Alunos e professores da Fatec (Faculdade de Tecnologia) e ETEC (Escola Técnica) Dr. José Luiz Viana Coutinho, ambas de Jales, prestigiaram a palestra “Transformando em oportunidades a crise hídrica”, ministrada pelo professor doutor Fernando Braz Tangerino, da Área de Hidráulica e Irrigação da Unesp de Ilha Solteira. O evento encerrou a Seagro – Semana Acadêmica do Agronegócio promovida pelas duas instituições na Câmara Municipal de Jales.
Tangerino iniciou a palestra apresentando os diferentes canais de comunicação utilizados sob sua coordenação na Unesp e mostrando como utiliza ferramentas disponíveis na internet para atingirem públicos diferentes e levarem mensagens importantes sobre o uso racional da água. Paralelamente ao tema crise hídrica, o professor fez uma breve análise da atual sociedade que, segundo ele, é considerada dinâmica, instável e evolutiva. “Correrá sérios riscos quem ficar esperando para ver o que acontece. A adaptação à nova realidade será cada vez mais uma questão de sobrevivência”, disse ao abordar o problema da falta de água.
O professor Fernando exemplificou como os desafios, mudanças, as novas tecnologias em sistemas de irrigação e a sustentabilidade dos sistemas de produção devem estar em conformidade com o cumprimento da legislação ambiental e os profissionais da área cada vez mais atualizados e capacitados. “A cada dia que passa os produtos concorrentes ficam mais similares em termos de tecnologia e preços. Assim, o diferencial estará, portanto, na capacidade da empresa ou profissional em ser diferente”, disse.
Para mostrar a importância da agropecuária, o professor utilizou os números do PIB divulgados em 29 de maio, indicando o crescimento do setor. “Apesar dos números favoráveis da agropecuária, ainda existem muitas oportunidades a serem aproveitadas”, frisou. Durante a palestra, o professor comparou a diversidade climática brasileira com a de países como os Estados Unidos e a China, além de usar parâmetros de comparação com o período de inverno europeu. Ele ressaltou que o inverno da Europa favorece a agricultura brasileira. “A demanda por proteínas e energia sempre nos favorece”, ressaltou o professor que levou mensagens de otimismo aos alunos.
Em sua análise, Tangerino disse que “se a agropecuária brasileira é capaz de produzir toda esta riqueza, sob as condições de instabilidade das chuvas, imagina se aumentássemos a nossa área irrigada?” questionou. O professor mostrou que em 2013, ano considerado o melhor da expansão da agricultura irrigada, com a incorporação de novos 284 mil hectares irrigados, a crise hídrica afetou o desempenho do setor que cresceu apenas 221 mil hectares. Ele aproveitou para mostras, através de números, as diferenças entre as crises de 2001 e 2014.
“A água sempre e historicamente foi utilizada como fator de desenvolvimento socioeconômico, mas temos desafios grandes pela frente para manter e conservar os recursos hídricos em quantidade e qualidade para atender as demandas dos diferentes setores, o que chamamos de segurança hídrica. Temos um passivo ambiental, ligado ao desmatamento e degradação dos recursos hídricos que precisa ser resolvido. Precisamos que a água que vem do céu, pelas chuvas, ao invés de escorrer, seja infiltrada ao solo, recarregue o lençol freático e garanta a vazão das nascentes por todo o período seco. Diminuir as diferenças entre as vazões máximas e mínimas dos nossos córregos e rios é o objetivo de todo o trabalho de conservação do solo. Nossas nascentes estão desprotegidas e é por elas que devemos iniciar nosso trabalho de ‘produção de água’ o ano inteiro”, explicou.
Para encerrar a palestra, Fernando mostrou o exemplo da transformação de desertos e área semiáridas em terras de altas produtividade, convidando os participantes a uma maior capacitação para enfrentar o desafio de produzir água e ampliar a área irrigada, que com seus efeitos multiplicadores ampliam as condições socioeconômicas de muitas regiões. O professor também defendeu a democratização e transparência da informação, do conhecimento e de ações entre os diferentes órgãos públicos.