Nas últimas décadas, o comerciante aposentado José Célio Martini tem tido forte atuação nas discussões sobre as políticas públicas para a saúde no município de Jales. Apesar da sua conhecida posição política, Martini, como é conhecido, não é filiado a nenhuma legenda, o que lhe permite ser respeitado por várias correntes políticas e atravessar, pelo menos, quatro mandatos de prefeito. Martini já foi presidente do Conselho Municipal de Saúde (atualmente é vice-presidente) e foi escolhido como representante regional na Conferência Estadual da Saúde e representante estadual na Conferência Nacional da Saúde, realizada há duas semanas em Brasília.
A Tribuna: Como começou a sua atuação comunitária na Saúde?
Martini: Estou na saúde há muito tempo, desde o tempo de implantação do AME. Acabei criando uma relação com o pessoal do DRS (Departamento Regional de Saúde), depois virei voluntário do Programa Mais Médicos, em 2013, estreitei a minha relação com o prefeito Pedro Callado, fui aprendendo com o tempo e me sugeriram que eu fizesse parte do Conselho Municipal de Saúde. Me tornei presidente entre 2017 e 2022, por quase cinco anos, e atualmente sou vice-presidente do Conselho. Recentemente, fui eleito como um dos mais votados na região de Rio Preto para representar os 102 municípios, tanto na Conferência Estadual quanto Nacional.
A Tribuna: Qual é a importância dos conselhos? Eles ajudam mesmo a melhorar a saúde nos municípios?
Martini: O problema de alguns conselhos é que o próprio prefeito ou a secretária quem escolhe os conselheiros, então deixa de ser um órgão fiscalizado independente. Aqui sempre fomos elogiados pelo Tribunal de Contas porque a gente ajuda o prefeito e a Secretaria de Saúde, mas a gente fiscaliza também.
A Tribuna: Esses conselheiros, pelo menos em Jales, são eleitos?
Martini: Sim, são eleitos. Somos em 16 representantes que são representantes dos conselhos de bairros, do AME, Santa Casa, Hospital de Amor, Lar dos Velhinhos, APAE, Lions Clube, Pastoral da Igreja Católica e dos Evangélicos.
A Tribuna: Recentemente você participou da Conferência Nacional da Saúde, em Brasília, onde participaram representantes de todo o país. Essas reuniões são úteis?
Martini: É muito cansativo, mas é muito útil. Geralmente começava às 8 horas e terminava depois das 23 horas. Foi pesado, mas foi muito produtivo porque as pessoas que vão lá sabem que não é passeio, é para trabalhar em prol da saúde da população. Eu, por exemplo, votei muito com o pessoal do norte e nordeste que precisa muito da Saúde. Pra você ter uma ideia, aqui nós temos um índice de 2.8 médicos por mil habitantes e lá eles não têm nem a metade disso.
A Tribuna: As sugestões aprovadas nessas conferências são atendidas? Você viu algum progresso?
Martini: Certamente serão atendidas. Pode ser que nem tudo seja atendido porque depende de muitas coisas, mas o que ficar pra trás acaba sendo atendido no próximo governo, mesmo com o surgimento de outras demandas, como a telemedicina. Tudo é decidido por votação, automatizado e fica registrado, depois são selecionados naqueles eixos e protocolado no Ministério da Saúde. Inclusive o presidente Lula esteve no encerramento da conferência o que mostra que ele tem muita preocupação com a saúde da população porque veio de uma família carente e sabe o que a população precisa.
A Tribuna: O Governo Federal está recriando o programa Mais Médicos. Como está a situação em Jales?
Martini: Temos uma médica do programa no Núcleo Central de Saúde de Jales, que é uma médica muito querida pela população. Agora a secretária de Saúde Nilva Gomes está trabalhando para contratar mais um médico. Só que agora o município precisa dar uma contrapartida e a Secretaria Municipal de Saúde está estudando isso para ver se compensa essa contratação e tem condições de pagar a contrapartida. A ideia é pedir mais dois ou três médicos porque o município está aumentando o número de ESFs, construindo mais dois postos de saúde. Só no Jardim Paraíso são atendidas mais de 6 mil pessoas. Com a construção do ESF do Jardim São Gabriel, vai desafogar o do Jardim Paraíso, mas vai precisar de mais médicos.
A Tribuna: A construção desses novos postos de saúde passa pelo conselho?
Martini: Sim, passa. O do Jardim Oiti foi reivindicação do Conselho quando eu era presidente. O local era inadequado e não tinha como reformar, a população não merecia isso e agora está sendo feito. E o caso do São Gabriel foi um trabalho nosso também com o objetivo de aumentar o número de unidades para acomodar a população e descongestionar os outros da região.
