O jeito particularmente educado, de fala mansa e bom trato com todas as correntes partidárias, deixa a falsa impressão de ser uma pessoa manipulável ou de fraca opinião. Mas muita gente que achava que o conhecia se surpreendeu com a personalidade determinada e a firmeza de propósito. Ricardo Gouveia, vereador em primeiro mandato, tem se mostrado um presidente competente, dedicado e firme em suas decisões, mas também pacificador ponderado. Ele é o nosso Personagem da Semana. “Não tomo decisões sozinho nem sem pensar. Eu ouço os colegas e a assessoria da Câmara, mas respeito a todos e exijo ser espeitado”, diz.
A Tribuna: Como está sendo a experiência de ser vereador? Era aquilo que o senhor imaginava durante a campanha?
Ricardo Gouveia: Não, é um pouco diferente porque a gente acha que as coisas são um pouco mais fáceis, mas não são. O trabalho é bem mais complicado, mas também é prazeroso porque às vezes a gente consegue ajudar as pessoas e ter algumas conquistas para o município. O trabalho de vereador esbarra em vários problemas e limitações, como falta de verbas. Também não adianta a gente só pedir as coisas. Nós temos obrigação de montar neste carro da Câmara e ir até São Paulo e Brasília em busca de verbas. Aliás, esta verba da Câmara que é devolvida teria que ser usada para correr atrás de recursos porque às vezes se a gente gasta cem mil em viagem, a gente consegue dois ou três milhões de recursos para o município.
A Tribuna: A legislação limita a função do vereador, como, por exemplo, impede que ele crie despesas para o município, sem apontar a origem do recurso. Isso surpreende muita gente, né?
Ricardo Gouveia: Sim. Tem vários projetos de lei que a gente apresenta e a Procuradoria Jurídica explica que não é permitido, então a gente procura outras formas, como as Indicações, por exemplo.
A Tribuna: E a função presidente da Câmara? Isso eu tenho certeza que te surpreendeu porque foi um cargo que caiu no seu colo.
Ricardo Gouveia: Eu nunca tive a intenção de ser presidente. Sempre disse isso desde o começo do mandato. Eu fui o vereador mais votado e a regra diz que o mais voto é eleito presidente no começo da Legislatura, mas eu abri mão porque estava começando na política, tinha que aprender, mas com este embate todo sobre reeleição, o cargo acabou caindo no meu colo, mas eu estou gostando. Achei que seria algo mais complicado, mas graças a Deus, a gente sempre conversando com pessoas boas e seguindo orientações, ouvindo pessoas mais experientes no meio jurídico, jornalistas, cidadãos, está sendo bacana, apesar das dificuldades que a gente enfrenta. É prazeroso e eu vejo que consegui acalmar um pouco o ambiente que estava meio conturbado, meio pesado. Eu consegui me aproximar de alguns vereadores que estavam com os nervos mais abalados e parece que já está bem melhor.
A Tribuna: A Câmara, inclusive tem um corpo técnico bastante preparado. Todos são experientes e têm pós-graduação.
Ricardo Gouveia: Isso ajuda bastante. O Marquinhos Zampieri, quanto o Fabinho Galan, a Cristiane, o dr. Rodrigo, procurador jurídico, também ajudam demais, principalmente a mim que estou começando e venho de uma área totalmente diferente da política, que é a medicina. Praticamente todo dia eu os consulto. Desde uma audiência pública até decisões mais importantes. A gente tem que ter humildade de ouvir os outros porque senão, a gente pode acabar fazendo alguma besteira.
A Tribuna: O senhor falou em apaziguar e o seu desempenho tem sido muito elogiado, principalmente na última sessão durante a votação da Guarda Civil, que houve muita gritaria e alguns veadores estavam exaltados. O senhor teve que chamar a atenção do Bismark Kuwakino e de alguns eleitores que estavam no plenário. E mesmo assim, o senhor pediu ordem, chamou a consciência das pessoas sem alterar a voz, sem se exaltar.
Ricardo Gouveia: Eu fui educado da seguinte forma, a gente tem que dar o respeito para ser respeitado. A partir do momento que um levanta a voz para o outro, perde a razão. Graças a Deus, nestes dois anos e quatro meses de mandato eu nunca tive uma discussão mais acalorada de trocar ofensas. Não temos ideias políticas iguais, mas respeito os outros. Numa democracia, o debate é importante, mas com respeito. Eu não vou aceitar, enquanto eu for presidente, gritaria, pampeiro, confusão e falta de educação um com o outro lá dentro. Se eu desrespeitar um vereador, eu estou desrespeitando os eleitores dele. E esse vereador pode ser pai de família, avô, ter esposa…isso é muito feio. A sociedade não quer ver isso. Foi vergonhosa aquela discussão. Quem gostou foi meia dúzia de pessoas que estavam lá pra fazer arruaça, mas a população não quer ver aquilo. Imagina um empresário que está pensando em investir em Jales, vai lá na Câmara e vê aquela briga? Ele fala: não vou investir porque uns vão me apoiar e outros vão me agredir. Qual a vantagem dessa briga?
