

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