A Tribuna: O prefeito Luís Henrique costuma ouvir o conselho? Você tem acesso a ele?
Martini: Sim, claro. A Saúde não tem partido político, sempre conversamos para melhorar a situação e nunca para brigar. Recentemente, quando eu fui para a Conferência Estadual, eu fui até Campinas de carona com ele e fomos conversando sobre a Saúde daqui até lá. Quando chegou ao hotel onde eu fiquei, ele me disse: “Martini, que pena que a viagem não é mais longa para a gente conversar mais”. Um desentendimento ou outro sempre tem, mas a gente vai conservando que tudo se desenrola.
A Tribuna: Você é a favor dos mutirões?
Martini: Sim, sou. Inclusive o de catarata é muito necessário e deveria ter acontecido há alguns meses. O nosso problema são as cirurgias eletivas que demoram muito e a cada dia tem mais gente entrando nessa fila.
A Tribuna: Você se sente bem fazendo isso, atuando pela Saúde?
Martini: Eu amo fazer isso. Coloco dinheiro do bolso, uso o meu carro… pra mim é uma terapia.
A Tribuna: O conselho não é remunerado, né?
Martini: Não, não ganha nada. Aliás, eu acabo até gastando do meu bolso. Só porque faço com carinho e ganhando quem ganhar, a gente está presente. Mesmo que o prefeito me oferecer um cargo, eu não aceito. Não preciso, tenho a minha aposentadoria
A Tribuna: Você já foi candidato, tem pretensão de ser candidato a algum cargo, como vereador ou prefeito?
Martini: Nananinanão, de jeito nenhum (incisivamente)! Eu nem tenho idade para isso, vou fazer 73 anos e não quero isso.
A Tribuna: E essa história da Santa Casa assumir a UPA?
Martini: Eu também gostaria de ver isso aí, só que a UPA é uma manobra muito pesada porque envolve os 16 municípios. Eu acho positivo, daria certo porque quem poderia fazer a CROS seria o próprio SAMU. Esse trabalho seria feito pela UPA que é ligado ao Consirj. Do jeito que está hoje acaba sendo até cabide de cargo político porquê do jeito que está hoje são os prefeitos que escolhem e sendo a Santa Casa isso não aconteceria. Quando a UPA é ligada a esse tipo de consórcio, existe muito apadrinhado, então livraria isso e seria mais econômico e mais bem fiscalizado. Não estou dizendo que não está sendo.
A Tribuna: E o AME?
Martini: Também teria que ser da Santa Casa de Jales. Eu já conversei com eles porque faço parte da irmandade. Já disse para mudar o estatuto para abrigar o AME. Seria uma economia muito grande, principalmente com viagens. Sou favorável a tirar de Votuporanga e passar para Jales. É o que eu torço para que aconteça.
A Tribuna: Você acha que falta muito para a Saúde de Jales ficar 100%? A Saúde está indo bem?
Martini: Eu acho que falta muita coisa. Por exemplo, o médico de rua, aquele que vai lá na praça e atende a população que passa, fazer um exame de glicemia, hipertensão… Esse é o verdadeiro médico da família. Mas isso a gente vai conquistando com o tempo porque não é de um ano para o outro. Vamos chegar lá.
A Tribuna: Você é favorável a abertura de postos de saúde em horário estendido para atender o trabalhador?
Martini: Sou a favor que fique não apenas uma unidade, mas umas quatro que ficassem abertas até as oito horas da noite. Porque aquele trabalhador que sai do trabalho às cinco ou seis horas não tem condições de ir a uma unidade de saúde do bairro porque já fechou. Se a unidade ficar até às oito horas, ele não vai mais precisar ir para a UPA. Ajudaria a desafogar a UPA. Pode ver quando chega seis horas, chega um monte de gente para ser atendido na UPA.
A Tribuna: Atualmente temos a Santa Casa, o AME, o Hospital de Amor, vários laboratórios de imagens e análises clínicas, temos dezenas de clínicas e consultórios de inúmeras especialidades, farmácias, teremos o centro de hemodiálise, a Unijales está criando cada vez mais cursos da área da saúde. Você acha que Jales está se consolidando como polo regional de atendimento na Saúde?Martini: Automaticamente, Jales está se tornando uma regional de saúde. Se você analisar, Jales está bem além de Fernandópolis e até de Votuporanga. Falta melhorar algumas ciosas, mas se você fizer um levantamento geral, vai ver que Jales evoluiu muito de pouco tempo para cá. Eu acredito que vai melhorar mais ainda. Sem contar que Jales é um ponto estratégico para uma faculdade de medicina porque campo de trabalho nos temos.