As regras de trânsito das vias de acesso ao viaduto Delegado Sebastião Biazi, sobre a linha férrea, no Jardim Paulista, estão sendo solenemente ignoradas por motoristas e motociclistas. O viaduto foi inaugurado há apenas três meses com a promessa de melhorar o tráfego de veículos e a segurança de pedestres e cessar os acidentes com os trens da RUMO, mas a promessa foi cumprida apenas parcialmente. Ninguém respeita a sinalização de mão única, de conversão proibida, nem o semáforo luminoso. Os acidentes são constantes e em alguns casos, pedestres continuam usando acessos irregulares e arriscando as suas vidas sobre a linha de ferro.
A conversão proibida é classificada como infração grave no artigo 207 do Código de Trânsito Brasileiro punível com 5 pontos na Carteira de Habilitação e multa de R$ 195,23.
Avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de parada obrigatória é infração gravíssima prevista no artigo 208 com perda de 7 pontos e multa de R$ 293,47.
O artigo 186 do mesmo CTB também tipifica como gravíssima a infração de transitar na contramão de direção em vias com sinalização de sentido único de circulação.
A reportagem esteve no local na tarde de quinta-feira, 1º de dezembro, e em menos de 15 minutos flagrou quase duas dezenas de infrações, apenas em um dos pontos de acesso ao viaduto. Motoristas e motociclistas que atravessam o viaduto vindos do Jardim Estados Unidos em direção ao Jardim Paulista, Roque Viola e Dercílio Joaquim de Carvalho, se recusam a obedecer a sinalização que proíbe a conversão à esquerda no “pé do viaduto” pela Avenida Minas Gerais.
Eles argumentam que a conversão regular teria ficado muito distante. Mesmo duvidoso, o pretexto encontra respaldo nas soluções de trânsito encontradas para esses motoristas, que precisam seguir pela Avenida Minas Gerais, passando por três ruas (Lavrador, Rio de Janeiro e Maranhão, que viraram contramão) até chegar à Rua João Borges de Lima, onde podem convergir à Rua Professor Rubião Meira e retornar para os seus bairros. Nesse caso, a dificuldade fomenta a infração e aumenta os riscos de acidentes.
O proprietário de uma oficina que fica bem em frente ao local das infrações confirmou a situação, que, segundo ele é comum e acontece a todo momento. Mas ele negou que aconteçam muitos acidentes por causa disso. Para ele, quem faz a conversão proibida são moradores das adjacências que já têm pleno conhecimento da irregularidade e redobram a cautela no local. “Uma rotatória ali já resolveria o problema porque ninguém quer ir até lá em baixo para pegar a Rubião Meira e voltar. Se ele já está aqui, acaba virando com cuidado e todo mundo do bairro já sabe que eles fazem isso, então tomam mais cuidado”.
Um pedestre que passava pelo viaduto com a filha se mostrou indignado com a situação. Para ele, seria importante manter um guarda de trânsito aplicando multas aos infratores. “É muito perigoso porque eles não obedecem as placas e aparecem de todos os lados”, disse. Ele se referia ao fato de que a Avenida Minas Gerais passou a ser contramão no sentido à Rua Maranhão, mas muitos motoristas também não respeitam a restrição e podem se chocar com os que fazem a conversão proibida no “pé do viaduto”.
Uma empresária de uma loja localizada na Rua Arujá elogiou a obra, que, segundo ela, facilitou muito o acesso dos moradores e aumentou a segurança de quem precisa atravessar a linha do trem. Porém, ela criticou a postura de muitos motoristas que se arriscam e arriscam a vida de outros ao desrespeitar a sinalização. “O viaduto ficou muito bom e até valorizou o bairro, mas o ser humano tem a capacidade de estragar, de atrapalhar uma coisa que foi para o seu próprio benefício. Ninguém respeita. Todo mundo entra pela contramão e todo mundo vira ali onde é proibido”.
Um empresário que mora na Rua Professor Rubião Meira disse que as conversões proibidas são muito frequentes, bem como os acidentes. “O viaduto em si ficou perfeito e eu prefiro com o viaduto do que ficar meia hora no sol esperando o trem passar. Mas tem acidente direto ali. Mas tem acidente direto porque ninguém quer dar aquela volta, não. Os caras furam o semáforo e viram ali mesmo. Domingo retrasado eu estava passando com os meus filhos e vi um acidente acontecer na minha frente. Sorte que são acidentes leves”.
“O que ficou ruim é a gente que mora aqui a 20, 30, 50 metros do viaduto e, quando desce do viaduto, ter que ir lá longe, dar uma volta enorme para retornar e chegar em casa. A Prefeitura veio aqui e colocou contramão em todas as ruas, que ninguém obedece. Se ficar ali 20 minutos você vai ver. Eu sei de pessoas que pararam de ir na faculdade porque machucou as pernas e está em casa”, disse.
A sua opinião vai ao encontro da do mecânico que disse que a solução poderia ser uma pequena rotatória. “Quer rotatória pior do que a do Proença e ela acaba funcionando. Acho que cabe um estudo para fazer algo semelhante aqui”.
FURANDO O SEMÁFORO
Uma moradora da Rua Goiás reclamou da dificuldade de atravessar o viaduto a pé. Ela tem que levar e buscar a filha que estuda na Escola João Arnaldo Andreu Avelhaneda, na Rua Professor Rubião Meira, portanto do outro lado do viaduto. A única passagem é o viaduto, mas para acessar a calçada é preciso passar pelo semáforo. O problema é que muitos motociclistas e alguns motoristas não obedecem o sinal vermelho e a faixa de pedestres. “É muito perigoso porque eles passam na maior velocidade e a gente fica com medo de ser atropelada, ainda mais com criança”.
A mãe contou que se sente mais segura atravessando a linha férrea a pé em um pequeno caminho nas proximidades da Rua Nossa Senhora Aparecida e que não foi bloqueado. “É um risco, mas é melhor do que ficar esperando o semáforo, atravessar aquele tanto em cima do viaduto e ainda correr o risco de ser atropelada por uma moto em disparada. Eles não obedecem nada e pra mim mudou pouca coisa”, disse.
MORADORES DE RUA
Outro problema relatado pelos moradores é o abrigo construído por moradores de rua sob o viaduto. A moradia improvisada é bem fechada com caixas de papelão, cobertores e paletes de madeira e é ocupado principalmente à noite e em dias mais frios. Não é possível saber o que acontece por trás do papelão. Segundo uma moradora da Rua Lavrador, bem próximo do local, o abrigo existe desde antes da inauguração do viaduto e o temor é que a frequencia aumente e o local se torne ponto de drogas e álcool.
Reportagem flagra festival de infrações no viaduto Delegado Sebastião Biazi
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