A Tribuna: A impressão é que as pessoas confundem o seu jeito educado com falta de firmeza. O senhor acha que houve quem se surpreendeu com a sua firmeza de propósito, inclusive baixando resolução sobre porte de arma, pedindo a presença da polícia e trocando funcionário?
Ricardo Gouveia: Concordo. Algumas pessoas ficaram surpresas, sim. Nestes dos anos, por causa de muita briga, eu ficava mais reservado, só usava a palavra para falar dos meus requerimentos mesmo. Não entrava em embate. E as pessoas não conheciam este meu lado mais firme. Meu lado de conversar, também, porque todas as decisões não foi só o Ricardo que tomou sozinho. Foi com a ajuda de mais pessoas. A gente nunca acerta 100%, mas tem que garantir a ordem e a segurança de todos.
Troca de funcionários é coisa natural. Faz parte do processo, tanto que o senhor Léo Uber foi muito educado [quando foi dispensado], enviou mensagem, pediu para ficar mais alguns dias para terminar o serviço que estava fazendo. Naquele momento, nós achamos que o professor Cadú seria a melhor opção nesta nova gestão da Presidência. É um cargo comissionado, de livre nomeação e exoneração pela Mesa Diretora.
A Tribuna: Inclusive até alguns vereadores que foram contrários e disseram na Tribuna da Câmara que a medida estava completamente amparada pela lei.
Ricardo Gouveia: Sim, foi tudo dentro da lei. Como a maioria da Mesa achou que a troca era benéfica…tanto que o professor Cadú sabe que ele também pode ser trocado a qualquer momento, se mudar a presidência ou se a Mesa achar que ele não está indo de acordo com o que a gente imagina, também.
A Tribuna: Como o senhor recebeu a decisão da justiça de Jales que anulou a reeleição do Bismark, ratificando, em contrapartida, a sua eleição?
Ricardo Gouveia: Eu acho que decisão judicial a gente tem que respeitar. Se o o dr. Curitiba falasse, que tem que ter nova eleição ou que eu tinha que sair do cargo, eu respeitaria. Não tenho esta vaidade. O que a justiça decidir, a gente cumpre. Inclusive tem uma multa de R$ 5.500,00. Na minha opinião, a gente tem que pagar, sem recorrer. A gente tem que respeitar a ordem do juiz. Se depender deste presidente da Câmara, vai ser pago conforme o juiz determinou. Já estou vendo isso.
A Tribuna: Outra decisão judicial que atingiu em cheio um vereador esta semana diz respeito à Carol Amador. A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público e ela se tornou ré num processo por Injúria Racial, que teria acontecido dentro da Câmara e entre dois vereadores. Como vocês estão vendo isso? Já conversou com o Jurídico?
Ricardo Gouveia: Conversei e a minha posição, enquanto presidente, é que só vamos nos posicionar depois que realmente houver o julgamento. Mas a posição da Câmara é que, de maneira alguma, independente de opção sexual, raça, credo, não vamos aceitar discriminação, injúria racial ou racismo. E se acontecer de ela ser condenada, vamos tomar a providências. Vamos enviar para o Conselho de Ética, se houver dúvida. Nos dias de hoje, isso é inaceitável.
A Tribuna: E quanto às representações contra vereadores? No ano passado houve algumas que foram sistematicamente arquivadas pelo então presidente. Neste ano como vai ser? Parece que já há algumas.
Ricardo Gouveia: Nós não vamos engavetar nenhuma. Independente de quem seja o representado, vereador ou até presidente. Vamos pedir o parecer da Procuradoria Jurídica e dar andamento para o Conselho de Ética a todas as representações. O que o Conselho decidir, nós vamos acatar.
A Tribuna: Já tem duas?
Ricardo Gouveia: Já tem duas. Uma contra mim e outra contra outro vereador [Bruno de Paula]. Eu pedi para analisar a minha em primeiro lugar porque acho que o presidente tem que dar exemplo. É um questionamento sobre as minhas contas de campanha que a Justiça Eleitoral já julgou, eu já paguei os valores e já está tudo ok. Mas se o Conselho de Ética achar que eu tô errado, eu me defendo e respondo. Quanto ao outro vereador, ele faz parte do Conselho de Ética e terá de ser substituído por um suplente para que o caso dele seja analisado.
A Tribuna: A Câmara de Jales tem sido classificada como uma das mais econômicas, mas talvez, essa economia não esteja sendo feita em detrimento da prestação de serviço ao cidadão? Um exemplo é que os vereadores não têm assessores para receber os eleitores quando eles não estão na Câmara e é quase impossível encontrar os vereadores o dia todo na Câmara porque eles têm os seus empregos e precisam visitar o município.
Ricardo Gouveia: Isso é de pensar, sim. Porque nenhum vereador fica lá o dia inteiro. Acho a ideia interessante e acho que ajudaria no atendimento, sim. Não sei se um assessor para cada vereador porque seria muito oneroso, mas quem sabe dois assessores? Pelo menos a população saberia que teria o respaldo em qualquer momento que for na Câmara.
A Tribuna: Houve rumores de que com a anulação da reeleição do Bismark, haveria a anulação da composição das comissões permanentes e até do Conselho de Ética. Isso procede?
Ricardo Gouveia: Houve apenas uma troca de posições. Me tirou da comissão onde eu estava para colocar ele, mas as outras não foram modificadas e não serão. Apenas quando houver representação de algum membro do Conselho de Ética ele precisará substituído pelo suplente.
A Tribuna: Apesar dos debates acalorados, a administração não tem encontrado problemas em aprovar as suas propostas. Tem gente que acha que o Legislativo tem que andar de mãos dadas com o Executivo. O senhor concorda?
Ricardo Gouveia: Tem que estar lado a lado. Quem tem a ganhar é o município. Se o prefeito coloca um crédito adicional e é de urgência, eu ponho no dia para votar, porque pode beneficiar uma escola, a Saúde, a Agricultura…. Na minha opinião, o prefeito Luís Henrique está fazendo um excelente trabalho. Ele não para. Vive em Brasília e São Paulo em busca de recursos. Tem bom relacionamento com o governo e com os deputados. Eu tenho certeza que Jales vai ter muitas conquistas, vai vir muita verba, muita coisa boa por aí, para recape, para o segundo viaduto…e eu acho que tem que andar junto. É importante ter oposição, desde que seja oposição inteligente, e não ser oposição por oposição só para bloquear os projetos do Executivo, porque se não for assim, a cidade pode estagnar.
A Tribuna: A base do prefeito parece que aumentou um pouco. Estava em cinco votos a cinco e garante cinco a quatro em projeto nos quais o presidente não vota, mas agora parece que tem seis a quatro e chegou a sete a três na última votação. Tá um pouco mais fácil, né?
Ricardo Gouveia: Depois que eu assumi a Presidência, batendo papo com os amigos, parece que aproximou mais. Lógico que todo mundo vai apoiar o prefeito desde que seja uma lei boa. Parece que devido a uns acontecimentos e devido a uns vereadores terem opinião própria e não estarem satisfeitos com o grupo da oposição, parece que eles acabaram se afastando do outro grupo e se aproximando da base. Mas nós também só vamos aprovar projetos que forem realmente bons para a população, como aconteceu com a Guarda Civil, em que fizemos um compromisso de só aprovar se o prefeito mantiver a Atividade Delegada.
A Tribuna: o Senhor acha que a articulação da administração com os vereadores está a contento? A relação entre a Prefeitura e a Câmara está ideal?
Ricardo Gouveia: Está, mas ainda falta. Principalmente alguns secretários. Acredito que devido à falta de verba mesmo. Por exemplo, a de Mobilidade Urbana. Já foram pedidos vários quebra-molas, serjetões…e nunca são atendidos. Sempre atende na medida do possível, mas acho que ainda falta bastante. Acho que falta aproximação, estar presente nas sessões. Talvez acompanhar alguma sessão seria o ideal. Quem sabe montar um grupo no WhatsApp. Acho que iria aproximar a ajudar, sim
A Tribuna: O senhor foi picado pela mosquinha da política? Pretende se candidatar novamente? Quem sabe a prefeito ou vice.
Ricardo Gouveia: Eu gosto muito da política. Acho que herdei do meu pai (o advogado e empresário Durvalino Fernandes Gouveia), que sempre atuou nos bastidores. Mas tenho um filho muito pequeno, pretendo ter outros filhos, a minha clínica está numa ascendente e ainda estou engatinhando na política. Tenho muito o que aprender. Então prefeito não dá, por enquanto. Mas eu pretendo continuar. Não sei se serei candidato a reeleição ou apoiar alguém. Só sei que se o Luís se candidatar eu estarei apoiando, do lado dele.